:: 4/set/2025 . 23:01
“EU QUERO É ROSETAR”
(Chico Ribeiro Neto)
Adoro ler placas nas portas de casa, de garagens, pichações, frases nos postes (a gente devolve seu amor em 48 horas), parachoque de caminhão e outras mais.
Num restaurante de um posto de gasolina, na estrada para Caculé (BA), tem um cartaz junto à pia: “Favor lavar somente as mãos”.
Antigamente tinha um cartaz nos ônibus rodoviários: “Proibido fumar cachimbo, charuto e cigarro de palha”. O cigarro normal podia.
Frase em parachoque de caminhão: “Se nosso amor virou cinza é porque eu mandei brasa”.
Cartaz num buteco de Caculé: “Aqui não entra bêbado. Só sai”.
Vi esse cartaz colado num poste do canteiro central da Avenida Centenário, em Salvador: “Luciano, você está me traindo com meu irmão. Tenho imagens”. Abaixo do cartaz vinha um QR Code. Eu estava sem celular. No dia seguinte o cartaz estava todo dilacerado.
Em Brumado (BA) o dono de uma casa pintou no muro, com letras grandes em tinta preta: “Proibido colar cartazes”.
Faustino foi um importante personagem nos muros da Pituba, Barra e Graça de 1979 a 1985. As pichações diziam:
“Faustino cheira o fio dental”.
“Faustino faz piquenique no motel”.
“Faustino malha com a pochete na cintura”.
Alguns jornalistas chegaram a comentar que Faustino era o retrato de um cara classe média, mas o criador do personagem, o artista plástico Miguel Cordeiro, disse numa entrevista ao site Bahia Notícias (2/3/2013): “O cara pode ser rico e ser Faustino e pode ser pobre e ser Faustino”.
“Faustino canta no coral da empresa”.
“Faustino atrasa no caixa eletrônico”.
Um novo morador chegou numa cidade do interior. Era um caminhoneiro e no parachoque dianteiro do veículo estava escrito: “Eu quero é rosetar”.
Os defensores da moral e bons costumes, os “cidadãos de bem”, foram reclamar às autoridades.
O padre, o prefeito e o juiz intimaram o caminhoneiro a tirar aquela frase “obscena” do parachoque. Ele assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) e foi marcada a data de lançamento da nova frase.
Cinco dias depois, presentes as três autoridades locais, mais o delegado, o presidente do Centro Cívico do colégio, membros da Maçonaria e outros, a filarmônica tocou o hino nacional. Prefeito, padre e juiz retiraram o pano que cobria o parachoque e estava escrito: “Continuo querendo”.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com)
SESSÃO DISCUTE QUESTÕES TRIBUTÁRIAS
Na pauta de hoje (dia 05/09/2025), a sessão plenária da Câmara Municipal de Vereadores vai discutir projetos enviados pelo poder executivo, tais como o Programa Municipal de Estímulo à Conformidade Tributária- ConformISS, a alteração na regulamentação da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip), que passa a se chamar Contribuição para Custeio dos Serviços de Iluminação Pública e Modernização Urbana (Cosip-UM. Pode ter certeza que vem aí mais taxas e custos para os moradores. Esses projetos só mudam de nome.
O legislativo também vai apreciar seus projetos de Criação do Programa Municipal de Prevenção e Combate à Obesidade Infantil, a implantação do Selo “Escola Amiga da Educação Inclusiva”, dentre outros. Durante os trabalhos, a Câmara também vai conceder, mediante aprovação, títulos de cidadãos conquistenses. A população precisa estar mais presente nas sessões da Câmara para emitir suas opiniões contra ou a favor.
“AMÁLGAMA”, UMA EXPOSIÇÃO DE ROMEU FERREIRA E ALBERTO BRANDÃO
Vale a pena dar um pulo no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima e fazer uma reflexão sobre “AMÁLGAMA”, uma exposição de dois renomados artistas Romeu Ferreira e Alberto Brandão que, cada um com seus estilos diferentes, unem rostos e corpos de gentes negras e indígenas nordestinas, que juntas formaram essa mestiçagem mameluca originária também de portugueses, judeus e árabes.
Romeu, um artista inconfundível a partir de suas expressões fortes de linhas e riscados predominantemente preto e branco, como se sua arte penetrasse nas entranhas profundas do físico e do mental das pessoas, com seus alaridos externos e internos. Brandão entra no mesmo sentido filosófico-político e social dessas raças humanas, porém com suas imagens coloridas.
“AMÁLGAMA”, palavra que vem do árabe e significa mistura ou ajuntamento de pessoas ou coisas diferentes. É como misturar o mercúrio com outro metal. A princípio parece uma confusão de alquimistas que terminam encontrando uma fórmula única para dar significados diferentes a uma mesma coisa, a um mesmo sentido.
É uma viagem ao mundo artístico sobre seres humanos específicos, vistos pelas lentes ou pinceis de cada um dos artistas. Cada um, dentro da sua visão, vê a mesma coisa, mas com pinturas diferentes que agradam o expectador, principalmente o apreciador da arte e da cultura.
É uma linguagem onde cada um viaja no seu imaginário e faz a sua livre interpretação. A pintura nos leva a essa dimensão metafísica. Romeu Ferreira e Alberto Brandão nos transporta para esse mundo nordestino, retratando o negro, o indígena e o “branco” mameluco.
PLACAS DO AGRESTE
O Nordeste agreste não é somente cultura e histórias, muitas das quais de violência e miséria de um povo há séculos abandonado e explorado pelos coronéis, senhores de engenho e governantes. Do seu chão irrigado brotam frutas e outras lavouras de sequeiro de sustento do nordestino trabalhador e forte. Seu solo pode árido, mas é fértil. Tem o vento e o sol escaldante quase o ano inteiro que também produzem energia, como estas placas solares extraídas das nossas lentes, em Anagé, distante pouco mais de 50 quilômetros de Vitória da Conquista, na boca do sertão sertanejo do mandacaru. O Nordeste é hoje o maior produtor dessa energia limpa, a solar e a eólica, no Brasil. Só que a ganância do capitalismo selvagem ainda opta pelos combustíveis fósseis poluidores do meio ambiente. Toda essa riqueza está aqui bem perto de nós, só que necessita de mais investimentos. Infelizmente, as outras regiões, sobretudo a sulista, e a grande mídia ainda têm uma visão estereotipada do Nordeste onde só se mostram as barbaridades do cangaço e das volantes de antigamente, sem falar da pobreza. O Nordeste é muito mais que isso.
O CANGAÇO E A VOLANTE
Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Revoltam Severino e Maria,
Um vai pro cangaço,
O outro entra na volante
Porque não existe outra via.
Pelo espinhaço do sertão
Entre espinhos e garranchos,
No lajedo agreste do Nordeste,
Pobres miseráveis em seus ranhos,
Cortam o cangaço e a volante,
Em seus picados matreiros
Nessa terra de gigante.
Lá vão Antônio Silvino,
Lampião, Sinhô Pereira,
Corisco e Jesuíno Brilhante,
Bandos de valentes guerreiros,
Na tora da bagaceira,
Nos rastros de seus coiteiros.
O Cangaço chama a volante
De “macaco” bandido,
A volante de salteador bandoleiro,
E o povo se lasca num “partido”.
Cabeças decepadas e degoladas,
Gargantas cortadas sangradas,
Corpos esquartejados ferrados,
Como gado magro em manadas,
Sangue a jorrar pelo chão,
De pedregulho, seco estorricado,
Fardas esfarrapadas,
Mulheres escravas estupradas,
O cangaço e a volante
Criados pelo sistema dos coronéis,
Doutores, senhores de engenho,
Com suas afiadas chibatas de anéis.
Ditam suas sentenças,
Impõem seus costumes,
Baseados em suas crenças.
O murmúrio se cala no além
Pelas armas do rifle, fuzil e do punhal
Nessa região de ninguém
Onde o choro fica entalado,
Em meio à desgraça e o cabedal.
E o cangaço e a volante
Fazem sua carnificina brutal.
O cangaço com sua canga,
No cipó de boi torturador,
Arranca olhos e retalha peles.
Tem até o ferro castrador,
Ferraduras, lapadas de reio cru,
Nesse inferno de fogo e aço,
Crucifica humanos no mandacaru.
A volante ainda é mais cruel
Com suas barbaridades medievais
Riscam como raios do céu.
- 1