Carlos González – jornalista – gonzalezcarlos@oi.com.br

Num entusiasmo incontido, após a vitória de 3 a 1 sobre uma França africanizada (o time gaulês é formado, em sua maioria, por jogadores que não sabem cantar La Marseillaise, pois nasceram em outro continente), Neymar Jr. declarou que o Brasil já superou o trauma da Copa do Mundo de 2014, voltando a praticar o seu melhor futebol. A afirmativa daquele que, no futuro, ao dependurar as chuteiras, abraçará, certamente, de maneira ilegal, a carreira de comentarista esportivo na televisão, foi contestada por mim e, tenho certeza, por aqueles que têm o prazer de acompanhar o futebol na Europa, ou mesmo na Argentina.

Eu gostaria de fazer uma comparação entre o futebol que se pratica lá fora e o que está sendo jogado no Brasil, mas antes devo pedir desculpas aos fãs do axé. Os 90 minutos de uma partida da Copa do Nordeste, da Copa do Brasil, dos campeonatos estaduais e das seleções brasileiras sub 20 e sub 17, primam pela falta de cadência, com um compasso sem alternância tática, onde os instrumentistas desafinam a cada minuto, cometendo faltas – o Brasil hoje pratica o futebol mais violento do mundo – que tiram a beleza do espetáculo. Estamos fartos dessa mesmice. Vamos mudar o canal da TV e fixar nossas vistas sobre os estádios, sempre lotados, da Espanha, Alemanha, Itália e Inglaterra, onde a bola rola no ritmo de uma sinfonia de Beethoven.

Por honestidade profissional tenho que reconhecer que muitos dos músicos dessa inigualável orquestra do Velho Mundo são brasileiros, que atravessaram o Atlântico em busca de dólares e euros, dentre os quais você, Neymar Jr., é o maior destaque, ao lado de Thiago Silva, David Luiz, Marcelo, William, Oscar, além de outros que trocaram de cidadania, como Diego Costa, Thiago Mota e Pepe.

Caro Neymar Jr., suas inúmeras atividades, futebolísticas, empresariais, sociais, amorosas, aliadas às atrapalhadas do seu velho pai Neymar com o fisco espanhol, não lhe permitem acompanhar as peladas do seu país. Convido-lhe para ver como estão maltratando a sua grande amiga, a bola, reforçando esse convite com trechos da carta-samba do tricolor Chico Buarque ao sambista Ciro Monteiro: “Aqui nesta terra estão jogando futebol…muita mutreta para levar a situação…que a gente tá engolindo cada sapo no caminho”.

Nossa média de público nas arenas superfaturadas, transformadas em elefantes brancos, é de 12 mil pagantes, sendo que a de Manaus não chega a 400. O recorde, exaltado pela imprensa esportiva, é de 51 mil espectadores num Vasco x Flamengo, no Maracanã. Esses números estão muito distantes dos 70 mil e 80 mil pessoas que semanalmente lhe aplaudem ou lhe vaiam em Barcelona, Madrid, Valencia, Bilbao, Sevilla e em outras cidades da Espanha.

Ao contestar, Neymar Jr., mais uma vez, a sua declaração, eu lembraria que os cinco títulos mundiais conquistados pelo Brasil não apagaram da memória do torcedor brasileiro o fatídico “Maracanazo” (os 2 a 1 aplicados pelo Uruguai, em julho de 1950). Os 7 a 1 impostos pela Alemanha vão atravessar gerações de brasileiros, e, como acredita a filha do inditoso Barbosa, goleiro de 50, condenado pelo resto da vida, “o meu pai agora pode descansar em paz”.