:: 14/out/2025 . 23:24
AS FORÇAS ALINHADAS À UNIÃO DEVEM SUPERAR AS BARREIRAS
Peço licença aos companheiros e companheiras estradeiros para dar a minha modesta opinião a respeito da atual situação da cultura em Vitória da Conquista, que deveria estar à altura do porte da terceira maior cidade da Bahia, e que, historicamente, já viveu sua efervescência nesse quesito com grandes nomes até de projeção internacional.
Não vou aqui fazer arrodeios, arroubos e nem citações filosóficas, sociológicas ou de outro cunho ideológico socialista marxista. Parto do meu tema de que as forças alinhadas da união superam as barreiras do descaso.
Longe de mim ser “advogado” dessa administração que sepultou nossa cultura, mas poderia aqui também abrir uma crítica sobre a atuação do nosso Ministério da Cultura. Não vou entrar nessa polêmica. Vamos voltar o nosso olhar para nossa aldeia de terra arrasada onde vivemos.
MOBILIZAÇÃO PÚBLICA
Sinto que está existindo determinados ruídos de “vozes isoladas” sob o ponto de vista dos movimentos e coletivos que, ao invés de se unir num todo, não importando a coloração ideológica, estão partindo para a divisão de intrigas entre si e até com um certo tom de agressividade e ofensas. Sempre defendi que a saída é a mobilização pública nas ruas para mostrar nossa cara, porque os documentos são sempre engavetados.
Tenho ouvido comentários de que tal coletivo é um “balaio”, uma “panela”, tal grupo é de propriedade privada, de que existe censura, sem deixar de considerar pichações negativas que só fazem dividir e criar animosidade entre nós mesmos. Em meu entender, a radicalização com outra radicalização é como a soma de zero mais zero. Não adianta rompantes viscerais.
Certas atitudes são tudo o que o outro lado do poder quer para massacrar ainda mais a nossa cultura. Sobre esta questão, escutei muitas vozes dentro da própria Secretaria de Cultura de que tal movimento partia apenas de um punhado de gente isolada radical “sem importância”, que não representaria o todo.
Que a nossa cultura vai de mal a pior, isto é indiscutível, e agora colocaram um presidente do Conselho que é anticultura. Este quadro já vem se perdurando há pelo menos dez anos, e os nossos métodos usados para mudar este cenário não têm dado resultados satisfatórios e revitalizado a nossa cultura como desejamos.
No meu raciocínio lógico, alguma coisa tem que ser mudada para alcançarmos a mudança que queremos. Diante do exposto, a minha proposta, e não é de hoje, é que todos nós sentemos numa mesa, não importando as ideologias, se de direita ou de esquerda, sem as “fogueiras das vaidades”, para falarmos uma única linguagem de que a arte interessa a todos e que a divisão de ideias só nos separa e fortalece esse poder de destruição da nossa cultura. Alguns podem até rebater que isso é impossível, mas não é.
A linguagem da qual me refiro é de políticas culturais, mas, sinceramente, vejo gente jogando esta causa tão nobre para o viés político partidário, numa nação tão polarizada que só rende ódio e intolerância. Será que constrói ou desconstrói? Vamos ser progressistas no bom sentido para conservar nossas tradições.
Temos um nível intelectual bem mais alto que eles e não estamos aproveitando esta força que é a união de todos num objetivo comum, sem essa de “donos da cultura”. Temos aqui deputados estaduais e outros nomes de expressões que podem se juntar à nossa mesa para fazer ecoar as nossas vozes e estremecer aquelas paredes do atraso.
Qualquer um tem o direito democrático de discordar da minha proposição e até achar que esteja sendo ingênuo. Só peço, porém, que as manifestações não sejam de agressões e ofensas como já vi sair da boca de alguns. Se for nesta toada, prefiro me recolher à minha modesta insignificância.
O SARAU NAS RUAS E O GRUPO
Gostaria aqui de aproveitar o ensejo para falar um pouco sobre o nosso Sarau a Estrada que levantou a ideia de partir para a estrada, literalmente, ou seja, ir para as ruas e dar o seu recado de que precisamos colocar a cultura em seu lugar merecido, desde que os discursos sejam alinhados e unificados.
O que não aceitamos são os deboches “stradêros” de quem quer que seja. Acolhemos todos aqui com muito carinho, desejando sempre boas vindas, com abraços e amizades. Precisamos sim, de colaboração e críticas construtivas, não de indiretas a um sarau que foi construído com muitas lutas e dedicação. Rogo mais respeito, pelo menos aos antigos frequentares que ajudaram a erguer este evento.
Ouvi críticas, que, ao me ver, considero injustas, de que o Sarau A Estrada nos seus quinze anos de vida só é para reunir festeiros, fazer cantorias e declamar poemas. Quem viveu isso aqui durante este período sabe que não é verdade este anunciado.
Aqui introduzimos debates de grande importância para o conhecimento e o saber intelectual, inclusive sobre a cultura em Conquista. As nossas portas sempre estiveram abertas e para entrar nunca indagamos qual sua linha ideológica. Ai, sim, seria censura.
Por outro lado, minha gente, um sarau, como o próprio nome já diz, é um sarau desde suas origens históricas, e não um movimento político partidário, não é um partido político, uma associação de classe, um sindicato ou um grupo popular revolucionário. Claro que a política faz parte desse processo, mas não é necessário polarizar ou destilar xingamentos. O que menos precisamos agora é de teorias.
Mesmo assim, sempre tenho dito em público para todos estradeiros, que o sarau, pelas proporções em que tomou e pelo seu tempo de resistência, deve sim tomar posições políticas no âmbito cultural. O Sarau A Estrada é nosso e ninguém tem o direito de tascar com verborreias depreciativas.
É um ponto de encontro cultural que nunca recebeu nenhum apoio do poder público. Que me perdoem os contrários, mas esta é a minha leitura e é nela que lastreio meus argumentos. É a nossa obrigação sairmos em defesa da cultura, mas sem a mistura partidária, respeitando as diversidades ideológicas em que nele habitam desde a sua fundação.
Por fim, queria também expressar aqui a minha posição, que pode não ser unânime, sobre o grupo “Estradeiros da Cultura”. Desde sua criação, temos como princípio básico não discutirmos política partidária, repito, por causa da convivência com as diversidades ideológicas, e só isto já foi uma grande conquista.
Alguém disse que se trata de um grupo privado. Ora, todo grupo é privado e tem suas normas, como, por exemplo, a dos partidos políticos, seja de direita ou de esquerda. Quem destoa é advertido e até eliminado. Pode até haver divergências e correntes, mas os objetivos são comuns.
Por sua vez, sabendo desse princípio, a pessoa é totalmente livre para participar, ou não. Portanto, quem desrespeita este fundamento básico, sem falar de não ofender e agredir o outro, não pode alegar que esteja havendo censura, nem mordaça e nem atentado contra a liberdade de expressão. Sua liberdade termina quando você invade a do outro ou a dos outros.
PROJETOS NA PAUTA DA CÂMARA
Nesta quarta-feira (dia 15/10), a partir das nove horas, mais uma sessão da Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista vai debater diversos projetos de interesse da comunidade, como a instituição da Semana Municipal do Aleitamento Humano, dentre muitos outros.
Da parte do parlamentar Miguel Cortês, será instituído o dia cinco de outubro como o Dia Municipal do Rock, celebrado anualmente nesta data. Deverá também ser instituída a Política Municipal de Atenção Integral à Saúde da Mulher com Endometriose.
Ainda nas discussões serão analisadas propostas, como o Programa Vozes da Terceira Idade, que prevê rodas de memória em escolas públicas com a participação de idosos da comunidade, bem como a Semana de Combate à Exposição Indevida, Adultização, Exploração Sexual e Outros Crimes contra Crianças e Adolescentes na Internet, nas instituições públicas e privadas do município.
Além disso, a pauta da sessão inclui projetos de concessão de títulos e de denominação de ruas, que sejam de pessoas que prestaram serviços relevantes à cidade e ao município. Temos as falas dos vereadores que farão suas devidas considerações.
SE LAMPIÃO FOSSE PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Certa vez o “rei do cangaço” e “governador do Sertão”, como muitos o denominavam, disse que deixaria de ser cangaceiro se fosse para ser presidente da República. Aliás, o primeiro a ser chamado “governador do Sertão” foi Antônio Silvino, isto até 1914 quando ferido se rendeu. Ele apelidava Lampião de “meu príncipe”.
Não se sabe ao certo se foi boato, lenda, ou não, mas deve ter sido quando foi convidado a ir a Juazeiro do Norte para combater a Coluna Prestes, por volta dos anos 30. Confundiram o juízo dele que já estava torrado de tanto sol e espinhos.
Pensando bem, já tivemos vários tipos de presidente, até um descendente de cigano, generais da ditadura, uns bons e outros não, uns exóticos e estrambólicos malucos, sem citar nomes. É bom não queimar e poupar os neurônios.
Então, vamos aqui viajar em nosso imaginário do realismo fantástico no caso de Lampião ter sido presidente da República, naquela época, entre o “arcaico” e o moderno.
Seu primeiro ato seria mandar surrar as mulheres de cabelos curtos e com saias um pouco acima do joelho, até correr o sangue em suas carnes. Só Maria Bonita ousou colocar esses trajes para se proteger dos garranchos da caatinga, do agreste e do sertão.
Ah, Maria Bonita seria ministra das Mulheres, com a incumbência de acabar com o cativeiro delas nas famílias. Seria Bom. Dadá poderia até ser ministra da Cultura, para incentivar as artes moralistas escolhidas por ela.
Lampião gostava de ouvir boas músicas em seus esconderijos e dançar o xaxado com seu bando. Adorava uma sanfona. Apreciava também que os fotógrafos tirassem fotos suas para exibir sua força e provocar os governantes. Era dado às artes. No entanto, talvez extinguisse o Ministério da Educação.
O padre Cícero Romão Batista, o seu idolatrado “Padim Ciço” seria nomeado ministro da Justiça, da Moral e dos Bons Costumes. Mandaria degolar Carlos Prestes e seus oficiais, os satanases comunistas vindos lá da União Soviética. Iria sobrar também para os ex-presidentes Artur Bernardes e Getúlio Vargas, com final trágico. A imprensa seria censurada e só pulicaria o que fosse do seu agrado.
Lampião decretaria a religião católica como a oficial do país, como fez o imperador Constantino na Roma do império em decadência. Todas regalias para os padres sacerdotes que deveriam ser venerados pelos fiéis como santos intocáveis, com bons salários.
O misticismo religioso, as superstições, os mandingueiros “fecha corpo” com suas rezas dos santos arcanjos Gabriel e São Jorge seriam preservados e seus praticantes ganhariam um bom dinheiro. Trataria os negros com desprezo, como raça inferior.
Para as outras religiões, ele mandaria queimar todos seus membros nas coivaras nordestinas, ou ordenaria suas tropas fuzilar todos nos paredões. Acabaria com os direitos humanos e nada de liberdade de expressão.
“Zé Baiano”, o grande agiota e ferrador de mulheres, seria indicado como ministro da Fazenda. Ia ter muita grana nos cofres públicos para dividir boa parte entre eles.
Seus “cabras” da peste, como Volta Seca, Gato, que matou toda família, Sabino, Turco Cândido, Xico Pereira, Paizinho Baio, o “Lampião do Agreste”, Jurema, Jararaca, Tenente, Fiapo, Andorinha, Nevoeiro, Gavião, Trovão, Mormaço, Cocada, Pontaria, Cobra Verde, Vereda e tantos outros seriam chefes de polícia ou teriam algum lugar nas pastas dos ministérios.
Corrisco, que chegou a servir o exército, seria comandante-chefe das Forças Armadas, com toda autonomia para praticar suas atrocidades contra qualquer opositor ao seu regime tirânico.
Os “coronéis de patentes”, nem todos, só seus aliados, seriam proclamados governadores das províncias ou dos estados. Para os outros adversários, autorizaria serem eliminados na base do punhal, do rifle e do fuzil.
Não vamos só imaginar coisas ruins e macabras. Como ele violentou muita gente, roubou até dos pobres dando a eles as migalhas das moedas, poderia se redimir de seus pecados hediondos e mandar distribuir muito dinheiro e alimentos para os miseráveis do nosso Sertão Agreste Nordestino. Seria o primeiro presidente a instituir o Bolsa Família.
Para os sulistas, só castigo de carregar pedras para erguer as construções, na condição de escravos. Ninguém mais iria esculhambar e debochar dos nordestinos. Seria um bom patrão para pagar bem os seus asseclas e abraçaria a todos com amizade, com viés marxista, embora de forma inconsciente.
Ordenaria importar perfumes franceses e máquinas modernas do exterior, principalmente as de costurar e bordar. Seu ministro nesta área poderia ser até o Antônio Silvino, desempregado e regenerado, depois de passar mais de 20 anos de cadeia na Casa de Detenção do Recife, ao lado do comunista Gregório Bezerra.
A segurança seria altamente reforçada com pena sumária de morte para os bandidos quadrilheiros. Bandoleiro só admitiria ele como presidente da República. Não que isso aí seria bom e politicamente correto. Mas, esse termo nem existia naquela época.
Acho que está bom, sem mais delongas. Como neste país é tudo falso como uma nota de três e misturado como os destilados, o resto é só vocês colocarem a imaginação para funcionar, se Lampião fosse presidente da República.
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