Do livro de Simon Sebag Montefiore

No final de 1940 mandou Molótov, seu ministro do Exterior para Alemanha. Conversou com Hitler que o advertiu de que a Rússia estava muito ambiciosa e reunindo muitas tropas no leste europeu. Desconversou de que era coisa pequena de treinamento.

Como não era nada besta, Hitler baixou a Diretiva número 18 colocando a invasão contra a Rússia no topo da sua agenda. Logo depois veio a Diretiva 21, a chamada “Operação Barbarosa”. Os grandes generais Jdanov e Jukov advertiram que Hitler ia atacar, mas o líder não acreditava.

Com seus exércitos despreparados e uma força aérea onde seus aviões só caiam, Stálin chegou a declarar que a União Soviética só teria condições de enfrentar a Alemanha em 1943, mas Hitler já atraia para seu campo a Bulgária, a Romênia e a Iugoslávia. Do outro lado, o líder russo achava que a Inglaterra estava armando uma cilada contra seu país.

Em meio a tantas desavenças e traições na corte, um oficial da aeronáutica depois de tomar umas e outras vodcas apimentadas disse na cara de Stálin que ele estava obrigando os soldados a voarem em caixões. “Você não deveria ter dito isso”. Não durou muito para ser preso, torturado e fuzilado.

O cerco estava apertando contra a Rússia, quando ainda incrédulo, Stálin lembrou Bismarck em 1870 quando advertiu que a Alemanha jamais deveria enfrentar uma guerra em duas frentes. Foi o maior erro de Hitler não ter ouvido o ditador. Acontece que em 1943 por insistência de um de seus oficiais e contra sua avaliação ele abriu duas frentes contra a Alemanha.

Em maio de 1941, Molótov e Jukov reforçaram as fronteiras com 500 mil reservistas. Estavam apavorados e imploraram a Stálin que fosse ordenado um alerta geral. Simplesmente respondeu para Jukov:  “Você veio para nos assustar com uma guerra ou quer condecorações”? O general Timochenko também fez o alerta. Finalmente, em 22 junho de 41, vieram os bombardeios surpresas arrasando tudo que estava pela frente e a Ucrânia foi a mais castigada.

De tão atordoado, Stálin se recolheu em sua datcha, em Kuntsevo, por dois dias. Os magnatas bolcheviques ficaram atarantados e com medo de procurar o chefe até que tomaram coragem e foram propor ao homem que se tornasse em comandante-chefe. Em julho, quatro generais foram fuzilados e a cidade de Minsk dizimada pelos alemães que invadiram 500 quilômetros do território soviético.

As tropas soviéticas se dispersaram e milhares desertaram. Vendo aquilo, Stálin chegou a dizer que Lênin fundou nosso Estado e nós fudemos com Ele. Até o líder caiu em desânimo. Em três semanas, a Rússia perdeu dois milhões de combatentes, 3.500 tanques e seis mil aeronaves. No entanto, Timochenco continuava guerreando.

Os alemães estavam nas portas de Moscou jogando bombas. A ordem era deixar a capital, mas Stálin resistiu despachando numa estação de trem. Em Lenigrado, Jukov e Jdanov enfrentavam como podiam os alemães. Até julho de 1942, mais de um milhão de russos morreram como moscas.

Para acabar tudo de vez, Hitler criou a “Operação Tufão” e Stálin já falava em paz, em separado com a Alemanha. Mas, como na invasão de Napoleão, o exército nazista foi detido pelo marechal inverno. Molótov queria fuzilar Jukov e Moscou foi toda saqueada por gangues, edifícios e datchas prontos para serem dinamitados, inclusive o Kremilin. Stálin e seu secretário Poskriobichev davam as últimas ordens.

A resistência e o inverno começaram a reverter a situação a favor da União Soviética sob o comando dos generais Jukov e Koniev que começaram a empurrar os alemães a partir de 1943. Os tanques soviéticos e alemães lutaram como dois touros bravos no lamaçal do inverno. Stálin colocou os dois para lutarem como se fosse uma corrida de maratona. Quem chegasse primeiro em Berlim seria o vencedor.

Enquanto isso, o líder dava festas memoráveis em suas datchas e até se dispôs a visitar o front. Numa dessas viagens deu uma dor de barriga na estrada e tentou entrar numa moita no que foi advertido por Béria sobre possível mina nesses locais. Então, seus oficiais fizeram uma roda e ele cagou na estrada.

Sua primeira viagem de avião em toda sua vida foi para Teerã, no final da Guerra, para um encontro com Franklin Roosevelt (Estados Unidos) e Churchill, da Inglaterra. Simpatizou-se com o ianque, mas achou o inglês pedante metido a besta. O encontro serviu como demonstração de força de Stálin.

Depois esteve na Alemanha (Potsdam) no final da Guerra já com o Truman (Estados Unidos) que lhe provocou quando disse que seu país já tinha a bomba atômica. Stálin virou-se para ele na saída da reunião e disse: Sorte sua. Faça bom proveito. Começou ali, em 1945, a Guerra Fria, pois o líder incumbiu o Béria, chefe da segurança, de também produzir a bomba.

Com mão de ferro, mesmo muito doente depois de um derrame, Stálin governou o país até sua morte, em março de 1953. Irritante, demitia e mandava torturar por qualquer motivo de desconfiança como foi no caso de umas bananas que um oficial trouxe de um navio cargueiro.

As bananas estavam verdes e Stálin achou que tinha mutreta na importação. Mandou demitir e prender o ministro do Comércio. Deportou o médico que lhe recomendara descanso por causa da sua saúde. Os casos Lenigrado e dos médicos judeus renderam muitas mortes. Desprezou até seu fiel escudeiro e secretário Poskriobichev.

Entre 28 de fevereiro e primeiro de março de 1953, finalmente Stálin sofreu um infarto do miocárdio que o deixou sem sentidos por nove dias. O grande líder teve uma morte lenta e dolorosa, somente acompanhado pelos quatro grandes magnatas, Béria, Melenkov, Bulgarin e Kruchióv. Dizem alguns historiadores que ele foi envenenado pelo ambicioso Béria que só ficou dois meses no poder. Foi golpeado pelo seu “amigo” gorducho Kruchióv.

Em família, além da inimizade com sua filha Svetlana por casamentos contra sua vontade, teve muitas dores de cabeça com seu filho Vassili que sempre levou uma vida de playboy e beberrão inveterado, mesmo chegando a ser, por nomeação dos seus bajuladores, chefe da Segurança de Moscou. Quase sempre se apresentava bêbado na base aérea e pilotava cheio de pau.