(Chico Ribeiro Neto)

Tenho saudade do ingá, comprado na feira de Ipiaú, Bahia. Era barato, aquela vagem onde a gente tirava a polpa branca do caroço. Pouca coisa, mas dava sabor e alegria.

Maçã, uva e pera só quando ficava doente.

Melancia. Minha primeira babá, Agostinha, fazia bonecos com a casca da melancia utilizando apenas uma faquinha. Em segundos fazia logo a cabeça, os braços e as pernas e depois vinham os detalhes.

Ainda no interior, chupar cana no quintal, no fim da tarde, e jogar conversa fora.

Quando chegou o liquidificador, a novidade era vitamina de banana com Nescau. Hoje não aguento nem ver.

Chupar umbu até os dentes ficarem trincando. E o delicioso caju? “Cuidado, menino, pra não pingar na camisa. Isso deixa uma nódoa que ninguém tira”. Alceu Valença foi perfeito ao dizer que a “pele macia” da Morena Tropicana “é carne de caju”. Alguns meninos faziam tatuagem com o leite da castanha do caju.

Já em Salvador, os mamões, jacas e mangas roubados nos quintais das mansões da Vitória, onde a gente entrava pela praia. A mordida na manga rosa ou espada. O sumo escorrendo pelo queixo e molhando a camisa.

Comendo com casca e tudo. Com a cara amarela de tanta manga (a gente chupava duas ou três facinho, facinho) e o caroço seco na mão, mergulhava no mar do Unhão.

Ao voltar da praia do Unhão a gente arrancava do meio do mato, nas encostas que hoje sustentam a Avenida Contorno, os cachos de melão de São Caetano. Chupava aquela pelezinha vermelha que cobre as sementes. Quase não tinha o que comer, era aquela lãzinha.

Hoje vejo na Internet: “O melão de São Caetano serve  como um remédio popular para várias condições, incluindo o auxílio no controle da glicemia e no tratamento da diabetes, além de possuir propriedades anti-inflamatórias,  antioxidantes e laxativas”. É consumido principalmente na forma de chá, suco ou em cápsulas.

A goiaba a gente comia com bichinho e tudo. Madurinha e cheirosa. Vai deixar, é?

Na década de 70, na Praça da Sé, havia vendedores que usavam uma maquininha pra descascar a laranja. Era um negócio parecido com um espremedor de batata. Ele colocava a laranja ali, ia girando uma manivela e num instante a laranja estava descascada e perfeita, sem ferimento, como se diz.

Mamãe Cleonice adorava sapoti. Sempre foi difícil de achar e, quando encontrava um vendedor na Avenida Sete, comprava logo uns seis pra ela.

As enormes pilhas de abacaxi e melancia na Rampa do Mercado, durante a festa da Conceição da Praia em 8 de dezembro, em Salvador. Nunca vi abacaxi combinar tão bem com cerveja!

Na minha cabeça pulam cores, cheiros e sabores. Ah, que vontade de chupar aquela manga rosa, abrir um mamão com a mão e dar um mergulho no Unhão.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com)