O PONTEIRO E A MORTE
Poema do jornalista Jeremias Macário
macariojeremias@yahoo.com.br
No seu solitário espaço,
o ponteiro do relógio
avança como um arqueiro,
marcando todo nosso passo
nesse percurso traiçoeiro
do caminhar passageiro.
O ponteiro roda, roda…
e o tempo passa tic-tac, tic-tac…
pacientemente, sem correr,
e o tempo mais uma vez roda,
sem a pressa do apressado ser.
A distância vai reduzindo
da saída ao lugar de destino,
fazendo sua parada na tenda,
cada um faz seu rito peregrino,
ora chorando, triste ou rindo,
na procura da sua comenda.
Nas tempestades e bonanças,
nos abrigos para descansar,
das fatigantes andanças;
nas curvas, retas e cruzadas,
o ponteiro vai continuar lá,
para marcar tic-tac, tic-tac…
e depois em silêncio avisar,
que a sua hora vai chegar.
Não adianta tentar enrolar;
viver como um sideral;
se esconder na China ou Bagdá;
desprezar que existe um final,
o ponteiro vai girar incansável,
no ritmo do tic-tac, tic-tac…
alertando saque, saque,
não compre tick de embarque
nessa onda do insaciável,
de mais ouro e mais capital,
nesse mercado de vendaval.
As cordas podem até arrebentar;
os ponteiros pararem de rodar,
mas o tempo não larga seu cajado,
e o homem escravo vai até lá
acertar o ponteiro atrasado,
para servir a vontade do seu Alá.
À meia-noite para para badalar,
com toda força do seu pulmão,
nas catedrais monumentais,
ou no velho casarão do lar,
assustando o sono do ancião,
para recomeçar tic-tac, tic-tac…
no templo da vida do Deus dará.
Um ponteiro conta o segundo,
na marcha do tic-tac, tic-tac…
como alma imortal do mundo;
o outro troca de minuto,
fazendo sua ritual travessia;
e o terceiro aponta a hora,
no visceral da lida de todo dia,
e assim o tempo vai embora.
Para quem rir ou até chora,
da conversa do caçador,
ou do pescador e vendedor;
do vigor ou do coma terminal,
o tic-tac repete a sua sonora,
mas faz-se de mouco o imoral.
Quando o dinheiro é religião,
quando sua força é a espora,
quando se fomenta a mentira,
e do pobre se rouba o tostão,
em nome do céu e do inferno,
e só se pensa no aqui e agora,
a vida fica sem sul e sem norte,
na cegueira de que tudo é eterno,
e se esquece que existe a morte.











