Na Roma Antiga imperava o Panem et Circenses. No Brasil de hoje, dos profundos contrastes sociais, os governos demagógicos seguem linha semelhante, mas sem o pão que alimenta o corpo e a alma. Nesta época do ano as capitais, muitas das quais em estado falimentar, disputam quem dar a melhor e a maior festa com a justificativa de que atraem mais turistas e entra mais dinheiro, só que enriquece os mesmos 10% que detém a maior parte das riquezas.

Na Bahia das festanças todo o ano, por exemplo, o Neto ACM imita o avô na demagogia e estende um Réveillon por inacreditáveis cinco dias de farras e sua mídia o exalta como a maior Virada do Ano do país, quiçá do planeta. Aqui tem ainda a rivalidade acirrada entre prefeito e governador para ver quem faz mais muvuca, tudo de olho nas próximas eleições. A plebe cai dentro e aplaude, sem pensar e sem refletir.

Fora as festas de largo, aniversário da cidade e outras batucadas por aí nos feriadões, que são abundantes, no carnaval tem mais uma semana com tudo parado. Em Salvador, os gastos públicos com o Festival da Virada devem ficar em torno de R$12 milhões, além da contrapartida do investimento privado que recebe benefícios fiscais. Espera-se a presença de dois milhões de pessoas.

A mídia submissa que faz o seu papel de bobo da corte com suas reportagens fúteis e alienadas, a tudo se cala porque também recebe o seu quinhão na parte que lhe cabe. Tudo pelo divertimento desmedido num país pobre, com o argumento fajuto de que se está gerando mais renda e emprego. É o dinheiro do contribuinte engrossando a concentração de renda nas mãos de poucos, mas, ninguém vê isso. Infelizmente, a visão é curta porque a mente é inculta.

No Rio de Janeiro falido, os noticiários que vêm de lá são por demais ufanistas de que o Réveillon da capital é o maior do mundo, com tecnologia de queima de fogos de artifícios de primeira geração. Eles falam com orgulho, e os brasileiros do país da corrupção se sentem reconfortados. Esquecem da miséria e dos milhares de servidores públicos que estão com seus salários atrasados e ainda não receberam nem o 13º do ano passado.

Por que esses demagogos não fazem uma “briga” para ver quem oferece a melhor educação, quem tem os hospitais mais bem equipados e quem apresenta os menores de índices de violência do país? Quanto a estes itens obrigatórios pela Constituição, para reduzir as desigualdades sociais, eles não priorizam pela simples razão de que não dão voto.

Educação, saúde, segurança, saneamento básicos, habitação são todos pães que alimentam a alma humana e fazem com que a pessoa cresça e progrida na vida. Aqui, em nossa nação, a grande maioria não tem em quantidade suficiente nem o pão material. Portanto, o que temos é o circo sem pão, isto em todos os sentidos.

Os Césares da Antiga Roma construíam grandiosos coliseus e neles jogavam gladiadores para se matarem. Das arquibancadas, o povo vibrava, participava ativamente das festas de matanças com muito sangue e ainda desejava vida longa ao imperador. Há muita semelhança com o nosso circo, sem pão.