” Quanto mais veemente for um prelado contra os gays, quanto mais forte for sua obsessão homofóbica, maior a probabilidade de este não estar sendo sincero e de a sua veemência esconder algo de nós”. Esta frase é do escritor Frédéric Martel, autor do livro “No Armário do Vaticano”, que deve ser lido por todos, especialmente pelos católicos e cristãos.

Não é esta a questão da qual pretendo tratar, mas serve para uma reflexão quando uma pessoa evoca, ou aborda veementemente um determinado tema, como moralidade, democracia, honestidade, ética, combate aos marajás e à corrupção, ou se posiciona tanto homofóbico, xenófobo e racista. Vivemos hoje numa sociedade tão dividida, entre o ódio e a intolerância, que não sabemos mais quem é quem.

FANTASMAS E RACHADINHAS

É um Brasil no divã, onde o psiquiatra dorme de tanto ouvir fatos, declarações e acontecimentos estarrecedores, que não mais estarrecem os brasileiros. Há pouco, o moço Carlos Bolsonaro disse que através da democracia o país não irá resolver seus problemas, insinuando uma intervenção ditatorial pelo governo. Tem muita coisa de podre neste reino.

Será que ele falou isso para esconder seus “fantasmas” que ele emprega em seu gabinete de vereador do Rio de Janeiro, ou melhor, Rio das Tragédias? Com uma ditadura, seus funcionários “fantasmas” não poderiam ser revelados pela mídia. Tudo seria encoberto, como foi durante o regime civil-militar de 1964.

O seu irmão Flávio adota, ou adotava outra prática chamada de “rachadinhas”, quando era deputado pelo Rio de Janeiro (novamente o Rio, que não é mais maravilha). O esquema é bem conhecido e usado no meio político, quando existe uma “combinação” do parlamentar com o seu empregado subordinado para que ele devolva uma parte do seu salário para sua polpuda conta.

Como todo tipo de corrupção, é mais um ato abominável, e mais grave ainda porque ambos são filhos do capitão-presidente, que tanto condenou as maracutaias do governo passado de esquerda, veementemente odiado por eles. Alvos de investigações, tudo estão fazendo para encobrir os malfeitos e confundir a “Justiça”, como a troca de chefias em órgãos estratégicos encarregados de apurações de fraudes e roubos.

IMPUNIDADE E RIO DE TRAGÉDIAS

Como aquela história na cabeça deles, de que ditadura e ideologia só existem de esquerda, o mesmo vale para o caso da corrupção que, se for de direita, o processo deve correr em sigilo. Mais ainda, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que até ontem vagava pelos corredores e camarins do PT, hoje baixa um ato que favorece os advogados do filho do capitão-presidente e de mais de 100 investigados, inclusive um colega seu de toga, É mais musculatura e forças à impunidade, que está ficando obesa na extrema-direita. Basta lembrar que a Operação Lava Jato já se encontra na cabeceira da morte.

E por falar nessa danada da impunidade, monstro horroroso que mais enfraquece o Brasil e à sua já debilitada democracia, nenhum desmatador do meio ambiente e das florestas na Amazônia foi até hoje punido. As multas de milhões (só existem no papel) não são pagas porque as nossas leis foram feitas com ilimitadas brechas para premiar os infratores. Com isso, a injustiça conseguiu ocupar o lugar da justiça, que só existe para o pobre e quem procura andar correto.

Por fim, queria me referir ao nosso Rio de Janeiro, de lindas paisagens, a segunda capital do Brasil, que se tornou, infelizmente, num Rio de Tragédias, a começar pelos últimos governadores (Cabral, Garotinho, Pezão), corruptos declarados, e os desmoronamentos de pontes, prédios, túneis e incêndios, como o mais recente num hospital particular que ceifou a vida de11pessoas idosas.

Até parece uma maldição, porque tudo de ruim vem acontecendo no Rio do desgoverno, onde os milicianos, muitos conhecidos e amigos dos bolsonaros, e os traficantes que lotearam seus territórios, como no Porto de Itaguaí, paraíso dos contrabandistas.

Não se pode esquecer do assassinato da vereadora Marielle Franco que até hoje não se “descobriu” o mandante do cruel crime. Em tudo isso impera a diabólica impunidade. Tem atualmente o Rio um prefeito fanático evangélico que faz de tudo para censurar a cultura e a liberdade de expressão, e um governador que incentiva a matança por parte dos militares, e comemora um tiro certeiro num ser humano (não importa se é bandido) como se fosse um bicho qualquer.