:: 29/set/2025 . 22:04
POUCO SE FALA DA DISCRIMINAÇÃO SOCIAL VIOLENTA CONTRA O POBRE
É fato que o negro brasileiro ainda sofre na pele o preconceito racial abominável de cor e exclusão social. Ele é visto pelo sistema de segurança policial como um todo, em qualquer lugar, como um potencial criminoso e assim é tratado como tal, mas pouco se tem falado da discriminação social também violenta contra o pobre, não importando a sua etnia, se branca, parda, mameluca ou cabocla.
Não são todos, mas tenho ouvido muitos discursos de raiva e rancor de alguns movimentos negros e de pessoas isoladas, sempre citando a vergonhosa escravidão cruel e brutal de 350 anos, mas se esquece da discriminação e das injustiças sociais de 525 contra os pobres em geral.
Temos no Brasil o negro pobre e o negro rico, que é mais aceito e visto de outra maneira por essa nossa sociedade hipócrita e falsa. No entanto, o pobre, seja qual for sua raça, é sempre pobre e excluído por causa da sua posição econômica debilitada. Em nosso país, o pardo, o chamado “moreno”, ou o mameluco índio é considerado como classe branca no conceito popular.
É justamente neste aspecto que as estatísticas pecam quando incluem todos no mesmo rol e não levam em conta a forte mestiçagem do povo brasileiro. Em Salvador, por exemplo, mais de 90% são negros ou pardos e estes apareceram nos dados nos últimos anos. A etnia branca é composta de uma minoria.
A nação nordestina, e aqui falo do interior e não do litoral, a grande maioria é formada de mestiços pobres explorados e até escravizados, ao lado dos negros por séculos pelos senhores de engenhos, fazendeiros latifundiários, poderosos políticos, caudilhos e os “coronéis”. No entanto, os discursos de reparação e discriminação se referem apenas aos negros.
Em meu entendimento, é preciso que as falas sejam unificadas e não separadas, de que somente os negros são injustiçados. Entre os próprios brancos, a maioria vive em estado de pobreza. Os pobres de um modo geral foram e ainda são violentados em seus direitos constitucionais durante esses 525 anos de profunda desigualdade social e econômica.
Tanto os crimes de racismo pela cor da pele quanto os crimes de discriminação do pobre branco mestiço são repugnantes e ferem as almas humanas. O racismo contra o negro traumatiza e é revoltante. A pobreza em geral aniquila lentamente o indivíduo. Será que não existe “branco” pobre?
No IBGE me declarei como pardo porque é assim que me vejo, nem branco e nem negro. Sou um mestiço. Por ter nascido pobre na roça, filho de lavradores, sei muito bem o quanto sofri de discriminação social e na forma de bullying, considerado matuto lenhado.
Quando conclui meu primário em Piritiba durante final dos anos 50, construíram o primeiro ginásio na pequena cidade, com vagas limitadas. Me atrevi a fazer a admissão, mesmo sendo avisado de que eu não passaria nos testes porque as cadeiras já estavam reservadas para os filhos dos ricos e dos políticos.
Nem é preciso responder que fui sumariamente “eliminado” e ainda fui achincalhado. Meu pai, que não tinha a noção dessa brutal discriminação social, esbravejou duramente comigo. Um ano ou dois depois fui para o Seminário Nossa Senhora do Bom Conselho, em Amargosa, um ensino bem mais puxado, fiz a admissão e passei.
Esse é tão somente um exemplo da minha pessoa há quase 70 anos, mas episódios dessa natureza continuam a existir pelo Brasil aos montes e não é somente contra os negros. Claro que eles são mais atingidos. A pior violação, a mais criminosa e assassina, é a discriminação no campo social e essa nem é punida com multa, indenização e cadeia.
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