:: 24/set/2025 . 22:36
OS VENDEDORES DE ILUSÕES
Tinha aquele vendedor sério, o enrolado enganador, o mentiroso, o picareta que de tudo fazia para empurrar a mercadoria de qualquer jeito, fazendo promessas falsas. O galanteador vende gato por lebre. Eram vários os tipos para sua livre escolha. Deles se extraem causos e histórias inusitadas.
Não estou falando daqueles que ficam nas lojas esperando pelos clientes, mas dos viajantes de antigamente que eram presenciais de carne e osso. Hoje é a internet que faz o papel deles e fisga os mais compulsivos que vão clicando em quase tudo.
Existiram até casos de vendedores de ilusões que andavam e ainda andam por aí aplicando golpes os mais inusitados nos incautos. Soube da história de um sujeito que vendeu lotes de “terras férteis” em Marte para uns pobres coitados, com vistas para o mar e cercados de floresta e rios.
Teve um que inventou o fim do mundo com três dias só de escuridão e vendeu centenas de candeeiros, pavios e latas de querosene para camponeses do sertão. Abusou quanto pode da fé religiosa dos catingueiros. Isso aconteceu de verdade há muitos anos num município baiano. Não é coisa de ficção.
Foi um golpe de mestre e o cara se escafedeu depois de feito o estrago. As pessoas das redondezas caíram em seu papo convencedor. De tiracolo ainda levou uma moça virgem com seu galanteio de bonachão. Foi o maior alvoroço nos povoados. Os fofoqueiros e fofoqueiras não perderam tempo.
– É comadre, todo mundo caiu na prosa do safado e ainda deixou uma família falada e desonrada. A maioria deles tinha uma namorada em cada lugarejo, e tome lorota de que só aquela era seu amor verdadeiro e não tinha mais ninguém em sua vida. O pior é que a mulher acreditava no papo, ou na lábia afiada.
– O indivíduo desse merece ser capado na ponta da peixeira – desabafou o compadre que ouvia toda conversa do assucedido e falou com toda raiva de que se fosse com a filha dele ia buscar o cabra meliante até nos infernos do satanás.
– Cara, com sua lábia, você consegue vender até capim seco! Qualquer cliente cai no seu papo. Como foi o rendimento de hoje?
– Para ser sincero, só recebi não. A crise está braba e está faltando dinheiro na praça, meu amigo, mas ainda tenho a última visita mais tarde.
– A esta altura, melhor deixar pra lá e relaxar aqui numa gelada. Quem sabe não pinta uma morena cabrocha! Todo vendedor se acha galã.
– Passei o dia todo só recebendo não. Mais um, não vai fazer nenhuma diferença! Vá lá que receba um sim – rebateu o amigo. Vendedor nunca pode desistir.
A força de vontade é sua virtude, senão deixa de vez a profissão, que o diga o vendedor de livros e enciclopédias. Eu mesmo, por necessidade de sobrevivência, fui um deles e recebi muita porta na cara e “chá de espera”.
Conversas de vendedores viajantes em final de dia numa mesa de bar numa cidadezinha embrenhada no sertão onde cada um procura exibir suas vantagens, num pôr-do-sol rajado no horizonte da serra.
Um vendedor das antigas você conhecia de longe. Primeiro ele chegava na pensão ou num hotel “mais em conta”, com seu carrinho usado, cheio de bugigangas (uma bagunça de caixas nos bancos do veículo) e amostras de produtos.
No interior você já deve ter ouvido falar de “pensão de vendedor”. Quando alguém de fora se hospedava já sentia de longe o cheiro de vendedor. A senhora dona, ou dono, já era uma “velha”, ou “velho” conhecido que fazia aquele “preço camarada”.
Sempre estava engravatado e usava aquela pasta pesada cheia de compartimentos. Os pedidos eram anotados à mão nos blocos de papéis. O vendedor bom sempre gastava muita sola de sapato e ainda se faz isso, mesmo com a invenção da internet e as vendas virtuais on-line.
CASA GLAUBER PODE SER “TOMBADA”
Há cerca de 20 anos ou mais, quando chefiava a Sucursal do Jornal A Tarde, em Vitória da Conquista, passeia uma grande vergonha e tive que explicar o inexplicável. Confesso que fiquei todo embaraçado, como diz o tabaréu ou matuto catingueiro.
Recebi a visita de um amigo-colega de Salvador, um tipo intelectual ativista da cultura e estudioso do cinema que, logo ao chegou à cidade, me fez o primeiro pedido de que gostaria de conhecer a casa onde Glauber Rocha nasceu.
Ele imaginava que ali funcionava uma cinemateca, oficinas de audiovisual ou um museu sobre a vida do grande cineasta baiano conquistense Glauber Rocha. Fui obrigado a dizer que não era nada disso e que lá ainda morava uns parentes da sua família.
Ficou surpreso e começou a fazer uma série de indagações do porquê a Prefeitura Municipal ainda não havia adquirido o imóvel. Dei uma tapeada e contei das dificuldades financeiras, além de que sua mãe insistia em pedir um preço muito alto ao poder público.
Apesar de tudo e um tanto decepcionado devido a situação do local ainda não ser um memorial em homenagem ao filho da terra, que encantou o Brasil e o mundo com seu cinema novo preocupado com as questões sociais e políticas, o amigo insistiu na visitação.
Assim sendo, fui lá na rua Dois de Julho, bati da porta e me recebeu um senhor ou uma senhora. Apresentei o admirador de Glauber, vindo de Salvador, e falei do seu grande interesse em conhecer a casa e seus cômodos.
Mesmo sem ser muito receptivo, ele, ou ela, concordou com a visitação. Ficamos por uns tempos imaginando o menino traquino e irrequieto, como sempre se comportou, correndo entre os quartos, na sala e no quintal. Claro que depois o colega continuou com suas críticas sobre a falta de atitude da prefeitura.
Isso foi há mais de 20 anos e a propriedade já estava deteriorada, necessitando de reparos e conservação. Passado esse tempo, mesmo depois do imóvel ter sido comprado pelo executivo (dinheiro do povo), praticamente não recebeu as devidas reformas e corre o risco de ser literalmente tombado, não no sentido de patrimônio municipal.
Como disse alguém do “Estradeiros da Cultura”, “esse espaço não é apenas um imóvel, mas um símbolo vivo da história de Glauber Rocha, das suas origens e do universo criativo que ajudou a moldar”, com os principais filmes “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), “Terra em Transe” (1967) e o “Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1968) e tantos outros.
Essas obras foram aclamadas e renderam reconhecimento nacional e internacional, inclusive no Festival de Cannes. Glauber foi um dos principais expoentes do Cinema Novo. Seu trabalho ficou marcado por uma visão crítica do Brasil e do Terceiro Mundo.
Como foi dito, “preservar a Casa Glauber é preservar a essência de um artista que transformou a cultura nacional, trazendo ao mundo narrativas que falam da identidade, das lutas e das contradições do Brasil”.
A administração de Conquista, de forma vergonhosa, deixou de assumir compromisso com a arte e a cultura. Preferiu de maneira brutal assassinar o legado de Glauber, bem como de muitos outros. A própria ação do tempo está deteriorando a casa através de fuligens dos automóveis, cupins, insetos e sujeiras que contribuem para rachar as paredes
Nosso amigo Dal Farias nos conta que recentemente passou em frente da casa e observou que existe uma parte enorme de concreto sobre o muro, na eminência de cair, ou tombar, podendo até gerar uma tragédia.
Entendo que os nossos artistas em geral, incluindo todas as linguagens, ativistas culturais, todos os movimentos unidos, intelectuais, estudantes e professores devem, acima de qualquer questão, cuidar primeiro da nossa aldeia cultural. Como ela está? Transformou-se numa choça abandonada em meio a um matagal.
Ouvi uma notícia vinda de Brumado, dando conta que lá, distante 135 quilômetros de Conquista, seis ou sete vezes maior em população e desenvolvimento econômico, o festival de música popular, com concursos e premiações, se tornou patrimônio municipal. Em Caetité, a Casa Anísio Teixeira foi tombada e continua preservada, como a de Jorge Amado, em Ilhéus. com memoriais e realização de uma série de eventos culturais.
Como conquistense, não de forma biológica, mas como filho adotivo (tenho o título de cidadão), aqui morando há 34 anos, me sinto envergonhado e triste por ver tanto descalabro contra a nossa cultura. Até quando vamos ficar de braços cruzados, só falando e arrotando teorias com cartas e documentos?
PROJETOS NA SESSÃO DA CÂMARA
Nesta sessão da Câmara de Vereadores de quarta-feira (dia 24/9) estarão em pauta diversos projetos em discussão, como a solicitação de transporte para pacientes de hemodiálise do distrito de Bate-Pé e povoados, concessão de títulos de cidadão conquistense, nomeação de vias públicas da “Ciclovia Joãozinho da Carreta” e a rua Francisco Bispo da Silva.
Outros projetos de lei e um projeto de decreto, que aguardam emendas com prazos até outubro de 2025, também serão debatidos. A tribuna Livre será ocupada pela senhora Érica Tremura, que vai falar sobre a primeira Conferência Baiana de Pilates.
A presença do conquistense a estas sessões é de fundamental importância para acompanhar a posição de cada parlamentar que foi eleito pelo povo, mas sem barulho e conversas paralelas como sempre tem ocorrido, ao ponto de algumas falas serem interrompidas para pedido de silêncio pelo vereador ou pela Mesa Diretora da Casa.
Muitos desses projetos de lei estão aguardando envios de emendas, tais como os de números 140, 141,142 e 143/2025 de autoria do legislativo, lidos na sessão do dia 12 de setembro passado.
O projeto de número 23/2025, de autoria do poder executivo municipal, lido na sessão do dia 12 de setembro, também aguarda envios de emendas durante três sessões ordinárias/mistas, até 24 de setembro de 2025.
Outro é o projeto de decreto número 45/2025 de autoria do legislativo, lido na sessão do dia 17 de setembro de 2025. Muitos outros estão na espera de envios de emendas para serem aprovados pelos 23 vereadores constituídos.
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