“A CORTE DO CZAR VERMELHO” (PARTE II)
Final dos anos 20 (século XX) e início dos anos 30, milhões de camponeses (kulaks) morreram de fome e fuzilamento pelo Terror decretado por Stálin e seus magnatas, os quais exageravam na dose para bajular seu grande líder, que tudo fazia para alinhar sua gente ao massacre como ter as mordomias da Casa do Cais.
Segundo relato do escritor Simon Sebag Montefiore, em “A Corte do Czar Vermelho”, a Ucrânia foi o povo mais sacrificado pela perseguição totalitária do regime em tomar os grãos na marra para sustentar as cidades famintas. O homem chamado Khruchióv que abriu o dossiê dos crimes de Stálin depois da sua morte, em 1953, foi um dos maiores carrascos dos ucranianos ao lado do chefe da NKVD, o depravado Iejov (depois o Béria).
Somente em 1938 quando Hitler começava suas anexações e invasões na Europa, 106 mil foram presos pelo Terror do czar vermelho que substituiu Lênin em 1924. Antes imperava o Nicolau II que caiu com a Revolução de 1917. Os executores dos camponeses e de todos aqueles suspeitos de contrariar o regime sobreviviam bebendo em suas datchas nas festas intermináveis.
Para punir as loucuras de Iejov que levava até homossexuais para fazer orgias no Kremlin, Stálin teve que importar, contra seu gosto, toda gangue do inconveniente e indesejado Béria que, um dia, por volta de 1943/44 ele o chamou de olhos de serpente. Não confiava no homem, mas tinha que aturá-lo.
Como todo russo é um czar, conforme declarou alguém da corte, nos dias de hoje temos o Putin que herdou a mão de ferro e tenta imitá-lo. Não por menos, seu avô (de Putin) chegou a ser chefe de cozinha em uma das datchas de Stálin e serviu ao perverso Rasputin e Lênin. O esquema sempre foi o de dividir para governar, método ainda aplicado nos dias atuais.
A bajulação na corte ao líder máximo era tão escancarada que, se Stálin em seus discursos errasse algumas palavras, os magnatas repetiam os erros como medo de que se falassem certo estariam corrigindo o chefe. Mólotov era um exemplo dessa prática.
Em 1939 toda Europa virou um jogo dos poderes maiores, divididos entre a Alemanha de Hitler, os ingleses de Neville Chamberlain, os franceses de Daladier e os bolcheviques russos com seu Terror. Stálin não confiava no Ocidente e sabia que eles (os mandatários) estavam dispostos a deixar Hitler destruir a Rússia Soviética. Era o jogo de gato e rato.
Naquela época a Rússia estava cheia de chefes judeus como o Kaganovitch e o Mekhlis. Como os judeus da Rússia eram obstáculos para a reaproximação de Stálin com Hitler, os magnatas bolcheviques cuidaram logo de “esclarecer” que eram comunistas e não sionistas, como foi o caso de Mekhlis.
Mesmo assim, os dois grandes poderosos selaram logo seus acordos para repartir a Polônia e lá foi para Moscou, em 14 de agosto de 1939, o ministro das Relações Exteriores Ribbentrop, o homem dos quadris de mulher, para confabular, se refestelar e se embebedar com a corte de Stálin.
No pacto de não agressão, em 23 de agosto, a Alemanha quase nada exigiu da Rússia que levou o leste da Polônia, a Letônia, Estônia, Finlândia, conquistada num banho de sangue, e a Bessarábia (Romênia). Hitler ficou com a Lituânia, mas estava mesmo era de olho na Rússia que foi invadida com toda sua fúria em 22 de junho de 1941.
No “Cantinho” do Kremilin com seus magnatas, em 24 de agosto, Stálin prometeu que a União Soviética não trairia seu parceiro, num jogo arriscado para ver quem enganava quem, sabendo, porém, que Hitler, a quem admirava, era uma raposa. “Pensa que é mais esperto que eu”! O líder sempre desconfiou do Ocidente que não concordou com este esquema.
Enquanto a França e a Inglaterra declarava guerra à Alemanha, Stálin planejava a invasão contra a Polônia que foi terrivelmente massacrada pelas suas tropas. Foi uma verdadeira carnificina. Na passagem para a Polônia os soldados russos foram saudados pelos ucranianos com tortas, maçãs e frutas. Em 1940 mais de um milhão de poloneses foram deportados de suas terras e 50 mil barbaramente fuzilados.
Massacre ainda maior foi na Finlândia, no final de 1939. Os finlandeses, em número bem menor, usaram 10 mil garrafas cheias de gasolina (coquetéis molotovs) para enfrentar a invasão russa. No inverno, as florestas foram decoradas com pirâmides congeladas de cadáveres soviéticos. No final, a Finlândia perdeu 48 mil contra 125 mil soviéticos.
Num novo encontro em Moscou em um jantar com talheres imperiais de ouro e vodca apimentada, no final de 1940, Ribbentrop se embebedou com o judeu Kaganovitch. Na ocasião, o ministro estoniano foi recebido com uma guarnição de 35 mil soldados. Stálin mostrou toda sua força de poder e nas assinaturas dos protocolos secretos pediu a Lituânia. Ele queria mais.
Numa noite etílica em que todos se embebedaram, Hitler cedeu ao pedido do chefe russo. Entre muitas das suas tiradas tiranas, Stálin cantou, declamou e disse a celebre frase de que um poeta não consegue cantar numa cela. O puxa saco Iejov, que matava inocentes, declarou para o grande chefe de que morreria com seu nome em seus lábios.
Nas invasões stalinistas, de junho de 1940, 34 mil letões, 60 mil estonianos e 75 mil lituanos foram mortos ou deportados. Depois de muitas tentativas, finalmente, em 20 de agosto do mesmo ano, Ramon Mercader enfiou um picador de gelo na cabeça de Trotski, no México. Stálin tinha a maior rede de informações do mundo, mas, mesmo assim, não conseguiu eliminar Tito, o presidente da Iugoslávia que encarou o grande chefe.