NOTAS SOBRE AS OLIMPÍADAS – II
Jornalista Carlos Gonzalez
- Dois atletas baianos ganharam as primeiras medalhas de ouro para o Brasil nos Jogos Rio2016, o pugilista Robson Conceição e o canoísta Izaquias Queiroz, que também faturou um bronze. Ambos têm suas raízes em comunidades pobres. Natural de Ubaitaba, no sul do estado, Izaquias perdeu um rim em consequência de uma queda. Robson é o autêntico boxeador brasileiro, com uma baixa instrução. Empolgado com a conquista, hoje o ídolo de Boa Vista de São Caetano não se separa da medalha um só instante. Exigiu festa, mocotó no jantar e desfile em carro do Corpo de Bombeiros na chegada a Salvador. “Baiano já faz festa, mesmo sem motivo”, comentou o jornalista Ricardo Boechat, no jornal que apresenta na Bandnews.
- O clima provocado pelos torcedores no Engenhão durante a disputa final do salto com vara para homens foi comparado pelo atleta francês e recordista mundial, Renaud Lavillenie, ao do estádio olímpico de Berlim, por ocasião dos Jogos de 1936. Há 80 anos, o negro norte-americano Jesse Owens conquistou, debaixo de vaias, quatro medalhas de ouro, derrubando com a concepção nazista da superioridade ariana, pregada por Adolf Hitler, que se recusou a apertar a mão do vencedor. Os apupos nas competições da Rio2016 têm sido uma tônica, condenada pelo COI e pela imprensa internacional. Lavillenie atribuiu as manifestações da torcida à perda da medalha de ouro para o brasileiro Thiago Braz da Silva. O técnico francês Philippe d’ Encausse foi mais adiante, sugerindo que o paulista de Marília tinha feito um pacto com forças sobrenaturais, místicas, provavelmente do candomblé; que o Brasil é um país bizarro, que estava passando uma péssima imagem dos Jogos; e que a torcida se comportava como se estivesse num campo de futebol.
O fato de ter sido ajudado pelos orixás, como acreditou os franceses, Thiago Braz chegou a ser chamado de baiano. Abandonado pelos pais aos dois anos de idade, – “já os perdoei” – o recordista olímpico do salto com vara nasceu em Marília, São Paulo, tentou o basquete e o futebol antes de ser incentivado pelo tio a praticar o atletismo, optando por uma modalidade das mais difíceis, o salto com vara. Thiago e Renaud estavam há algum tempo com as relações estremecidas, que se agravaram na briga pelo ouro. O francês voltou a ser vaiado na cerimônia de premiação, chorando durante a execução do hino nacional brasileiro. Coube a uma das lendas do esporte, o russo Sergei Bubka, a promover a paz entre ambos.
O salto com vara continua em evidência: sem a presença no Rio da musa russa, recordista mundial e bicampeã olímpica, Yelena Isinbayeva, era a oportunidade para que a brasileira Fabiana Murer ganhasse o ouro. Diante de milhares de torcedores, Fabiana “amarelou” mais uma vez, não passando da fase de classificação. Nos Jogos de Pequim 2008 ela se queixou da perda de sua vara preferida; em Londres 2012 foi o vento que atrapalhou. E no Rio, Fabiana? Agora, com que cara você vai encarar seus patrocinadores e torcedores?
Convidado para assistir aos Jogos do Rio, o fundista etíope Haile Gebrselassie, campeão olímpico nos 2.000 metros, em Atlanta 1996 e Sidney 2000, e nove vezes campeão mundial, disse uma verdade: “O Brasil não forma atletas de ponta em esportes individuais porque os garotos daqui só pensam em futebol; querem se tornar outro Neymar. Na Etiópia e no Quênia, as crianças, desde os três anos, vivem sempre correndo, razão pela qual os dois países têm produzido centenas de atletas especializados em maratonas e provas de fundo”. Acrescentaria ao comentário de Haile: o brasileiro quando começa a chutar uma bola pensa logo numa transferência para o exterior, onde dólares e euros têm mais valor.
“Meu companheiro, meu amigo”, referiu-se a amazona holandesa Adelinde Cornelissen ao cavalo Parzival, sua montaria nas competições de hipismo desde as Olimpíadas de Londres 2012, quando ganhou medalhas de prata e bronze. Picado por um inseto o animal adoeceu, mas foi liberado pelos veterinários para participar das provas de adestramento. Adelinde, no entanto, desistiu de montar para não prejudicar a saúde do seu “amigo”.
Uma história emocionante e de superação protagonizou o velejador argentino Santiago Lange. Aos 54 anos competiu na sua quinta olimpíada, conquistando o ouro na disputa da classe Nacra 17, ao lado de Cecília Carranza Saroli, 29. Em setembro de 2015 ele teve que retirar parte de um pulmão por causa de um câncer. A vitória foi efusivamente comemorada num trecho da Praia do Flamengo, no Rio, por dezenas de “hermanos”, inclusive os filhos do campeão, Klaus e Yago, que também fazem parte da equipe de vela argentina.
Celeiro de mesa-tenistas, a China, nos últimos anos, tem “exportado” alguns dos seus melhores jogadores para diversos países, inclusive o Brasil. Muitos deles, naturalmente naturalizados, estão no Rio competindo sob outras bandeiras.











