POUCAS MEDALHAS E MUITO OBA-OBA
Carlos González – jornalista
As autoridades governamentais e esportivas procuram mostrar, com argumentos pífios, que o 13º lugar do Brasil nos XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna, com sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze, foi um sucesso. Em casa, incentivados por uma plateia que desrespeitou todos os manuais de boa convivência com os visitantes, respaldados por recursos que, se apurados devidamente pelos tribunais de contas e ministério público, podem chegar aos R$ 3,68 bilhões, nossos atletas mostraram que o país está muito longe de ser uma potência olímpica.
O ministro do Esporte, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), ex-aliado da presidente afastada Dilma Rousseff, declarou que “número de medalhas não é parâmetro para avaliar o desempenho dos nossos atletas”, comparando os resultados do Rio2016 com os de Londres 2012 e Pequim 2008.
Alçado ao cargo por motivos político-partidários e leigo em matéria esportiva, como os seus últimos antecessores, Picciani, provavelmente, não tem observado a disputa que se trava, de quatro em quatro anos, entre as grandes potências olímpicas, como Estados Unidos, Rússia (antes União Soviética), China, Alemanha, Austrália e Coréia do Sul, pela hegemonia do esporte no mundo.
Já o vitalício presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, mostrando, durante a cerimônia de encerramento dos Jogos, sinais de instabilidade emocional e procurando esconder uma doença nervosa progressiva, atribuiu a si mesmo, num cansativo discurso, o que ele admite como sucesso do megaevento. “Sou o homem mais feliz do mundo; o Rio é o melhor lugar do mundo”, bradou o ufanista dirigente, pintando a nossa bandeira de “red e yellow” (vermelho e amarelo), com o pensamento, talvez, voltado para os símbolos petistas.
No dia seguinte, ainda impregnado de orgulho, Nuzman, 74 anos, declarou à imprensa que “dinheiro de estatal não é verba pública”; recusou revelar suas fontes de renda e negou receber salário do COB; admitiu permanecer por mais alguns anos no cargo, “pois não me considero longevo”.
Um grupo de oito diretores do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, presidido por Nuzman, não tem do que se queixar. De 2011 a 2015, eles receberam, a título de salários, R$ 26,8 milhões, além de R$ 24 milhões para viagens, nos últimos dois anos. Os valores constam do balanço oficial do organismo. De tanto se queixar do rombo deixado pelo megaevento, o Comitê conseguiu na semana passada uma verba extra da União de R$ 250 milhões, que, pelo menos, vai garantir a comida dos atletas das Paraolimpíadas (7 a 18 de setembro), que estiveram ameaçadas de cancelamento.
Somando todos os investimentos feitos ao COB, calcula-se que cada medalha ganha pelos brasileiros teve um custo de R$ 194 milhões. Cada atleta que subiu ao pódio, independente da cor da medalha, tem a promessa do organismo de receber uma gratificação de R$ 35 mil; os jogadores de vôlei, R$ 17 mil; e os milionários futebolistas, R$ 400 mil, “bicho” que será pago pela CBF.
Nos Jogos do Rio, 358 dos 465 atletas brasileiros receberam apoio direto do governo através do Bolsa Atleta, com valores mensais entre R$ 925 e R$ 15 mil. O gasto total para este ano é de R$ 80 milhões. Além desse incentivo, 145 atletas que participaram das competições integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas. Durante oito anos eles vão receber soldos – soldados, cabos e 3º sargentos – que podem chegar a R$ 3.200. Esses militares temporários ganharam 14 medalhas. A previsão orçamentária do programa para 2016 é de R$ 43 milhões.
O crescimento do Brasil olímpico foi tímido e desproporcional aos investimentos feitos. Dentre as 42 modalidades esportivas em disputa, ganhamos medalhas apenas em 12 – atletismo, boxe, canoagem, taekwondo , tiro, maratona aquática (Poliana Okimoto ficou com o bronze com a desclassificação, na chegada, de uma nadadora francesa), vôlei, vôlei de praia, futebol, ginástica artística, judô e vela.
Para por um fim no oba-oba da “cartolagem” pesquisei os quadros de medalhas das dez últimas edições das Olimpíadas. Em todas elas, os países/cidades, com exceção da Grécia, cuja economia se arruinou após os Jogos de 2004, ficaram entre os dez primeiros colocados, meta que o COB previu e não alcançou.
1980 – Moscou – 1º – 80 medalhas de ouro; total de 195.
1984 – Los Angeles – 1º – 83 e 174.
1988 – Seul – 4º – 12 e 33.
1992 – Barcelona – 6º – 13 e 22.
1996 – Atlanta – 1º – 44 e 101.
2000 – Sidney – 4º – 16 e 58.
2004 – Atenas – 15º – 6 e 16.
2008 – Pequim – 1º – 51 e 100.
2012 – Londres – 3º – 29 e 65.
2016 – Rio – 13º – 7 medalhas de ouro; total de 19.











