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:: 25/set/2025 . 23:38

FOTOS QUE SÃO POESIAS E HISTÓRIAS

FOTOS DE JEREMIAS MACÁRIO

Quase todos os dias entro em contato e dialogo com meus quadros fotográficos no Espaço Cultural A Estrada, os quais falam dos sertanejos agrestinos e da vida do homem do campo em geral.

Certa vez meus amigos Dal Farias e Manno me indagaram se eu ainda sabia de cada local e suas histórias. Sempre existiu, por parte de determinadas pessoas, aquela curiosidade por algumas fotografias que chamam mais atenção.  Fico gratificado por isso.

São cenários cinzentos da sequidão da terra rachada, capelas, cargas humanas em caminhões, do tipo pau-de-arara, mandacarus, depredação da natureza, a miséria de pedintes nas estradas, antigas estações e linhas ferroviárias, a luta do homem pela sobrevivência e paisagens floridas nas épocas das chuvas. São faces do Nordeste.

Elas me fazem lembrar dos tempos das minhas andanças como jornalista repórter de redação ao lado do meu companheiro de trabalho, José Silva, ou “Zé Silva”, o fotógrafo da fotojornalismo que, de suas lentes, também tirava o olhar crítico onde a imagem se transformava em fortes legendas ou em mil palavras.

Além de serem poéticas em suas essências enigmáticas, só visíveis aos olhos de poucos, cada foto tem sua história e lugar preciso estático, como se estivesse só esperando pelo clique da máquina para dali ser transportada para um outro mundo imaginário da arte, ser apreciada e refletida na mente das pessoas.

Todas essas fotos são crônicas do tempo com seus casos, causos e histórias, como do sertanejo durante o rigor da seca tangendo seu gado para matar a sede em algum barreiro ou tanque distante. Lá estão o jumento com a carga de garotes de água e o carro-de-boi transportando a produção do feirante.

Durante cada narrativa, o nordestino, de tanto sofrer e apanhar, só acredita na providência divina porque o político lhe enganou através das vãs promessas. Com fé e esperança, ele levanta com suas mãos o chapéu em direção aos céus e pede clemência a Deus para que mande logo as chuvas para molhar o chão e plantar sua lavoura para colher o pão.

Tem a mulher, o menino e a menina com feixes de lenha e latas d´água na cabeça, vindos de bem longe no sol inclemente, que nem demonstram cansaço porque o corpo já se habituou com a labuta. Tem também aquela senhora de corpo frágil extraindo areia ou quebrando pedras da Serra do Periperi para ganhar um dinheiro do patrão explorador e depredador do meio ambiente.

Crianças e mães maltrapilhas pedem dinheiro nas pistas assassinas da Rio-Bahia (BR-116). Cada moeda jogada da boleia é um alento e se mistura com o asfalto. Cargas humanas em carrocerias de caminhões atravessam estradas da região, correndo o risco de morte porque não têm outras saídas.

O catingueiro, em seu desespero para encontrar água para matar a sede, forma um adjutório para cavar o terreno seco, de forma manual, no antigo estilo conhecido como “banguê”. Pela experiência secular do homem do semiárido, ali tem olho d´agua. Nem é necessário o aparelho da engenharia.

A trator, quase sempre, vai para o açude do fazendeiro ou do aliado político. O carro-pipa eleitoreiro, que levanta poeira por onde passa, deixa muitos de fora. Alguns ainda se amparam nas cisternas, mas elas não resistem por muito tempo. As capelas nos povoados e distritos são símbolos de uma religiosidade forte que acredita que as coisas vão melhorar um dia.

Nas conversas, bate-papos e prosas com todas essas gentes, de um modo geral, as histórias são parecidas, como das famílias de retirantes que rumaram para o Sul ou terras melhores, das “viúvas das secas”, cujos maridos não mais retornaram, das plantações perdidas, das brigas por terra, mas cada caso é um caso que nos faz partir o coração.

Apesar de todo sofrimento, são pessoas cordiais, cordatas, prestativas e receptivas. A senhora dona de casa nos recebe com prazer, mas enche os olhos de lágrimas quando nos leva até à sua cozinha desprovida de alimentos. Recordo de muitas delas, cheias de filhos pequenos, que me mostraram só uma panela no fogão a lenha com alguns caroços de feijão a borbulhar na fervura da água barrenta.

– É meu filho faz quase um ano que não chove; meu gadinho morreu de fome e sede; vendi um pedacinho da terra, mas o dinheiro está acabando. Só Deus para nos acudir – desabafou o senhor de rasgadas rugas queimadas profundas, com aquele triste olhar fitado no longínquo horizonte.

As fotos e as imagens me trazem essas recordações dos tempos de repórter e se unem e se interagem aos autores escritores, aos chapéus, aos artesanatos em noites de saraus culturais para escutarem as cantorias de violeiros, declamações de poemas, casos, causos e crônicas da vida, na troca do conhecimento e do saber.

        

PAUTAS DA SESSÃO DA CÂMARA

Nesta sessão desta sexta-feira (dia 26/09) da Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista estarão em discussão projetos como a instituição do “Dia Municipal do Associativismo” e a inclusão das cavalgadas no calendário oficial de eventos turísticos e culturais do município.

Da parte do poder executivo, será assinado o PL número 22/2025, que altera a lei de número 2.363/2019 sobre a alienação de bens públicos relacionada à obra de urbanização da Lagoa das Bateias.

Também estarão em debates projetos de concessão de títulos de cidadão conquistense e denominação de ruas, entre outros assuntos que deverão ser abordados durante as falas dos parlamentares.

 

ENSINAMENTOS DE EPICURO

José Fábio da Silva Albuquerque, do seu livro “Retalhos Nordestinos” – poesia popular (Editora Nzamba)

O medo é algo engraçado

Quando de alguém se apodera

Pois deixa geladas as mãos

E o coração acelera

Mostrando cenário terrível

Que outro não é possível

Além de sofrer na espera.

 

Uma pessoa com medo

Perde de todo a razão

Fica sujeito aos conselhos

Que prejudicam a ação

Dos mais primitivos instintos

Parentes da obsessão.

 

Do medo um dia falara

Um homem de nome Epicuro

Chamado por todos filósofo

Do jeito que outro Obscuro

Caráter de muitos dizeres

Um defensor dos prazeres

Mesmo perante o apuro.

 

E dentro do seu ensinar

Está o imbatível dizer

Voltado aos seres humanos:

Que não se deve temer

Sofrer, nem deuses, nem morte

Pois quando se é desta sorte

Já não se está mais no viver.

A todos que sentem medo





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