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:: 28/ago/2025 . 23:53

A NOSSA CULTURA ESTÁ NA UTI E PEDE SOCORRO PARA SER REANIMADA

O grupo “Estradeiros da Cultura”, do Sarau A Estrada, abriu uma discussão muito pertinente sobre a situação lamentável em que vive hoje a cultura em Vitória da Conquista, talvez nunca vista em sua história.

Dentro desse debate, cada membro se expressou livremente e apresentou suas sugestões para contribuir com o “Movimenta Cultura Conquista”. É bom que fique claro que se trata de uma manifestação suprapartidária, porque a única política que nos norteia e une é a luta por uma política cultural no município.

O “Movimenta Cultura Conquista” soltou uma nota pública no último dia 25 de agosto, onde faz um apelo ao poder executivo para que a classe artística e a sociedade civil sejam respeitadas em suas principais reivindicações, quais sejam abertura dos equipamentos Teatro Carlos Jheovah, Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha há anos fechados.

A princípio, o Sarau A Estrada está elaborando uma carta onde pontua diversas reivindicações, como criação de um Plano Municipal de Cultura, Aumento do Orçamento Municipal  para a Cultura na LDO para 2026, Reforma do Teatro Carlos Jehovah, Construção de um Centro de Convenções, Investimentos em Todas as Formas de Expressão Artística, Novo Espaço para o Conservatório de Música, Ampliação de Vagas, Contratação de Instrutores e Novos Módulos nos Bairros, Política de Salvaguarda do Patrimônio Cultural e Retomada do Natal da Cidade com Foco na Produção Local,

A gestão atual se mentem em silêncio. “É sabido que há muita dificuldade de escuta aos coletivos organizados por parte do grupo que governa a cidade” – informa a nota confirmando que foi entregue um documento com quatro mil assinaturas no início do ano sobre várias questões que constituem entrave para a revitalização da nossa cultura.

Cita ainda que o Gabinete Civil recebeu o Movimenta, em 25 de março, acompanhado do secretário de Cultura, Eugênio Avelino (Xangai) e do coordenador Alexandre Magno “e nada de relevante foi apresentado”. Destaca que o grupo esperou por uma nova reunião marcada para o dia dois de maio, o que não aconteceu.

O documento assinala precarização dos trabalhadores da cultura, fechamento dos equipamentos, deterioração do patrimônio público e retorno de verbas da cultura para a União no valor de quase meio milhão de reais referentes aos editais das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Aponta também a descaracterização do nosso São João mediante privatização da festa, com gastos em torno de quatro milhões de reais.

“O evento deixou de acontecer no Espaço Glauber Rocha (Bairro Brasil) para ser realizado num local privado do Parque de Exposições. Dessa forma, torna-se urgente ampliar a mobilização e a luta por parte do setor cultural e da sociedade”. Todos são cumplices por esse atraso cultural, especialmente os poderes executivo e legislativo – completa o documento.

O Movimenta fala da necessidade de efetivação de políticas públicas para a cultura, mas deixou de reivindicar a criação do Conselho Municipal de Cultura, de suma importância para, através de leis, estabelecer diretrizes para a cultura que está sendo tratada como sobra de orçamento.

Bem, foi com base nesse documento que membros do Sarau A Estrada fez suas devidas colocações no intuito de contribuir para a melhoria da nossa cultura. Como os canais foram fechados, a única saída seria uma mobilização pacífica de protesto em frente da prefeitura abrangendo representantes de todas linguagens artísticas – conforme sugestões apresentadas.

O Sarau, fazedor de cultura, se integra e apoia o Movimenta em suas reivindicações e endossa a nota pública visando revitalizar o setor. A criação do Plano Municipal é uma antiga demanda da categoria.

De acordo com manifestações de membros do Sarau, os espaços fechados vêm prejudicando os artistas que ficam sem locais para realizar seus ensaios e apresentações de seus espetáculos.

“Na maioria das vezes não se tem uma política voltada para a formação e a educação da juventude no que se refere a uma visão transformadora e científica crítica. O sistema não favorece a proliferação de uma massa consciente crítica” – ressaltou um membro do Sarau.

Em minha opinião, o Sarau deve e tem a obrigação de tomar uma posição sobre tudo isso que está ocorrendo com relação ao desprezo com a nossa cultura. Afinal de contas, somos também um movimento cultural. O músico e compositor Manno Di Souza chama a atenção de que não houve respostas às reivindicações feitas.

”A situação em Vitória da Conquista é realmente preocupante e reflete uma questão mais ampla sobre o papel da cultura na sociedade. Quando o diálogo é silenciado e os espaços culturais são abandonados, a própria cidade perde sua alma. A cultura em sua essência, é a voz de um povo, o espelho de sua identidade e o motor de sua evolução”. – Ubuntu, A…

Para o músico Manno, Conquista tem um grande número de habitantes oriundos do sudeste e centro-oeste que não têm conhecimento da cultura do município, sobretudo da cultura nordestina. A professora Maria José afirma não entender como a pasta da cultura está nas mãos de uma artista renomado e o setor municipal está travado.

Em minha visão, precisamos de mais apoio das mídias em geral e mobilização de todos aqueles que fazem cultura em nossa cidade, saindo do individualismo e partindo para o coletivo. A professora Dayse, antes das eleições, fez um movimento com abaixo-assinado, mas não se sabe no que resultou.  Um grupo chegou a angariar assinaturas nas feiras. Todo trabalho terminou em silêncio.

A classe artística também tem sua parcela de culpa nesse caos. “Por mais que se tente unificar os movimentos culturais, esbarra-se no individualismo, vaidades e estrelismos de alguns colegas que dirige, ou dirigiu alguns desses movimentos. A unificação pontual mudaria tudo “ – enfatiza Manno.

Dal Farias e a atriz Edna dizem estar de acordo que haja uma manifestação de todos, inclusive do legislativo. O blog Avoador publicou uma matéria onde ressalta que o coletivo de artistas denuncia o descaso da prefeitura com o setor cultural. O grupo alega que não consegue diálogo.

Muitos apontam que a nossa cultura está sendo privatizada, como aconteceu no São João. O poeta, escritor e memorialista Carlos Maia também brada sobre esse descaso, principalmente quanto ao fechamento dos equipamentos culturais.

“Temos que fazer uma convocação geral para uma manifestação de protestos” – sugerem alguns artistas, acrescentando que está comprovado que documento não funciona porque termina sendo engavetado. O artista e cantor Dorinho Chaves concorda nestes pontos.

Para Eduardo Morais, tem que haver um levante nesta cidade, de forma organizada como instrumento de alertar a comunidade e a imprensa sobre o descaso dos poderes públicos em relação às práticas culturais. A maioria concorda com essa posição. Denunciar, mobilizar e reivindicar atenção à nossa causa que é também da população conquistense” – diz a professora Viviane Gama. A atriz Edna sugere se fazer o teatro do absurdo.

TOCOU, LEMBROU

(Chico Ribeiro Neto)

Com 12 anos eu queria namorar com uma menina lá da rua, mas ela queria um estudante de Medicina que não a queria, e passava perto de mim, em Salvador, cantando:

“Quem eu quero não me quer

Quem me quer é muito pequeno”.

Era uma versão adaptada da música “Quem em quero não me quer”, de 1961, de Raul Sampaio e Ivo Santos.

Eu gostava muito de cantar no banheiro do casarão 33 da rua Gabriel Soares ( Ladeira dos Aflitos), que ficava no primeiro andar e tinha uma janela que se abria para o mar,  e acho que minha voz chegava até “quem eu quero não me quer”, quase minha vizinha.

Nessa época cantei muito “Pensando em Ti”, de David Nasser e Herivelto Martins, grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves, gravada em 1957:

“(…) Nos cigarros que eu fumo

Te vejo nas espirais

Nos livros que eu tento ler

Em cada frase tu estás (…)”

Aos 11 anos cantei muito, no banheiro que tinha janela, “Quero Beijar-te as Mãos”, de Lourival Faissal, gravada pelo baiano Anisio Silva em 1957.

Em 1960 Anisio Silva gravou “Alguém me Disse”, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, e fez tanto sucesso que recebeu o primeiro Disco de Ouro do Brasil.

“Alguém me disse que tu andas novamente

De novo amor, nova paixão, toda contente (…)”.

Meu pai Waldemar tinha o disco “O Ébrio”, com Vicente Celestino, em 45 rotações. Aos 12 anos eu decorei todo o monólogo que antecede a música e fazia sucesso nas rodas da família. “Nasci artista,fui cantor”, assim começava o monólogo.

Teve a fase das matinês dançantes no Clube Comercial, na Avenida Sete de Setembro, e no Clube Sergipano, na Boca do Rio.

Aí eu já tinha uns 15/16 anos e colava o rosto nas garotas ao som do Trio Irakitan, com “Bejame Mucho”, “Perfídia” e “Solamente una Vez”. A gente dançava também ao som das orquestras de Ray Conniff e de Waldir Calmon.

E aí chega o Carnaval. Pulei nos bailes infantis do Clube Fantoches da Euterpe, na rua Democrata, perto do Largo 2 de Julho, do Clube Espanhol (na Vitória), e no Iate Clube, onde a turma entrava de “penetra” pelo mar, nadando nu com a roupa na cabeça.

“Quem sabe, sabe

Conhece bem

Como é gostoso

Gostar de alguém (…)”

 

“Ei, você aí,

Me dá um dinheiro aí

Me dá um dinheiro aí (…)”

 

“Vou beijar-te agora

Não me leve a mal

Hoje é Carnaval (…)”

 

Um dos maiores sucessos do Carnaval baiano foi “Chuva, Suor e Cerveja”, de Caetano Veloso:

“Não se perca de mim

Não se esqueça de mim

Não desapareça

A chuva tá caindo

E quando a chuva começa

Eu acabo de perder a cabeça (…)”

Toca Raul!

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

OS ATESTADOS DE ÓBITOS

Somente agora, depois de mais de 40 anos, o governo federal, através do Conselho Nacional de Justiça, vem liberando os atestados de óbitos de presos políticos pela ditadura civil-militar de 1964 com a verdadeira causa morte devido a torturas nas prisões do regime. Até, então, esses corpos eram dados como desaparecidos ou com laudos falsos da causa morte. Em minhas andanças, por coincidência, nossas lentes flagraram nas barrancas do rio São Francisco, o “Velho Chico”, ou Opará, no cais da orla de Petrolina (Pernambuco), inscrições em grafite indagando onde estão os mortos da ditadura. Os atestados verdadeiros, no entanto, não fecham as feridas abertas daquele tenebroso regime que torturou, matou e desapareceu com centenas de corpos. Pela anistia geral e irrestrita imposta à sociedade, em 1979, os torturadores no Brasil ficaram impunes, diferente de outros países da América do Sul (Argentina, Uruguai e Chile) que colocaram na cadeia os generais e oficiais que torturaram e mataram milhares de presos políticos que lutaram contra a opressão. Portanto, os novos atestados servem apenas como paliativos porque muitas famílias não tiveram o direito de enterrar seus parentes, conforme manda a tradição cristã.

POR ESSAS TRILHAS NORDESTINAS

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Sou cavaleiro encantado,

Como um D. Quixote

Por essas trilhas nordestinas:

Terras agrestes milenares,

Milhas de misteriosas ilhas,

De gentes diferentes espartares,

Parando o tempo,

Cortando a lâmina do vento,

Entre torres e placas solares.

 

Por essas trilhas nordestinas,

De culturas únicas no Brasil,

De expressões misturadas divinas,

Região resistente varonil:

Vejo as floras agrestinas,

A caatinga que esgarça na seca,

A chuva que brota na restinga,

Floresce todo aquele mundão,

E o preto velho faz sua mandinga.

 

Vejo o cangaço de aço,

Na ponta do rifle e do punhal,

As matas feras ribanceiras,

O céu que dá o seu sinal,

Rios com suas corredeiras,

Meu prateado luar,

As águas cortando curvas,

Rumo às portas do mar.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vejo os senhores de engenho,

Mirrados meninos e meninas,

Coronéis que perderam seus anéis,

Poetas, trovadores-repentistas,

Os grandes riscados cordelistas,

Dos lajedos, cavernas e grutas,

Nascer a cultura e a literatura,

Desse povo de muitas lutas;

De suas nascentes ainda jorrar,

A tradição rica e popular.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vejo feiras de trabalhadores,

Com suas enxadas e foices,

Machados, cabaças e facões,

Poderosos dando coices,

Asas parar no ar,

O voo dos carcarás e gaviões,

O choro calado em cada lar,

A exploração dos patrões,

O som rasgado de Zé Ramalho,

A fé que não faia do Gil,

O protesto de Vandré,

Na gaita melódica do vinil,

De Caetano o sol bater,

Nas bancas de jornais,

Cantando Alegria, Alegria,

Atrás dos trios dos carnavais.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Cada humano cruzando estradas,

No jumento em suas picadas,

Gado ferrado em manadas,

Do cangaceiro Antônio Silvino,

As dores que perderam o nome,

Nos cantos dos casebres da fome.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vejo a Colônia perversa passar,

O império e a nobreza prometer,

E a oligarquia nos violentar;

Vejo o capitão Virgulino,

O Conselheiro e seus penitentes,

A emboscada do pistoleiro assassino,

O pau de arara comendo poeira,

Mutirões em suas frentes,

A mulher solitária rendeira,

Compositores e escritores,

Que nos deram régua e compasso,

O vaqueiro certeiro no laço,

E assim vou seguindo,

Meu destino no lento passo.

 

Por essas trilhas nordestinas,

De tantas caras e faces,

Umas duras enrugadas,

Outras de semblantes magoadas,

Vejo o alvorecer das madrugadas,

O pôr do sol ensanguentado,

Brilhar nas pinturas rupestres,

Os registros se eternizar,

Nas escrituras dos mestres.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Vou voando como pássaro aguerrido,

Neste Nordeste querido,

Único neste universo,

No sangue do meu sentimento,

Como do escravo seu lamento,

Da mãe África a enxugar suas lágrimas,

Nos porões negreiros,

Para ser trono dos estrangeiros.

 

Por essas trilhas nordestinas,

Do Maranhão a Paraíba,

Do Pernambuco a Piauí,

Sergipe e a velha Bahia,

Das Alagoas e o potiguar,

Nas farturas das frutas e do pequi,

Cada estado em seu lugar,

No imposto de sangue,

Na vindita da canga,

Justiça de armas nas mãos,

Astutos canibais dos matutos,

Vejo muita luz e energia,

Nesses rostos sofridos,

De José e Maria.

 





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