Eu havia prometido na semana passada dar prosseguimento ao polêmico tema do racismo no futebol, porém, no último sábado, o secretário da FIFA, Jerome Valcke, deu mais um pontapé na bunda dos brasileiros, embora, como das vezes anteriores, tenha aplicado um linimento para aplacar a dor. No recheado balaio das críticas, o dirigente advertiu aos torcedores europeus que têm uma visão parcial sobre nosso território: “Não há ferrovias no Brasil”.

BODE NA LINHA - Cópia

Valcke abordou um problema sério no sistema de transporte brasileiro, tema de comentários feitos pelo editor deste blog, Jeremias Macário. O “cartola” chamou a atenção para a dificuldade que os estrangeiros – a Copa da Alemanha, em 2006, foi citada como exemplo – terão em se deslocar entre o Norte-Nordeste e o Sul-Sudeste. Atentou ainda para o perigo de passar as noites dentro dos carros ou em barracas.

A extensa rede ferroviária que cobre a Europa facilita o deslocamento dos torcedores entre cidades e países. Em função do jogo entre Real Madrid e Atlético de Madrid, marcado para o próximo dia 24, em Lisboa, a Renfe (estatal ferroviária espanhola) vai colocar comboios à disposição dos mais de 45 mil madrilenos que percorrerão 620 quilômetros em 9 horas. Para quem pode pagar cerca de 40 euros (120 reais) existe a opção do AVE (trem bala), que faz o trajeto em apenas 2h45.

Além da crise no transporte ferroviário, Valcke fez alusão a outros problemas que estão lhe deixando de cabeça inchada, e que foram comentados pela revista alemã “Der Spiegle”, em seu último número, como a corrupção, o desperdício de dinheiro público, as manifestações contra o Mundial, e o abandono a que são relegadas a educação, a saúde e a segurança pública. “Se o Brasil ganhar”, conclui a reportagem, “tudo acabará em carnaval”. A publicação estampa na capa a brazuca (bola da Copa), em chamas, caindo como um meteoro sobre o Rio de Janeiro.

No seu desabafo, o dirigente da FIFA responsabiliza Lula e Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF, atualmente refugiado num protetorado europeu), por terem dado um caráter político à Copa, insistindo em colocar os jogos em 12 sedes. “A competição deveria ser disputada em oito cidades, com a regionalização das oito chaves, desobrigando  seleções e torcedores a fazerem longas viagens”, observou Valcker. Resultado: somente em Salvador 40% das reservas feitas em hotéis foram canceladas.

O enviado especial do jornal espanhol “El Mundo”, Germán Aranda, escreveu esta semana que “Lula deixou a batata quente nas mãos de Dilma”, cujo primeiro negociador com a FIFA foi o baiano Orlando Silva, exonerado do governo, acusado de mau administrador. Seu sucessor, o comunista Aldo Rabelo, depois de esgotar todas as desculpas pelos embaraços, resolveu alertar os “violentos argentinos”, afirmando  que eles não serão bem-vindos no Brasil.

Bem, o Mundial está aí. No dia 14 de julho, após a partida final, a FIFA deixará o Brasil, levando nas malas para a Suíça 10 bilhões de reais, beneficiada ainda pelos três poderes da República, que aprovaram a Lei Geral da Copa, isentando a entidade internacional do pagamento de impostos no Brasil.