AS PAQUERAS, COMO ELAS ERAM
– Hoje está fazendo muito calor, né! Esfriou, parece que vai chover e cair uma tempestade! Está gostando do quadro, ou da pintura? Esses ônibus só vivem atrasando! Está aqui há quanto tempo?
Essas falas são daquele paquerador mais tímido quando queria se aproximar de uma mulher e puxar uma conversa, seja num ponto de ônibus, num banco da praça ou até numa exposição de artes plásticas. Tem também aquele tímido que fica de longe só no olhar.
– Vai lá, cara, a mina está na tua – diz o companheiro mais extrovertido e passa as dicas. Pior era quando levava um fora! Ai o “paquerador” ficava traumatizado por um bom tempo ou pelo resto da vida. Em compensação, tem mulher que adora o tímido, calado. Outras preferem o falador, contador de estórias e vantagens.
– Posso estender a minha toalha aqui perto dessas beldades, ou princesas”? Essa é de paquerador de praia, aquele tipo marombado só de sunga. Às vezes dava certo e rolavam umas agarradas e até motel.
São papos antigos que não colam mais, e hoje podem ser considerados até como assédio ou politicamente incorreto. Tinha o paquerador amador e aquele que se achava profissional, de boa lábia que até ensinava ao amigo como “fisgar” uma namorada.
– Vai lá e diz isso que é batata! Ela vai arriar os quatros pneus! Eram os bordões antigos que hoje servem até de deboche, sem contar que os homens de hoje estão mais arredios e receosos do que as mulheres.
Sem ser machista, as mulheres atualmente são as que mais partem para a paquera porque dificilmente serão acusadas de assédio ou serem enquadradas no “crime” do politicamente incorreto. Esses “lances” aparecem muito nos filmes e nas novelas de televisão.
Ora, não dizem que nos tempos atuais, homens e mulheres são todos iguais! No entanto, quando uma mulher “parte” para o homem, ele não vai denunciar que está sendo assediado. Sente vergonha de ser chamado de outra coisa.
Na novela das sete, da Rede Globo, vi uma curiosa. A jovem tentou beijar o rapaz e quando ele se recusou, foi chamado de “frouxo”. Não criaram o slogan no carnaval, do “não, é não”? Isso não constitui também importunação quando o assédio é da mulher para o homem?
Bem, nos tempos antigos, os bordões de paquera eram expressões populares que, na época, serviam para iniciar uma conversa, ou criar um clima de romance, normalmente inspirados e influenciados nas novelas, agências de propaganda e filmes.
Existem muitos exemplos, como “meu amor, a vida é um eterno aprendizado”, na novela “O Clone”, ou “pode entrar, o meu braço é do tamanho da sua saudade, do seu Madruga, do seriado “Chaves”.
Lembra daquele famoso bordão de “não é assim uma Brastemp! ” As linguagens e a gírias populares também serviram de base para a criação de bordões e podem ser encontradas em vídeos antigos.
“Não quero ser precipitado, muito menos te assustar”, “mas é nesse teu sorriso que o meu beijo quer morar” (Gustavo Mioto), “Por que você não sai daí e vem aqui”? “Caiu na rede, é peixe”. São muitos entre outros os bordões populares.
“Você me deixa sem palavras”. Recordam dessa frase de paquera, uma das mais antigas, direta e romântica. Hoje é vista como “chulé” e fraca onde a mulher chama o cara de babaca. Essas frases tinham a intenção de criar um laço afetivo.
“A alegria de saber que você existe, supera de ter você, mas eu desejava as duas”. Essa é até mais filosófica, diferente de “você é um doce de coco”, “você é muita areia para meu caminhão”, “só queria tropeçar e cair na sua boca”, “afinal, eu não consegui sua atenção, pelo menos vou ter um bom treino de musculação”, “Você sabe que é perigoso ignorar”? “Você não é o sol, mas você ilumina os meus dias”.
Saudades daquelas paqueras, sem serem politicamente incorretas. Na maioria das vezes, o indivíduo não avançava quando era rejeitado. Saia de fininho, envergonhado. Eram um tanto ingênuas, muitos riam e até levavam na esportiva. Algumas deram até casamentos.