:: 25/jun/2025 . 22:52
A MULHER “PORTA-CELULAR”
Detesto sair de casa para resolver “pepinos”, ou BOs, como muita gente prefere falar quando se refere a problemas. Acho que ninguém gosta, a não ser quando se vai a passeio para olhar vitrines e fazer compras para sentir aquela sensação de prazer consumista.
Na maioria são mulheres com uma penca de filhos arrastando sacolas num frenesi de entra e sai das lojas, principalmente em épocas festivas. Os pais também acompanham, mas bem menos.
Em meu caso, nem isso me agrada, nem mais para tomar umas num boteco, como nos velhos tempos. Cruzar com muitas pessoas e andar em multidão me deixa em pânico. Será que estou precisando de um analista?
Quando sou obrigado a ir, talvez como terapia, aproveito para observar o comportamento das pessoas, os mais diversos e que chamam a atenção pelas suas atitudes. Umas são engraçadas, a cara do Brasil, e outras são lamentáveis.
Uns se mantém calados cuidando de suas obrigações. Outros são escandalosos que falam alto e individualistas que não respeitam o direito do outro no ambiente público. Até parecem que estão em suas casas. Tem aqueles que tentam burlar a fila, trapacear e existem os mais conscientes e humanos. Tem para todo gosto do cliente.
Essas mercadorias você encontra mais em repartições públicas, bancos, clínicas, eventos diversos e nas ruas, praças e avenidas. Quanto maior a cidade, mais elementos que servem de matéria-prima para escritores, poetas e humoristas.
Na véspera de São João, segunda-feira, fui ao banco resolver um BO e lá estava uma mulher de muleta com o pé enfaixado de gazes (deve ter levado uma queda ou uma topada) que me chamou a atenção.
Como as coisas andam em termos de vigarices e golpes, poderia até ser uma simulação. Sabe do caso daquele indivíduo que foi fazer uma perícia médica no INSS de cadeira de rodas e depois saiu andando na maior cara de pau? Nunca se sabe!
Estava na fila prioritária, que não tem nada de prioridade, e ela girava mancando falando bem alto com o celular na mão o tempo todo. Mais parecia uma mulher porta-celular. Não desgrudava do aparelho e lá ia ela pulando de muleta de um lado para o outro. Não se apartava do bendito celular.
Teve um momento que ela saiu gritando quem podia trocar 50 reais. Às vezes ia lá fora e não parava de conversar no celular, de uma forma tão escandalosa que lá de dentro se escutava tudo quanto ela dizia. “Coloca um pix”! Sentava, levantava, rodava como peru, sempre com aquele celular na mão e pulando de muleta.
No momento, agoniado e impaciente na fila, lembrei da música “O Chato”, de Oswaldo Montenegro. Foi o talento da imaginação se cruzando com a realidade.
Era uma cena hilária e literária! A mulher era muito da chata. Um vídeo com ela nas redes sociais, para quem gosta de besteiras, daria milhares de visualizações e seguidores em poucos minutos.
Para completar o quadro, um senhor baixinho atrás de mim não parava de bulir no celular. Foco total que nem viu a cena! No Banco do Brasil, a gerência colocou duas filas, uma prioritária e outra convencional, só para pegar a senha, e o funcionário chama um de cada vez, de maneira intercalada. Ora, só queria saber mesmo o que tem de prioridade nisso!
– É pura enganação – reclamava uma idosa de lá que preferiu ficar na outra fila normal, ou convencional. O guarda até achou estranho, mas depois disse que ela estava no seu direito de escolha.
Coisa foi lá no segundo andar! Cada um sofredor e desrespeitado chega com sua senha na mão de olho no painel de chamada. Tome ansiedade na espera da sua vez! No entanto, a mulher porta-celular nem estava aí e continuou a exibir seu espetáculo.
Sentou com sua filha e outra amiga, falando alto. Das sacolas, sacou umas roupas íntimas que havia comprado. Nelas consegui ver uma meia fina de pernas, sei lá, sutiãs, e o mais inusitado, umas calçolas. Coisa de louco, meu irmão!
No outro assento, mais ao lado, aquele senhor do celular começou a ouvir vídeos na maior altura e dava suas risadas, como se estivesse só. Ele chegou a incomodar tanto os outros, que uma pessoa da vigilância da instituição teve que ir lá e mandar que ele desligasse os vídeos.
Não é brincadeira não, meu camarada, o ser humano é um bicho estranho, uma espécie imprevisível que não nasceu para viver em sociedade e pensar no coletivo! Desde os tempos da pedra lascada, do neandertal ao homo sapiens que é assim.
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