LEMBRANÇAS DO TREM
Poema do jornalista Jeremias Macário
Foi-se o tempo de menino,
espiando o telegrafista,
com batidas de artista,
mandar tocar o sino,
como se fosse um hino,
pra lembrar aos viajantes,
que em poucos instantes,
vai ter máquina na pista.
Lá vem o trem a se arrastar,
nas serras diamantinas,
como cobra a deslizar,
por entre as colinas.
Lá vem o trem roncando,
com suas patas de ferro,
levando usinas de sonhos,
nas cabeças dessa gente,
soltando o seu berro,
e avançando imponente.
Lá vem o trem groteiro,
pelas esquinas do sertão,
no seu traço rotineiro,
picado lento e ligeiro,
parando nas estações,
como fazia o tropeiro.
Lá vem o trem das matinas,
de janelas sem cortinas,
no seu balanço manso,
apitando pra avisar,
que logo vai parar,
na Estação de Paiaiá.
Lá vem o trem penitente,
puxando a sua corrente,
nos trilhos do dormente,
como um rezador,
que vai curando a dor
da alma do doente.
Lá vem o trem lembrança,
dos dias que era criança,
matando minha saudade,
de no embalo a pongar,
e mais adiante se soltar,
pra na linha caminhar,
vendo o meu trem sumir
no horizonte de lá,
e noutra cidade chegar.
Em sua última viagem,
o trem partiu para o além,
e levou a minha bagagem,
ficando só na mente,
a marca daquela fumaça,
na minha cinzenta vidraça
Lembrança da valente,
Piritiba de toda gente;
do sábado de feirante;
do poema cortante;
do poeta Aragão,
que mistura pavio,
mandioca com feijão,
e ainda nos dá razão,
pra xingar de delinquente,
o governo indecente,
que deixou esse vazio,
do nascente ao poente.











