Carlos Albán González – jornalista

Silenciosamente, longe da “curiosidade” da imprensa, Carlos Arthur Nuzman cumpriu anteontem (dia 4), apesar das críticas, das denúncias de corrupção e de uma doença degenerativa, originária no seu sistema nervoso central, o que havia prometido: reeleger-se para o sexto mandato consecutivo na presidência do Comitê Olímpico Brasileiro. O carioca, de 74 anos, deverá completar no final do quadriênio 25 anos à frente do COB, passando por cima da legislação que limita o número de mandatos em entidades esportivas.

Candidato único, Nuzman foi reeleito por um colégio eleitoral formado por 29 membros – a imensa maioria participou dos pleitos anteriores –, sendo 26 presidentes de confederações, além dele próprio e dos seus principais assessores, André Richer e Bernard Rajzman, ex-atleta do vôlei. Recebeu 24 votos a favor, um contra, um nulo e três abstenções.

O voto contrário foi dado pelo presidente da Confederação de Tênis de Mesa, Alaor Azevedo, que, logo depois dos Jogos da Rio 2016, anunciou sua candidatura. Sem o apoio de 10 confederações, como exigem os estatutos do COB, além de não ter conseguido na Justiça adiar a eleição, foi alijado pelas liminares obtidas pelo “cartola” vitalício. Estiveram ausentes os representantes das confederações de taekwondo, de tiro com arco, de desportos no gelo e de desportos na neve. O presidente da Comissão de Atletas, o ex-jogador de vôlei de praia e medalhista de ouro em Londres 2012, Emanoel, também não compareceu, mas declarou seu apoio a Nuzman.

Para não deixar de “jogar confete” em si próprio, Nuzman lembrou o trabalho realizado no COB, “que tinha quando assumi apenas oito funcionários e as luzes eram mantidas apagadas por economia”. Revelou a intenção de se candidatar a um sétimo mandato após os Jogos de Tóquio 2020, ou então à Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). Seu novo vice-presidente é Paulo Wanderley Teixeira, mandatário da Confederação Brasileira de Judô (CBJ).

Atletas apreensivos 

No ato de posse Nuzman não falou sobre o futuro do esporte olímpico e nem sobre as denúncias de irregularidades no COB e em algumas confederações. Entre os atletas com chances de integrar a delegação do Brasil à Olimpíada de Tóquio há sinais de preocupação. O governo Temer ainda não se manifestou sobre a política para o esporte.

O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, depois de suspender um repasse de R$ 150 milhões a entidades ligadas ao esporte, voltou atrás, declarando à imprensa que a intenção do governo é manter os investimentos públicos para a preparação dos atletas para os próximos Jogos, ressaltando a necessidade de que “a economia cresça para que possamos investir”. Na oportunidade, Picciani cobrou melhores resultados do time olímpico.

O Bolsa Pódio, criado pelos governos petistas, foi um dos vetores do programa de investimentos que aportou mais de R$ 3 bilhões de recursos públicos e das estatais para o esporte olímpico, de 2012 a 2016. O valor foi 50% maior do que o aplicado no ciclo olímpico passado, de 2008 a 2012. O resultado no quadro de medalhas – 13º lugar – ficou muito aquém do previsto.

O orçamento do Ministério do Esporte vai passar de R$ 1.72 bilhão em 1916 para R$ 960 milhões em 2016. Uma das alternativas do seu Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) será pedir a ajuda do Ministério da Defesa. As Forças Armadas tiveram um papel importante no êxito dos brasileiros que ganharam medalhas na Rio 2016. As três organizações militares mantêm 627 atletas de alto rendimento. O custeio salarial anual de soldados, cabos e 3º sargentos, engajados por oito anos, chegará este ano a R$ 15 milhões. 

Prevendo tempos de “vacas magras”, o boxeador baiano Robson Conceição, medalha de ouro no Rio, decidiu se profissionalizar. No meio das comemorações, em Salvador, ele se queixou de que o prêmio recebido do COB foi de R$ 35 mil, enquanto Neymar e seus companheiros do futebol, incluindo a comissão técnica, ganharam da CBF R$ 500 mil cada.

“Os atletas que, como nós, têm patrocínio pessoal, não sofrem tanto. Mas outros precisam de dinheiro para pagar contas, comprar quimonos e suplementos alimentares. Quem sobe ao pódio tem  mais visibilidade, preocupando-se apenas com o treinamento. Não é por acaso que os países que mais investem têm mais medalhas”, ponderou a judoca baiana Rafaela Silva, medalhista de ouro.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, teve um encontro com os atletas patrocinados pela estatal (judocas Rafaela Silva, Rafael  e Mayra Aguiar; Isaquias, da canoagem; Maicon, do taekwondo; Fernando Reis, do levantamento de peso; Flávia Saraiva, da ginasta; Larissa e Talita, do vôlei de praia; e os paraolímpicos Daniel Dias e Verônica Hipólito). Eles ouviram palavras de agradecimento e incentivo, mas nem uma palavra sobre aporte de recursos para o próximo ciclo olímpico. Parente se referiu à crise que a Petrobras vive desde 2014, por força das investigações da Operação Lava Jato.

Já o presidente dos Correios, Guilherme Campos, que tenta cobrir um rombo de quase R$ 2 bilhões, herdado de administrações anteriores, reuniu os mandatários das confederações de esportes aquáticos, tênis e handebol, para tratar dos contratos de renovação de patrocínio, Campos foi lacônico: “Apresentem projetos com valores inferiores aos atuais, para avaliação pela empresa”.