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:: 20/jun/2025 . 23:04

A ÁRVORE E OS ENGAÇOS

O desmatamento de uma floresta deixa um vazio no espaço, só de engaços e bagaços. Depois vem a queimada e tudo vira cinzas. O que era vida se torna morte, como a árvore envenenada, cujo o verde se transforma em engaços, conforme flagrante das nossas lentes fotográficas. A seca inclemente muda a paisagem do nosso sertão, mas a chuva faz brotar o verde e tudo se arrebenta em cores. O colorido atrai aves, insetos, animais rastejantes e outras espécies que se alimentam dessa renovação. Os ciclos se repetem diante dos fenômenos naturais, mas quando entra a mão assassina do homem, a natureza simplesmente morre, fica sem alma.

SENHORA PARTEIRA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, poema extraído do seu livro NA ESPERA DA GRAÇA

Pelas mãos com cheiro de chão,

Da dona senhora, nossa parteira!

Naquele rancho no pé da serra;

No aboio lamentoso do sertão;

Do ventre nasci de mãe roceira,

De um pai a lavrar a árida terra;

Filho dessa entranha nordestina;

Destino certo para a morte,

Que tem a vida, e sempre vem.

 

Minha mãe, Sinhá parteira!

Senhora mãe, nossa santeira!

Que já pegou mais de mil,

Sem usura desse metal vil.

 

Vixe mãe santa, Nossa Senhora!

Geme a mulher na cama de dor:

Vai homem chamar dona parteira,

Pra meu filho não morrer de sete dias,

Nem da fome que leva Zés e Marias.

 

Vai homem, buscar nossa parteira!

Que já viu cabra crescer trabalhador;

Artista repentista que tocou em feira;

Moço que estudou e virou doutor!

 

Salve nossa parteira desse solo cio!

Senhora das trilhas, rezadeira ligeira;

De dia nas poeiras, e na noite fagueira;

Boa de prosa, que ora rir, ora chora;

Chega na hora certa da mulher parir:

Abençoa a luz de um ser existir;

Reza aquela reza penosa,

Da Rosa na rasa cova que partiu.

 

 

 

O “CONTO DO VIGÁRIO” E O GOLPE VIRTUAL

– Amigo, cuidado, porque isso aí pode ser um golpe! Não caia nessa! Fica esperto! Não atenda telefonemas suspeitos e nem clique em mensagens estranhas! Delete!

São sinais de alerta que mais se ouve entre as pessoas nos dias atuais quando algo vantajoso e fácil cheira a enganação, a trapaça. A recomendação é não confiar mais em ninguém, mesmo em alguém considerado confiável e correto. Hoje tem mais golpistas no país que a praga dos gafanhotos do Egito, do faraó.

A gente procura seguir a regra, mas sempre tem alguém caindo numa armadilha. Quase todo mundo já levou um “tombo”, um golpe. Não é mais coisa para se envergonhar. Muitas vezes se apanha e não se aprende, contrariando a máxima, de que é “apanhando que se aprende”.

O golpista leva a vantagem de pegar o cidadão desprevenido, como se leva um susto danado quando se está distraído, no mundo da lua e alguém faz uma presepada.

Ninguém fala mais que a pessoa caiu no “conto do vigário” quando se é vítima dos inúmeros golpes virtuais que se proliferaram a partir da internet, muito mais sofisticados e profissionalizados com o uso das novas tecnologias da informática.

Dia desses um companheiro comentou comigo que não se usa mais a expressão “conto do vigário”, ou vigarista, mas de golpista, aquele que utiliza das redes sociais para retirada de dinheiro de conta bancária de clientes, quem pega dados de alguém para clonar cartões, vende carros, apartamentos, móveis e imóveis falsos, se passa como facilitador de processos judiciais, liberação de programas sociais, entre outras coisas.

– É verdade! Os tempos são outros, não mais aqueles pés de chinelos do bilhete premiado da federal, da mala pesada, da herança do parente distante, do tesouro perdido, das correntinhas reluzentes como ouro que depois viravam ferro e outras práticas estelionatárias presenciais. Não se engane, camarada, são espécies em extinção, mas ainda se encontra zanzando perdidos por aí esses elementos, ou meliantes das antigas.

– Saudades daquela época porque na maioria das vezes o sujeito era preso pelo delegado e pegava cana. A gente até achava graça das armações e tirava sarro das vítimas. Com a tecnologia atual, que rende mais, com menos esforço, até a saidinha bancária se tornou raridade.

Recordo que meu pai uma vez me contou um desses casos do seu irmão que vivia por aí fazendo malandragens. Estava sem dinheiro e um dia se hospedou numa pensão com uma mala pesada cheia de esterco de gado.

Fez toda recomendação ao dono para guardá-la num local seguro porque nela havia uma mercadoria preciosa. Passou uma temporada na cidade e depois sumiu sem nada pagar. O resto da história, todos sabem. O dono do estabelecimento caiu no “conto do vigário”, se lascou, sifu…

Em Amargosa, na Bahia, onde estudei como seminarista, para ser vigário (não vigarista), soube do caso do conto do pavio. Um senhor safado comprou sacos e mais sacos de pavios e foi vender aos pobres na zona rural.

Ele propagava aos quatro cantos, como profeta da barba grande, que a terra ia ficar uma semana na escuridão e estimulou os camponeses a comprarem pavios para acender seus candeeiros a querosene. Vendeu tudo com sua conversa fiada.

Nessa prosa sobre “Conto do Vigário”, o amigo acrescentou que os caras hoje são mais espertos, inteligentes, trabalham em escritórios confortáveis, não tiram folga semanais (fazem bacanais), estão sempre de plantão e conseguem se esconder com mais facilidade da polícia.

– Ah, e têm mais lábia, sem falar que esses bandidos invisíveis sempre dão um passo à frente para burlar os programas de segurança e possuem mais capacidade de imaginação quando se trata de mudar a modalidade de golpe. Todo dia surge uma coisa nova!

Foi o que disse para ele, que aproveitou para indagar o porquê desse termo de “Conto do Vigário”, que muito se falava na era analógica, desde lá dos tempos de nossos avós, quando alguém era enganado pelos chamados vigaristas, muitos deles engomadinhos e com boa lábia também.

– Sabe não?  “Conto do Vigário” era um golpe antigo onde trapaceiros se passavam por representantes de um vigário (padre) para enganar pessoas, com histórias elaboradas sobre heranças, buscando tirar dinheiro delas.

A origem do termo surgiu do envolvimento entre duas igrejas em Ouro Preto, Minas Gerais, que disputavam uma imagem de Nossa Senhora. Um padre recomendou amarrar a imagem em um burro e deixar que ele escolhesse um destino. O animal que pertencia ao padre foi justamente para a igreja dele. Daí nasceu a associação vigário e engano.

Existe outra versão que aponta para Portugal onde golpistas fingiam ser emissários de vigários, usando promessas falsas e papos furados para boi dormir, convencendo pessoas a entregar dinheiro ou bens.

Esta explicação tem até mais raiz porque quando Cabral aportou em terras brasileiras trouxe degredados, corruptos e malfeitores em suas caravelas, os quais enganaram os nativos indígenas com presentes mixurucas, como espelhos e pentes, e levaram bens mais valiosos, como o Pau Brasil, o ouro, os diamantes, entre outras riquezas.

Na realidade, foi o primeiro “Conto do Vigário” em que caímos, isto é, os coitados dos índios. Os outros portugueses navegadores e exploradores que vieram depois, a partir do primeiro governador Thomé de Souza, procederam da mesma forma.

O “Conto do Vigário”, significando história elaborada com o objetivo de burlar alguém, pode ter vindo de lá e aqui encontrou terra fértil para prosperar e dar bons frutos. A expressão, inclusive, é usada em Portugal e no Brasil. Como disse o escrivão Pero Vaz de Caminha, aqui plantando, tudo dá, e como deu!

COMO ASSIM, DE GRAÇA!

A falta de conscientização política, conhecimento e saber para discernir as coisas, ou seja, educação, leva os governos a enganar o nosso povo com propagandas falsas. Não existe, por exemplo, esse negócio de graça quando o poder executivo banca um evento e não cobra a entrada da população.

Para fazer sua média, a prefeita de Vitória da Conquista, Sheila Lemos, vem dizendo em seu discurso político que a população não vai pagar para entrar na festa terceirizada do São João de camarotes. Aliás, é o São João da desigualdade social de divisão de castas. Tudo lá dentro vai ser caro e só poucos vão puder tomar uma bebida ou comer alguma coisa.

Primeiro, nunca vi em minha vida uma festa pública junina organizada pelas prefeituras onde o povo tivesse que pagar para frequentar. Segundo, tudo que vem do governo em benefício do povo é pago pelo contribuinte através de seus impostos e, sendo assim, nada é grátis. Terceira, deixa de ser cara de pau!

No caso específico de Conquista (todos eles dizem isso) fica parecendo que a própria prefeita tira o dinheiro do seu próprio cofre para pagar a entrada do São João para seus eleitores. Só rindo para não chorar!

A mesma coisa ocorre quando ela afirma que vão sair ônibus de graça do Espaço Glauber Rocha para o Parque de Exposições. Quem vai cobrir esse gasto? Com certeza não são as empresas. O recurso é tirado do próprio povo.

Por falar em transporte público, a tarifa de ônibus e de outros veículos poderia muito bem ser zero porque os governos em geral possuem recursos para isso. Lembram dos movimentos de ruas em 2013 que tiveram como ponto de partida essa justa reivindicação? Por que em algumas cidades o usuário não paga o transporte?

Pena que a grande maioria acredita e até acha que seu prefeito, governador e o presidente estão sendo bonzinhos. O pior é que a mídia esquece do seu papel de esclarecer o que é certo e errado e termina embarcando na onda da falsidade.

Sinceramente, fico incomodado quando essa imprensa preguiçosa, que não mais questiona os fatos e deveria ser formadora de opinião, diz que a vacina é de graça, que o documento de identidade é de graça, que a certidão de nascimento é de graça, que tal mutirão de saúde é de graça e que um show pago pelo governo é de graça.

Esse papo furado, minha gente, até parece mais com o “Conto do Vigário”. Eles aproveitam a ignorância do povo para propagar mentiras e ganhar o voto do cidadão na época das eleições. Quem paga tudo isso? O governo é apenas um repassador da arrecadação dos tributos.

O Governo do Estado, através do Detran, está aí com um programa de conceder, sem custo para o interessado, carteira de habilitação às pessoas de menor poder aquisitivo. Exige um monte de burocracia para a pessoa ser contemplada e ainda fala que é de graça. Vem a mídia do factual e assina embaixo.

É subestimar a inteligência dos outros porque tudo que sai do governo em benefício do brasileiro é verba dos impostos. Portanto, não me venham com essa conversa demagógica de que é de graça.





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