UMA OLIMPÍADA DE INCERTEZAS
Carlos González – jornalista
“O Brasil vive um momento mágico, com uma economia pujante. Damos todas as garantias possíveis para os Jogos. Aprendemos a cumprir nossos compromissos, porque precisamos mostrar ao mundo que o Brasil se tornou uma nação desenvolvida”. Essas palavras foram ditas, com um entusiasmo incontido, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Copenhague, na Dinamarca, no dia 2 de outubro de 2009, após o Comitê Olímpico Internacional (COI) ter anunciado a escolha do Rio de Janeiro como sede dos XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Quase nove anos depois o mundo olímpico encara os Jogos que serão disputados este mês com um misto de incertezas e preocupações. O Brasil vive uma crise econômica, política e social sem precedentes, obrigando o COI e suas federações filiadas a mudar os seus planos, inclusive em relação ao futuro, a fim de não cometer o erro de 2009, quando indicaram o Rio, em detrimento de Madrid, Tóquio e Chicago.
Um país com dois presidentes, com o processo de impeachment de um deles em tramitação no Senado; políticos, empresários e governantes citados diariamente pela imprensa, acusados de corrupção em operações do Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário; casos de doenças como a zika e a dengue, que levaram muitos atletas a não vir ao Brasil; denúncias de desvio de recursos destinados à construção dos equipamentos esportivos e às obras de mobilização urbana; ingressos para as competições encalhados devido aos altos preços; as populações mais pobres protestando contra os bilhões gastos no Rio, exigindo escolas, saúde e segurança, em várias cidades por onde passou a tocha olímpica.
Em resumo: a pauta da imprensa nacional e internacional, com exceção da Globo, que detém os direitos de transmissão do evento, direcionada para a Rio 2016, é preenchida pelo zika vírus, a crise financeira, instabilidade política, dúvidas sobre a segurança, poluição da Baía da Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, atrasos em obras e corrupção.
Receando que a imagem do COI fique manchada depois da Rio 2016, como se deu com a FIFA após a Copa do Mundo de 2014, o seu presidente, o alemão Thomas Bach pediu que a comunidade olímpica internacional abra mão das exigências e desembarque no Rio com espírito esportivo, alertando que o evento não terá o mesmo brilho dos Jogos de 2008 e 2012, realizados, respectivamente, em Pequim e Londres.
Os dirigentes ouviram o recado, mas alguns não deixaram de responsabilizar o COI por ter tomado em 2009 uma decisão política. “O Rio tinha uma das candidaturas mais fracas, mas ficou com os Jogos. O Brasil deveria se concentrar em resolver seus problemas sociais e combater a corrupção. A Olimpíada não vai ajudar”, escreveu o colunista alemão Jens Weinreich.
Os números são questionáveis, com0 também são discutíveis até hoje os relativos ao Mundial de 2014. Fala-se em 400 a 500 milhões de reais o rombo que será deixado pela Rio 2016. O Comitê Organizador tentou um alívio esta semana junto à Petrobras, estabelecendo uma ajuda extra de R$ 70 milhões, transformados em combustível para abastecer os 4 mil veículos que servem aos Jogos. A empresa petrolífera negou, alegando, por motivos que são do conhecimento de todo brasileiro, que um mendigo não deve pedir esmola a outro mendigo.
Nos últimos anos, além da Petrobras, empresas e bancos estatais têm dado uma enorme colaboração financeira ao esporte brasileiro. Da relação constam o Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa Econômica, Correios, Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, Infraero e Eletrobrás. Algumas dessas estatais estão em situação de insolvência, como os Correios, que, num passado recente, figurava numa lista das empresas com maior credibilidade no país. Atualmente, nas mãos dos políticos – é um feudo do PDT-, está sufocada por uma série de escândalos financeiros, sendo o maior deles o rombo do Postalis, o plano de previdência privada dos seus funcionários, avaliado em R$ 6 bilhões, que deve ser coberto pelos carteiros e demais ecetistas.
Concluindo, gostaria de registrar uma medida tomada pelos japoneses, que vão sediar os Jogos de 2020. Atendendo a um clamor popular, o governo reduziu de 252 bilhões de ienes (R$ 7,44 bilhões) para 155 bilhões de ienes (R$ 4,57 bilhões) o custo do principal estádio que será construído em Tóquio para a XXXII Olimpíada.











