Se ainda resta a Tiago Melo um pouco de dignidade, ele deve passar a um companheiro a braçadeira de capitão da seleção brasileira. A sua reação antes da cobrança dos pênaltis contra o Chile (chorar compulsivamente, afastar-se dos demais jogadores e pedir para não fazer parte da lista de cobradores dos tiros livres) foi vergonhosa, podendo ser comparada ao do comandante do transatlântico Costa Concordia, que naufragou no Mediterrâneo, em janeiro de 2012, o italiano Francesco Schettino, flagrado abandonando a embarcação antes dos passageiros.

Outros jogadores se deixaram contaminar pelas lágrimas de Tiago, como o veterano goleiro Júlio César e o atacante Neymar, novo censor da imprensa – acaba de suspender, através de medida judicial, a circulação da “Playboy”, por estampar fotos nuas de uma  ex-namorada. O jogador do Paris Saint Germain não fez jus a alguns zagueiros que exerceram o posto no passado, como Bellini, Mauro e Carlos Alberto.

Crítico da psicologia no campo esportivo, o técnico Felipão fugiu um pouco do estilo indelicado que o caracteriza, e concordou em convocar um profissional especializado e colocar os seus jogadores no divã. Na verdade, eles estão preocupados em perder o “bicho” de R$ 1,1 milhão, uma das preocupações do Tiago Melo antes da Copa.

Eu já havia comentado neste espaço, antes de começar o Mundial, que forças políticas poderosas e a própria FIFA iriam trabalhar pelo hexa. Depois do pênalti inventado pelo árbitro no jogo Brasil x Croácia, o ambiente de desconfiança toldou alguns jogos, como Camarões x Brasil e Camarões x Croácia. “Sete maçãs podres”, segundo dirigentes camaroneses, são suspeitas de terem recebido muitos dólares de apostadores internacionais. Um dos africanos, Alex Song, forçou a expulsão no primeiro tempo da partida contra os croatas; um outro, Eto’o, principal nome do time, veio ao Brasil apenas fazer turismo.

A quase desclassificação do Brasil diante do Chile causou um rebuliço na sede provisória da FIFA, nas dependências luxuosas do Copacabana Palace. Todo o “staff” de Joseph Blatter abandonou seus afazeres para acompanhar, fazendo orações, a cobrança de pênaltis. O mais nervoso era Julio Grondona, vice-presidente da organização e, pasmem, presidente da Federação Argentina de Futebol.

Um jornal britânico questionou a ausência de pretos e pardos nas arquibancadas dos estádios que estão sediando a Copa do Mundo. As imagens mostradas pelas câmeras escondem a miscigenação do povo brasileiro. Os únicos não-brancos nas arenas são os torcedores das seleções africanas e os seguranças. Abro um parêntesis para citar Pelé,  no Itaquerão, na partida Argentina x Suíça, visivelmente agastado com os cânticos entoados pelos “hermanos”, exaltando Maradona.

O torcedor da periferia das cidades não foi visto nos estádios porque os preços cobrados só cabem no bolso das classes “A” e “B”. Esse fato tem mais uma agravante: uma quadrilha, chefiada por um argelino, especializada em venda de ingressos no câmbio negro, foi presa no Rio. Seu faturamento era de R$ 1 milhão por dia. Os bilhetes, segundo as autoridades policiais, eram fornecidos pela própria FIFA e pela Comissão Técnica da seleção brasileira. Devem ser aquelas entradas prometidas aos sem (teto e terra) e aos beneficiários do Bolsa Família.