O ORGULHOSO PRESIDENTE DO COB
Carlos Albán González – jornalista
A avalanche de críticas que recebeu nas últimas semanas não mudou o tom ufanista e nem os exageros cometidos pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, nos pronunciamentos feitos durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro. Esquece o dirigente, que se encontra há 21 anos no cargo e se prepara para permanecer até 2020, apesar da saúde abalada, que o Brasil, nos dois eventos, não atingiu o número de medalhas previsto pelos organizadores. Sua posição no ranking olímpico foi inferior ao registrado nos Jogos de Londres 2012, mesmo tendo o apoio do público, da participação de um número recorde de atletas, da ausência dos russos (segundo lugar na Paraolimpíada de Londres), e, principalmente, dos bilhões de reais investidos.
“Realizamos os Jogos mais econômicos da história”; “nenhuma cidade mudou tanto como o Rio nos 120 anos das Olimpíadas da era moderna”; “verba de estatal não é dinheiro público”; “o mundo foi contagiado pela paixão dos cariocas e dos brasileiros, o que muito nos orgulha, inclusive a mim, pessoalmente”.
A organização das duas competições consumiu R$ 9,14 bilhões, distribuídos entre o Comitê Olímpico Internacional (COI), União, estado e município fluminenses, estatais e patrocinadores, incluindo um aporte extra da Petrobras de R$ 200 milhões para cobrir despesas de alimentação dos atletas paraolímpicos, cuja participação nos Jogos esteve ameaçada de cancelamento.
Em 2009, a economia do país atravessava um período de calmaria. Membro da comitiva do presidente Lula, que esteve em Copenhague para ouvir do COI o anúncio do Rio como sede dos Jogos de 2016, Nuzman apresentou um orçamento de US$ 2,6 bilhões, equivalente na época a R$ 4,52 bilhões. Nos sete anos que se seguiram, a economia brasileira foi convulsionada pelos escândalos financeiros e pela construção superfaturada dos estádios para uma Copa do Mundo altamente deficitária. Com a variação do câmbio da moeda americana, os números levados à reunião do COI por Nuzman representam hoje R$ 9,14 bilhões.
O Criador privilegiou o Rio de Janeiro. Sem dúvida, por seus encantos naturais, é a cidade mais bela do mundo. Poderia estar no ponto mais alto da pirâmide turística, se fatores, como a violência, a poluição e os maus governos, não contribuíssem para sua desfiguração no exterior. É evidente que, turistas e atletas que estiveram em agosto e neste mês se despediram com saudade da Cidade Maravilhosa, e devem ter prometido voltar.
Barcelona, meu caro presidente eterno do COB, era uma cidade marginalidade em termos urbanísticos, pelo fato da Catalunha ter se oposto ao governo ditatorial de Francisco Franco, de 1939 a 1976. Os Jogos de Barcelona 1992 deram um extraordinário desenvolvimento à cidade, tornando-a uma das dez mais visitadas do mundo. Permita-me, pois, discordar, da alusão às mudanças que os Jogos trouxeram ao Rio, que já era e “continua lindo”, como cantou Gilberto Gil.
O orgulho não é somente seu, presidente vitalício do COB. Todos nós, brasileiros, estamos orgulhosos com a ótima organização dos dois grandes eventos esportivos, com destaque para o trabalho dos voluntários. Não poderia deixar de destacar o brilhantismo das cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada e Paraolimpíada, estas, sim, podem ser classificadas como as mais bonitas em 121 anos dos Jogos. Vale ressaltar que, o esquecido Nordeste brasileiro, foi mostrado, em expressões folclóricas e musicais, para o mundo todo. A única nota destoante nos shows realizados no Maracanã foram as vaias à sua pessoa, ao presidente Michel Temer e ao prefeito do Rio, Eduardo Paes.
Só temos a lamentar a morte trágica do ciclista iraniano Bahman Golbamezhad, de 48 anos, durante uma prova de estrada. Veterano de guerra, Bahman perdeu uma perna aos 20 anos de idade, ao pisar numa mina, combatendo pelo seu país contra o Iraque. Veio perder a vida fazendo o que mais gostava, o ciclismo, depois de tentar a luta greco-romana e o levantamento de peso. Casado com uma jogadora de basquete paraolímpica, Bahman deixou dois filhos. O público presente no domingo ao Maracanã lhe prestou uma homenagem, com um minuto em silêncio.
China e Ucrânia surpreendem
“De onde saiu esse chinês”, exclamou, surpreso, o nadador brasileiro paraolímpico Daniel Dias, ao notar que havia perdido uma medalha de ouro, considerada uma “barbada”, como se diz na gíria esportiva. China e Ucrânia juntas conquistaram mais da metade das medalhas distribuídas no Parque Aquático, sendo que o país asiático também faturou muitas medalhas no atletismo.
A derrota de Daniel para Junsheng Li provocou uma reação insólita do presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, Andrew Parsons: “A China “esconde” seus melhores atletas, afastando-os de competições de pouca importância, liberando-os apenas para os jogos olímpicos. É uma estratégia que deveria ser analisada pelo Comitê Paraolímpico Internacional (IPC)”
Em conferência de imprensa, o presidente do IPC, Sir Philipe Craven disse que alguns países pediram mais transparência no processo de classificação e até nos programas de controle e combate ao doping. O dirigente afirmou que a demanda será analisada e, se necessário, levada adiante.
O “choro” isolado de Parsons não se justifica: a China foi a primeira colocada nos três últimos Jogos Paraolímpicos. Somente agora, depois que os orientais conquistaram um total de 239 medalhas, sendo 107 de ouro, ele vem procurar desqualificar a vitória de um país. Ele devia tentar mudar os critérios estabelecidos para nadadores amputados, com paralisia cerebral e deficientes visuais. Assisti provas em que Daniel, que consegue movimentar os dois braços atrofiados, nadando ao lado de adversários sem os membros superiores, usando apenas o tronco.
Quem mais podia reclamar de ter que ouvir o hino nacional da China dezenas de vezes não deu importância ao fato. “Estou feliz. Foram os melhores dias de minha carreira esportiva, somente pelo fato de ter competido diante de minha família e da torcida do meu país. Meu objetivo era subir no pódio nove vezes, independente da cor da medalha”, confessou o maior atleta paraolímpico brasileiro, detentor de 24 medalhas (14 de ouro, sete de prata e três de bronze), desde Pequim 2008. No último dia de competições, o paulista Daniel Dias, 28 anos, superou o nadador australiano Matthew Cowdrey, que era o recordista paraolímpico..











