:: 2/set/2025 . 23:17
DUAS FACES DA MESMA MOEDA
É bom que fique bem claro que não estou aqui me colocando em posição contrária ao julgamento dos réus que tramaram um Golpe de Estado contra a democracia no final do Governo do ex-capitão Jair Bolsonaro, o “Bozó”, culminando com o atentado aos três poderes em oito de janeiro de 2023.
No entanto, quando falo de duas faces da mesma moeda, isso me faz lembrar do julgamento parecido do Supremo Tribunal Federal –STF sobre a questão da anistia geral e irrestrita decretada em 1979 onde incluía os torturadores da ditadura civil-militar de 1964.
Os ministros do colegiado decidiram não punir os criminosos que torturaram, mataram e desaparecerem com centenas de corpos de presos político que se opunham ao regime. O tratamento deveria ser o mesmo, mas os mentores nem foram a júri.
Como há mais de 50 anos, as provas agora são bem claras e o plano só não deu certo porque não teve a adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, bem como de outros oficiais que rechaçaram a ideia maldita. Eles se recusaram a entrar nessa barca furada dos trapalhões.
Se houvesse a adesão total das forças armadas, quem iria governar o país com mão de ferro seria uma junta militar e não o Bolsonaro, como muitos seguidores, que foram às ruas pedir intervenção militar, imaginavam. Como diz o ditado popular, iam “cair do cavalo”. Eles apenas estavam sendo usados como bucha de canhão, ou como inocentes úteis.
O esquema era tão “doido e maluco” que visava matar o presidente eleito da República, seu vice e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. No meio uns generais de pijama como maiores incitadores para derrubar a democracia e implantar um regime de opressão.
Em toda trama ditatorial existem fatos parecidos e objetivos similares, só que a ditadura de 1964 já vinha sendo urdida e esquematizada desde o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. As cabeças eram mais pensantes e houve várias tentativas pelo caminho, incluindo a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e a posse do vice João Goulart.
Naquela época da Guerra Fria entre Estados Unidos e Rússia, o maior inimigo era o comunismo que dividia parte dos países com o capitalismo. Havia até uma adesão do governo norte-americano que não queria ver outra Cuba na América Latina. A situação geopolítica era diferente.
Em 1964, no início do movimento, também não houve adesão de todos generais, mas o vacilo de Jango fez o jogo mudar, e a Igreja Católica, junto com a classe média conservadora, empurrou mais ainda nosso país para o abismo.
Dessa vez, os extremistas de direita e os evangélicos tentaram também colocar o comunismo como inimigo, mas não emplacou, sem contar a reação contrária das comunidades internacionais, inclusive do Governo dos Estados Unidos, não do atual.
Quanto ao este julgamento, pelas evidências de documentos, das ações e falas em reuniões e praças públicas, das declarações do delator Mauro Cid, dos acampamentos diante dos quartéis, dentre outras tramas, existem provas contundentes que poderão criminalizar e até punir os réus com cadeia, mas não por muito tempo.
O julgamento em si já é uma resposta e serve como exemplo para que outros não tentem mais na frente armar um Golpe de Estado contra a democracia. Pelo menos já é um fato inédito na história do Brasil ter no banco dos réus um ex-presidente que tentou dar um golpe num governo eleito pelo povo.
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