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:: 11/set/2025 . 22:23

UM LUGAR PRA CHORAR

(Chico Ribeiro Neto)

Quando eu morava na casa 33 da Ladeira dos Aflitos tinha um quintal que dava vista pra Baía de Todos os Santos. Havia um pequeno muro, uma grade e lá embaixo a baía, onde eu depositava minhas notas baixas e minhas tristezas. Às vezes chorava. Era bonito, no São João, ver os balões caindo no mar.

O que é que você faz quando está triste? Minha amiga Regina, de saudosa memória, chutava pedras na rua.

Tá triste? Faça tudo, menos ficar parado. Vá caminhar, lavar roupa, varrer a casa, molhar as plantas, ler, ouvir música. Rasgar papel também serve. Puxar os cabelos é outra opção.

Uns compram rosas, outros dormem ou tomam remédio. Outros escrevem.

“Entupa”, dizia meu pai Waldemar depois de me dar uns tabefes. Não sei porque alguns pais e mães (naquele tempo e até hoje) têm mania de mandar o filho engolir o choro.

Tem gente que chora fazendo “buá-buá”, bem alto, e tem gente que chora pra dentro, mal pinga uma lágrima.

Fico pensando que em cada cidade deveria haver um Chorador público, onde você não precisava pagar pra chorar. Poderia se chamar também de Choradouro ou Choródromo. Não sei como seriam as instalações, mas deveria ter plantas e silêncio. Um Chorador público, onde o político derrotado poderia derramar suas mágoas em vez de ficar planejando dar um golpe. Seria um lugar acolhedor também para a torcida do Vitória.

Logo, logo, as imobiliárias vão implantar choradouros na Linha Verde e na ilha de Itaparica, com sofisticadas instalações e o cartaz: “Aqui você chora em paz e em segurança”. Entre outras novidades, haverá ombros criados pela IA.

Vai um trecho do magistral samba “Não Tenho Lágrimas”, de Milton de Oliveira e Max Bulhões:

“Quero chorar

Não tenho lágrimas

Que me rolem nas faces

Pra me socorrer

Se eu chorasse

Talvez desabafasse

O que sinto no peito

E não posso dizer (…)”

 

Deixe esse papo maneiro

O melhor lugar pra chorar

Ainda é o travesseiro.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

UM ATENTADO À SAÚDE PÚBLICA

Os moradores do loteamento Sobradinho e imediações do Miro Cairo (Bairro Zabelê), em Vitória da Conquista, estão diariamente expostos à poluição de fuligens em suas casas, provocadas pela “Sucata Esperança”, o sucatão, sem contar o barulho infernal das máquinas e caminhões que soltam poeiras pelas redondezas. Essa sucata é um verdadeiro atentado à saúde pública, pois centenas de pessoas convivem com uma série de doenças, principalmente aquelas que já sofrem de problemas respiratórios. Um trabalhador, que foi prestar um serviço à empresa, contou que em pouco tempo se deparou com escorpiões, ratos, cobras e insetos de diversas espécies que invadem as habitações mais próximas.  Contra essa situação de perigo constante, um grupo de moradores já elaborou um documento com um abaixo-assinados à Prefeitura Municipal, solicitando uma providência urgente do poder público no sentido da relocalização do sucatão. Como resposta teve o silêncio e o engavetamento da reivindicação, mais que justa porque se trata de uma questão de saúde. Nossas lentes flagraram este absurdo que nenhum prefeito se dispôs a solucionar e atender o clamor desses milhares de moradores. Existem pessoas que já convivem todo tempo com tosses persistentes, falta de ar e nem conseguem dormir bem durante à noite. Muitas casas próximas ficam fechadas durante todo dia porque não podem abrir as portas por causa da fuligem. Mesmo assim, sempre estão sujas e precisam ser limpas constantemente. Muitos levam a coisa até no deboche e chamam essa parte da cidade de a rota do lixo. O Ministério Público, a Câmara de Vereadores e outros órgãos precisam avaliar a questão e pressionar a prefeitura a resolver o problema porque o sucatão representa a morte prematura de muita gente.

PEDAÇOS DE MIM

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Meus sentimentos,

Vagueiam em alto mar,

Como pedaços de mim;

Meu choro rasga minhas entranhas:

São lágrimas internas em meu jardim,

Como pedras que rolam das montanhas.

 

Pedaços cortados de mim,

Amor inculto a dilacerar;

Sou como pássaro solitário,

Na caça da fome a voar.

 

Pedaços entrelaçados de mim,

Tropeço aqui e acolá;

Na estrada que tem seu fim:

Morte, castigo do Alá.

Sou apenas um passageiro,

Vulto, sombra e confusão,

No andar cambaleante da contramão.

 

Pedaços doídos de mim:

Dizem que a vida é canção.

Nas curvas, não vejo assim, não,

Quando bate a melancolia,

Parto para outra estação.

 

Minha alma está inerte,

Nesse cenário teatral;

Navegam pedaços de mim

Pelo mundo sideral.

 

Vem a tempestade e me açoita,

Sem pena e compaixão;

Seguro firme no chão,

Sinto que ela vai me estraçalhar,

Mas sou guerreiro forte,

Sei que vou me salvar.





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