:: 16/jun/2025 . 22:36
A PROFANAÇÃO DO NOSSO FORRÓ
Acabo de receber uma mensagem de um primo lá de Juazeiro onde ele reproduz um comentário de revolta e protesto, de autoria de Rivelino Libarino, sobre a abertura do São João de Petrolina. Em seu artigo, afirma que entre os presentes registrou-se a ausência do principal personagem no evento, no caso, o nosso sagrado forró.
Enquanto lia sua matéria ia passando em minha cabeça o mesmo filme que aconteceu e está acontecendo em Vitória da Conquista onde a prefeita terceirizou a nossa festa junina e a transformou num carnaval misturado com arrocha, axé, sertanejo e outros ritmos que nada têm a ver com a nossa tradição.
O que estão fazendo com o nosso São João e o nosso forró, e isto já vem ocorrendo há anos em todo Nordeste, é uma profanação, uma heresia, onde os prefeitos deveriam ser julgados, sentenciados e punidos por tentar nos enganar, como vem fazendo a nossa prefeita, colocando na imagem um movimento na Praça Nove de Novembro e dizendo que a entrada é grátis no Parque de Exposição.
Nada é grátis quando o dinheiro sai dos cofres públicos. Não sabia que tem São João organizado pela prefeitura (dinheiro do contribuinte) com ingresso pago! Infelizmente, a nossa mídia ainda entra nessa onda quando fala que tal show público é de graça. Como é de graça? É subestimar a nossa inteligência e tratar a população, a maioria inculta, de idiota.
Deveriam perder o cargo e até serem presos porque estão cometendo um crime que é matar e sepultar uma cultura popular de séculos, porque não se muda uma tradição, símbolo de uma expressão nordestina. Além do mais, existem os superfaturamentos, os desvios de recursos nas contratações de artistas lixo, com astronômicos cachês.
A Justiça faz vistas grossas, e os intelectuais, acadêmicos, os movimentos culturais, inclusive os artistas forrozeiros da terra, praticamente ficam em silêncio. Não se sai daquele bê-á-bá ou blábláblá de sempre, de apenas condenar e achar que estão acabando com o nosso senhor forró, quando, na verdade, já acabaram.
A festa junina autêntica, o forro pé de serra, o chamado arrasta-pé o forrobodó, a sanfona, o zabumba e o triângulo são hoje peças e personagens secundárias de decoração no maior evento nordestino. No meio colocam algumas quadrilhas em horários de pouca gente, como no início ou final de tarde.
Não me venham com essa de modernização que não cola. Mudanças existem, inclusive nas pessoas, de forma a se amadurecer mais e acompanhar os novos tempos, as novas tecnologias, mas cultura popular, tradição artística secular não se muda, se preserva, conserva e se apoia para que nunca morra.
A prefeita de Conquista, por exemplo, cometeu o maior crime em sua gestão que foi comercializar a festa e ainda permitiu que ela seja realizada no Parque de Exposição Agropecuária, excluindo milhares de conquistenses de curtir o tradicional São João, quando se tem o Espaço Glauber Rocha, na zona oeste, construído com o dinheiro do povo para nele realizar atividades culturais.
Por falar nisso, o Glauber Rocha hoje é utilizado por empresas de prestação de serviços (também foi terceirizado), um total desvio de finalidade. Pode-se dizer que ele hoje é um elefante branco. É lá que o São João deveria ser realizado, sem custo de pagar outra área particular.
Em todo o tempo em que estou em Conquista, 34 anos, se é que esteja enganado, um São João nunca foi feito no Parque de Exposições, com camarotes e cantores que nada têm a ver com o nosso forró, num estilo totalmente diferente.
É um desastre, senhora prefeita, e aqui fica minha palavra de repúdio. Esse ato vergonhoso vai ficar marcado para sempre na história de Vitória da Conquista. A senhora deveria ser responsabilizada por acabar com a nossa cultura, a começar pelos equipamentos culturais, todos fechados e sendo destruídos pela poeira do tempo.
Entram os safadões, a Ivetona, o Leu dos rebolados carnavalescos, o boiadeiro sertanejo, os piseiros, arrocheiros e lambadeiros e sai o nosso saudoso forró. Expulsaram a chicote o sanfoneiro, o forrozeiro, o xote, o baião da festa junina. Tiveram a grande proeza de assassinar a nossa cultura, genuinamente nordestina.
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