(Chico Ribeiro Neto)

Quando eu morava na casa 33 da Ladeira dos Aflitos tinha um quintal que dava vista pra Baía de Todos os Santos. Havia um pequeno muro, uma grade e lá embaixo a baía, onde eu depositava minhas notas baixas e minhas tristezas. Às vezes chorava. Era bonito, no São João, ver os balões caindo no mar.

O que é que você faz quando está triste? Minha amiga Regina, de saudosa memória, chutava pedras na rua.

Tá triste? Faça tudo, menos ficar parado. Vá caminhar, lavar roupa, varrer a casa, molhar as plantas, ler, ouvir música. Rasgar papel também serve. Puxar os cabelos é outra opção.

Uns compram rosas, outros dormem ou tomam remédio. Outros escrevem.

“Entupa”, dizia meu pai Waldemar depois de me dar uns tabefes. Não sei porque alguns pais e mães (naquele tempo e até hoje) têm mania de mandar o filho engolir o choro.

Tem gente que chora fazendo “buá-buá”, bem alto, e tem gente que chora pra dentro, mal pinga uma lágrima.

Fico pensando que em cada cidade deveria haver um Chorador público, onde você não precisava pagar pra chorar. Poderia se chamar também de Choradouro ou Choródromo. Não sei como seriam as instalações, mas deveria ter plantas e silêncio. Um Chorador público, onde o político derrotado poderia derramar suas mágoas em vez de ficar planejando dar um golpe. Seria um lugar acolhedor também para a torcida do Vitória.

Logo, logo, as imobiliárias vão implantar choradouros na Linha Verde e na ilha de Itaparica, com sofisticadas instalações e o cartaz: “Aqui você chora em paz e em segurança”. Entre outras novidades, haverá ombros criados pela IA.

Vai um trecho do magistral samba “Não Tenho Lágrimas”, de Milton de Oliveira e Max Bulhões:

“Quero chorar

Não tenho lágrimas

Que me rolem nas faces

Pra me socorrer

Se eu chorasse

Talvez desabafasse

O que sinto no peito

E não posso dizer (…)”

 

Deixe esse papo maneiro

O melhor lugar pra chorar

Ainda é o travesseiro.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)