Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Revoltam Severino e Maria,

Um vai pro cangaço,

O outro entra na volante

Porque não existe outra via.

 

Pelo espinhaço do sertão

Entre espinhos e garranchos,

No lajedo agreste do Nordeste,

Pobres miseráveis em seus ranhos,

Cortam o cangaço e a volante,

Em seus picados matreiros

Nessa terra de gigante.

 

Lá vão Antônio Silvino,

Lampião, Sinhô Pereira,

Corisco e Jesuíno Brilhante,

Bandos de valentes guerreiros,

Na tora da bagaceira,

Nos rastros de seus coiteiros.

 

O Cangaço chama a volante

De “macaco” bandido,

A volante de salteador bandoleiro,

E o povo se lasca num “partido”.

 

Cabeças decepadas e degoladas,

Gargantas cortadas sangradas,

Corpos esquartejados ferrados,

Como gado magro em manadas,

Sangue a jorrar pelo chão,

De pedregulho, seco estorricado,

Fardas esfarrapadas,

Mulheres escravas estupradas,

O cangaço e a volante

Criados pelo sistema dos coronéis,

Doutores, senhores de engenho,

Com suas afiadas chibatas de anéis.

Ditam suas sentenças,

Impõem seus costumes,

Baseados em suas crenças.

 

O murmúrio se cala no além

Pelas armas do rifle, fuzil e do punhal

Nessa região de ninguém

Onde o choro fica entalado,

Em meio à desgraça e o cabedal.

E o cangaço e a volante

Fazem sua carnificina brutal.

 

O cangaço com sua canga,

No cipó de boi torturador,

Arranca olhos e retalha peles.

Tem até o ferro castrador,

Ferraduras, lapadas de reio cru,

Nesse inferno de fogo e aço,

Crucifica humanos no mandacaru.

 

A volante ainda é mais cruel

Com suas barbaridades medievais

Riscam como raios do céu.