:: 7/jun/2025 . 0:22
UM PROJETO FUNDAMENTALISTA
Com tantos problemas para se resolver no município, principalmente no âmbito social, da educação e da saúde (posto que não têm médicos e medicamentos), esses 23 vereadores estão agora querendo voltar aos tempos da catequese indígena dos jesuítas da era colonial. Será que eles não sabem que, pelo menos na teoria, o Estado é laico?
Confesso que fiquei surpreso e um tanto incrédulo ao ler que a Câmara de Vereadores votou o Projeto de Lei 56/2024, que autoriza o uso da Bíblia como material de apoio e complemento didático nas escolas da rede municipal de ensino. A proposta foi do parlamentar Edvaldo Ferreira Júnior (PSDB), que contou com 17 votos favoráveis e apenas um contrário.
Pelo menos esse um teve o bom senso de respeito à liberdade religiosa e que cada um tem o direito de escolha, inclusive de não ter nenhuma. Em pleno século XXI ainda tem gente que acha que a pessoa deve ser convertida a uma religião, usando crianças e jovens para fazer lavagem cerebral.
De antemão, considero o projeto um absurdo e uma invasão escolar na religião e na crença dos outros, sem levar em consideração que temos outras questões importantes para se resolver em Vitória da Conquista. Além do mais, trata-se de um projeto que vai de encontro à Constituição de 1988.
De imediato, a associação dos professores da Universidade Estadual do Sudoeste-Uesb e o sindicato municipal dos professores reagiram dizendo que o Estado é laico. Contestaram afirmando que não se pode introduzir um material religioso num espaço laico, pois isso pode marginalizar alunos de outras crenças.
De acordo com as entidades, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determina que o ensino religioso nas escolas públicas deve ser não confessional e facultativo. O projeto é um retrocesso e lembra os tempos de catequese onde os jesuítas que aqui chegaram depois de Cabral faziam a doutrinação dos indígenas, considerados por eles como pagãos. O papel da escola pública não é doutrinar, mas formar cidadãos com senso crítico para fazer suas opções políticas e religiosas, se for o caso.
Esse é um projeto fundamentalista religioso evangélico que cria mais ódio e intolerância entre as pessoas. Invade a liberdade de crença. É um projeto que já nasce morto, como tantos outros. Foi para isso que eles aprovaram o aumento de cadeiras sob o argumento de oferecer mais serviços à população? É um projeto que nos envergonha.
Ao invés de perder tempo com uma discussão descabida, os vereadores deveriam se preocupar com o nível de ensino que ainda é deficitário, com os problemas do transporte escolar e com muitas escolas nas zonas urbana e rural que funcionam sem estrutura adequada. Sem essa de Bíblia nas escolas! Queremos uma bancada do povo e não da Bíblia.
Os vereadores deveriam se preocupar com a situação de abandono da nossa cultura, cujos equipamentos culturais, como o Teatro Carlos Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha estão fechados há anos. Uma cidade como Conquista, a terceira maior da Bahia, não tem um Plano Municipal de Cultura, e os indicados pela Mesa Diretora para compor o Conselho Municipal não frequentam o colegiado. Eles ficaram em silêncio quando a prefreita elitizou o nosso tradicional São João, transformando-o num evento carnavalesco de estilos axé, arrocha e sertanejo.
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