:: 18/dez/2014 . 22:40
FERIDAS ABERTAS
Tratava-se de uma guerra, e numa guerra tudo é permitido, inclusive a tortura brutal e desumana para arrancar confissões. As vítimas eram simplesmente “terroristas subversivos e comunistas” que tramaram uma ditadura de esquerda e provocaram atentados com mortes contra a “revolução de 1964”, como assim ainda ensinam nos quartéis e colégios militares.
Estes argumentos e mais outros persistem na voz dos generais da ativa e da reserva, para tripudiar o relatório da Comissão Nacional da Verdade que, na verdade, repetiu muitas coisas já reveladas e foi covarde por não enfrentar a força e os insultos dos militares. Para eles (generais), não existiu golpe civil-militar.
As feridas dos mortos e desaparecidos insepultos continuam abertas porque, como já era previsto, a Comissão que durou quase três anos não tinha o poder de punir os torturadores. Desde a redemocratização com a eleição de Color de Mello (1989) até 2014 (25 anos), os presidentes da República se mostraram politicamente medrosos.
Mesmo que tivesse sido uma guerra (estranha batalha de metralhadora contra estilingue), a tortura, tida pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pela Declaração Universal dos dos Direitos Humanos como crime contra a humanidade, não justificaria.
Ademais, não existem registros de que aqueles que lutaram contra a ditadura e pegaram em armas tenham praticado torturas. Houve mortes nos confrontos, e essa de que as organizações políticas pretendiam instalar no país uma ditadura de esquerda não é também fundamento para anistiar a tortura e os torturadores.
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