:: 9/mar/2015 . 23:10
“ESTOU CAGANDO…”
O cara que diz que está “cagando nas cabeças desses cornos” que o acusam é o mesmo que chegou aqui na nau Cabrália em forma de morotó e depois virou bicho grande comedor de onça, lobos, capivara e leão.
É o mesmo cara que rouba a energia e a água do vizinho. É o cara que olha do alto da sua torre de marfim e acha que todos que estão lá embaixo são otários e imbecis. É o mesmo que do alto do seu poder se considera intocável e impune com a missão de até matar, se for possível.
Por este país a fora, é o mesmo que lhe vende um bilhete falso de uma loteria, ou passa o “conto do vigário” para roubar sua bolsa. È também o mesmo que passa irregular num posto da polícia rodoviária dando uma bela gorjeta para o guarda.
É o cara que fura a fila e o mesmo que nela fica para vender o lugar para outro que aceita por entender que é assim mesmo porque o serviço público não funciona a contento e numa vai ter jeito. É o professor ou o médico plantonista que queima o trabalho.
É o mesmo que acredita que não importa roubar, tanto que se faça alguma coisa. É o cara que chama todo mundo de “negada”, de bando, rebanho e outros termos depreciativos. É o mesmo que aceita esta linguagem sem reagir, por considerar que o cara é popular e está ao seu lado para brigar pelos seus direitos.
É o cara que quer levar vantagem em tudo como na “Lei de Gerson” e só se preocupa em se dar bem na vida, mesmo que os meios justifiquem os fins. É o cara que só dar o peixe porque sabe que vai calar a boca do ignorante acomodado que se contenta em ficar na pobreza eterna.
É o Macunaíma, de Mário de Andrade, o Capiroba, de João Ubaldo Ribeiro ou aquela figura de terno e gravata que com sua lábia bonita pronuncia um monte de clichês políticos que impressionam a multidão. É o mesmo que compra e o mesmo que vende o voto por um mísero favor ou uns trocados.
Por tudo isto e muito mais, a situação em que atualmente se encontra o nosso país já era previsível. É o acúmulo de muitos anos de tudo o que não presta. É como uma promissória falsificada que só se descobre a roubada em que se meteu no dia do seu resgate. Não podemos é ser farinha do mesmo saco.
Aí, meu amigo, o cara vai lhe dar uma desculpa qualquer ou lhe dizer que ele também foi enganado e que todo mundo faz assim. Se todos recebem propinas, tudo está justificado. Chegamos ao ponto que não adiante só trocar de patrão se a coloração política ainda é pior. Eles se acham donos de todos nós e vão continuar nos tratando de rebanho.
PEPETELA E A ALMA DE ANGOLA
De Orlando Senna
Blog Refletor Tal-Televísión América
Indicado pelo professor Itamar Aguiar
Angola está celebrando 40 anos de independência, ocorrida em 1975 quando Portugal devolveu a soberania do país aos angolanos, depois de meio milênio de dominação. A construção de uma Angola independente, durante essas quatro décadas, não foi, nem está sendo, nada fácil. Teve de superar uma guerra intestina entre os três grupos armados que lutaram pela independência (MPLA, UNITA, FNLA), que só terminou em 2002, e tentativas de invasão por parte da África do Sul, do brutal regime do apartheid.
O MPLA-Movimento Popular de Libertação de Angola controlou a situação e fixou-se no poder, sob a liderança do poeta Agostinho Neto e pautado pelo marxismo-leninismo, que foi substituído no final da década 1990 por um sistema de economia de mercado e democracia multipartidária. Multipartidária em termos, já que, após a morte de Agostinho Neto em 1979, ocupou o poder o engenheiro José Eduardo dos Santos, que está completando 36 anos como presidente.
Especialistas em política africana dizem que as reeleições se devem ao bom desempenho de Santos na administração das maiores riquezas de Angola, petróleo e diamantes, mas os problemas sociais e econômicos são muitos, além de suspeitas e acusações de corrupção (Isabel dos Santos, filha do presidente, é considerada a mulher mais rica da África). Esse cenário confuso e convulso, com elementos relacionados tanto à ancestralidade (a milenar cultura banto) como à construção de um novo país formado por várias etnias é o tema central da obra de um dos maiores escritores da atualidade, o angolano Pepetela, Prêmio Camões de 1997.
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