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O CENTENÁRIO DE JOSÉ PEDRAL

Uma data que não pode passar em branco em Vitória da Conquista. No dia 12 de setembro de 1925 nascia José Fernandes Pedral Sampaio que, se vivo fosse, estaria completando 100 anos. Por três vezes prefeito, Pedral foi um divisor de águas e um marco na história administrativa, econômica, social e política de Conquista.

Nasceu na casa do seu avô “coronel” Gugé e, aos sete anos, foi estudar em Santo Antônio de Jesus. De lá partiu para Salvador onde fez a Faculdade de Engenharia Civil, na Universidade Federal da Bahia. Ainda jovem, com novos ideais contrários às suas origens oligarcas, retornou à sua terra natal e se candidatou a prefeito, em 1958, perdendo as eleições.

Em 1962, porém, se elegeu ao cargo aos 37 anos como o mais jovem prefeito. Não quis o destino que completasse o seu mandato porque se deparou com uma pedra no meio do seu caminho, no caso a ditadura-civil-militar de 1964, que cassou o seu mandato em seis de maio daquele ano.

Mesmo assim, nesse curto período, Pedral colocou em prática seus ideais socialistas, erguendo obras que beneficiaram os mais pobres, como o serviço de drenagem de escoamento das águas no Bairro Jurema que sempre sofria com os alagamentos em épocas de chuvas.

O mais novo prefeito apoiou as reformas de base defendidas pelo Governo Jango que, por seu intermédio, chegou a visitar Conquista, em 1963. Sua intenção maior era trazer muitos benefícios para o município, como uma barragem de abastecimento de água. Por se colocar ao lado de um governo federal que já era alvo de um golpe militar, pagou um alto preço.

Em seis de maio de 1964, as tropas militares do capitão Bendock invadiram a cidade e Pedral foi um dos primeiros presos políticos porque o novo regime o considerava subversivo e comunista. Nesse mesmo dia, na base da força, foi deposto de forma ilegítima. Logo depois ele teve seus direitos políticos cassados por 20 anos.

Nos bastidores, Pedral soube conduzir os avanços da cidade idealizando obras, como na área do saneamento básico, que depois vieram colocar Conquista como a terceira maior cidade da Bahia. No meado dos anos 80 foi novamente eleito pelo povo e depois secretário de Transportes do Estado durante a gestão do governador Waldir Pires.

Seu terceiro mandato se deu em meados dos anos 90, mas não foi bem-sucedido porque não contou com o apoio do Governo do Estado e alguns de seus secretários mancharam sua imagem de grande administrador e político sério e honesto.

Apesar de todas as dificuldades, Pedral deixou sua marca com obras estruturantes, como o Viaduto do Guarani, o Terminal de Ônibus da Lauro de Freitas, a Ceasa, dentro outras de grande porte, sempre com uma visão futurística, resolvendo, antecipadamente, os problemas de Conquista.

Como jornalista, não poupei críticas, mas sempre respeitou a democracia e não foi meu algoz. Fez suas ponderações e queixas, como em sua entrevista a mim concedida durante a elaboração do livro “Uma Conquista Cassada – cerco e fuzil na cidade do frio”, última obra lida por ele aos 89 anos no leito de morte.

Nesse centenário dos 100 anos, Pedral continuará sempre lembrado pelas antigas e novas gerações por ter deixado um grande legado para Vitória da Conquista, principalmente como um político ético, sério, honesto e honrado, predicados estes escassos nos tempos de hoje.

A INFLUÊNCIA INDÍGENA NO NORDESTE FOI MAIS MARCANTE QUE A AFRICANA

Quando falamos de mestiçagem sempre damos destaque para o negro, só que no interior do Nordeste, a influência indígena, desde os tempos coloniais, foi mais presente e marcante, com a mistura de várias tribos que conviviam com os sertanejos nos aldeamentos.

De acordo com antropólogos, folcloristas e sociólogos, a mestiçagem do branco com o negro aconteceu em maior proporção no litoral. Ao longo da história, a impressão que temos é que os índios foram riscados do mapa, talvez porque foram praticamente extintos e exterminados.

Em sua obra “Os Cangaceiros”, Luiz Bernardo Pericás assinala que o termo “caboclo” muitas vezes era popularmente usado como sinônimo de índio ou de forma pejorativa. Muitos indígenas eram tratados como negros. Numa carta do Padre Nóbrega, de 1551, o clérigo se referia às mulheres indígenas como negras.

Descreve que em 1607, o Padre Luis Figueira designava na “Relação do Maranhão”, de “negro” Cobra Azul a Bóia obi, o morubixaba potiguara. “A quantidade de escravos íncolas no Nordeste, nos dois primeiros séculos do período colonial, era volumosa, explicando por si só tanto o uso dessa terminologia como a formação étnica da região”.

Houve um grande número de nativos escravizados no Nordeste porque o número de silvícolas era bem maior, bem como o preço do cativo negro. Existem relatos de que bandeirante Sebastião Raposo levou consigo para o Piauí 250 escravos indígenas carijós onde construiria uma fazenda de gado.

Foram levados para o Nordeste, pelos paulistas (mestiços mamelucos que se consideram brancos), 170 mil indígenas, só para trabalhar na produção de açúcar. Entre final do século XIX e início do XX, os indígenas viviam num acelerado processo de aculturação e dissolução tribal. No começo do século XX, os indígenas nordestinos viviam em condições precárias, em fase de assimilação.

Os membros de algumas aldeias ainda existentes apresentavam traços fenotípicos negroides ou caucasoides. Eles conviviam com os sertanejos de povoados vizinhos e recebiam em seus territórios mascates, tropeiros, padres e todos que quisessem com eles se relacionar. Muitos esqueceram até seus idiomas. Seus vestuários e construções eram similares aos dos sertanejos.

Cita Luiz Pericás, que a aldeia Cimbres, antes chamada de Ororubá, onde viviam índios xucurus, “brancos” e mestiços, que em 1855, possuía 861 habitantes, em 1861, tinha em torno de 789 moradores. Em 1897, o governo decidiu extinguir a aldeia. Os nativos ficaram sem seu território. Um século mais tarde, viviam aldeados na serra do Orurubá.

Os Pankararus, no sertão pernambucano, também são um caso sintomático. Eles remontam do século XVII, quando foi criada a vila Tacaratu. Em meados do século XIX havia apenas 580 indígenas. Em 1861, esse número diminuiu para 270 habitantes. Havia grande quantidade de posseiros “brancos” na região.

Nas primeiras décadas do século XIX ocorreu uma grande dispersão de uma diversidade de tribos indígenas no sertão de Pernambuco. Ao longo do tempo, as populações indígenas foram desaparecendo e tratadas como caboclos sertanejos.

Algumas tribos procuraram manter suas culturas, como os fulniôs (carijós) pernambucanos que preservaram sua língua iatê e continuaram realizando suas cerimônias de culto ao Juazeiro Sagrado na caatinga. Mesmo assim, foram sendo tragados pelos sertanejos que compravam seus lotes de terras.

Em 1861 o governo imperial extinguiu a aldeia devido aos conflitos entre índios e “brancos” locais. Somente em 1877 as terras nativas foram demarcadas.  No entanto, a partir de 1916 a relação entre eles se tornou insustentável. Muitos dos habitantes originários foram expulsos.

Outros índios que tiveram destaque na formação da mestiçagem nordestina foram os cariris, tapuaias (Ceará, Paraíba), os tupinambás, Pataxós, aymorés e outros, na Bahia. Segundo Pericás, é compreensível que os cangaceiros, portanto, fossem produto de seu meio e tivessem em suas fileiras a mesma formação ética da região.

O Cabeleira, o bandido pernambucano do século XVIII era apresentado por alguns escritores como “brancoso”, de cabelos longos encaracolados. Outros o descreviam como mameluco e mestiço. Nesse ambiente de intensa mestiçagem, onde muitos bandoleiros eram caboclos ou cafuzos, existia lá dentro o preconceito contra o homem de cor.

Os Calangros, chamados de cabras, famosos bandidos potiguares, formavam uma grande família de mestiços, produtos do cruzamento do índio e do africano. O cabra era pior do que o caboclo e o negro.

 





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