Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, do seu livro ANDANÇAS

Foi-se o tempo de menino,

Espiando o telegrafista,

Com batidas de artista,

Ordenar tocar o sino,

Como se fosse um hino,

Pra lembrar aos viajantes,

Que em poucos instantes,

Vai ter máquina na pista,

De nome “Maria Fumaça”,

Chamando muita gente,

Vinda até da praça.

 

Lá vem o trem a se arrastar

Das terras diamantinas,

Como cobra a deslizar,

Por entre serras e colinas.

 

Lá vem a “Maria” roncando,

Com suas patas de ferro,

Soltando seu berro,

Transportando usinas de sonhos,

Com sua força potente,

Distribuindo os ganhos.

 

Chamam também de “Trem Groteiro”,

Cortando as esquinas do sertão,

Em seu traço rotineiro,

Como se fosse om tropeiro,

Com sua fumaça na estação.

 

Lá vem a “Maria” das matinas,

De janelas sem cortinas,

Com seu balanço manso,

Apitando pra avisar,

Que logo vai parar

No povoado de Paiaiá.

 

Lá vem “Maria” penitente,

Puxando sua corrente,

Como rezadeira;

Leva bruacas, mercadorias,

Para vender na feira.

 

Lá vem o trem lembrança

Dos dias que era criança,

Matando minha saudade,

De no embalo pongar,

E mais adiante pular,

Vendo minha “Maria” sumir

Na curva de Piraí.

 

Em sua última viagem,

“Maria” partiu para o além;

Levou minha bagagem,

O amor do meu bem,

Deixando aquela fumaça,

Que ainda me enlaça.

 

Lembrança da Piritiba,

Do sábado do feirante,

Da poesia cortante

Do poeta Aragão,

Que misturava pavio,

Mandioca com feijão,

Xingava de delinquente

O governo indecente,

Que deixou esse vazio,

Em nossa mente.