DURMA COM UM BARULHO DESSE!
(Chico Ribeiro Neto)
Aniversário no salão de festa do prédio com banda ao vivo. Sapato alto no andar de cima. Som alto, axé, até 11 da noite. Tem velotrol no corredor. Latido de cachorro grande com fome. “Nunca more numa rua onde passa ônibus”, dizia uma amiga.
Insônia é coisa braba. Desde menino, sempre achei sem graça esse negócio de contar carneirinhos pro sono chegar. Se não dá certo dormir de um lado, vira pro outro. Se também não consegue dormir, fica de barriga pra cima e aí começa a pensar nos problemas. Vixe! Só ligando o rádio.
Sempre gostei de um rádio de cabeceira. Ouvir música tem hora que ajuda a dormir. Teve uma noite em que sonhei dançando um forró com Elba Ramalho. Acordei logo depois e ouvi o locutor dizer: “Acabamos de ouvir “Bate Coração”, com Elba Ramalho”.
Gosto de ouvir música clássica na Rádio Câmara FM (105.3), mas repetem muito a programação, principalmente valsas de Strauss. Ouço também a Educadora (107.5).
Se pegar no sono é difícil, acordar também não é fácil. Quando ligo o despertador do celular, sempre acordo antes dele tocar e o desligo, para não tomar susto quando ele tocar.
E o tal “só cinco minutos”? Quem nunca disse isso e depois dorme mais meia hora? Meu tio Antônio se gabava de nunca ter perdido o trem. E eu, com uns 8 anos, morria de vontade de perder o trem.
Esse tio tinha uma tática infalível pra acordar a gente: passava uma linha molhada no bigode e nos lábios. Não tem quem não acorde com aquela gastura.
O pai de um amigo me contou uma vez que, quando acorda, diz 10 vezes: “Eu sou forte, muito forte, cheio de saúde e alegria”. Nunca tive tamanha disposição.
Acho que era o escritor Paulo Mendes Campos que dizia à mulher e filhos: “Não me peçam decisão nem opinião sobre nada até duas horas depois que acordo”.
Veja o belo poema “Dormir”, de Armindo Trevisan, do livro “Adega Imaginária”:
“Não há instante
mais íntimo
do que aquele em que nos enrolamos
em nós mesmos.
Dormir “a pata suelta”,
num trem,
num bosque,
num banco de praça.
Quando dormimos,
nossa memória estende as asas,
e voamos com ela
para abraçar a lua.”
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)