BERRO DE FERRO
Poema do jornalista Jeremias Macário
Meu grito explode e berra
como as bombas na guerra;
queima como brasa de ferro
nas fornalhas dos algozes,
que calam as nossas vozes.
Treme no úmido porão,
a carne do meu doído berro,
que tine na lâmina do ferro,
perfurando a minha mente,
nas mãos de um delinquente.
Meu gemido sussurra no berro
nos telefones de pau-de-arara;
choques e cusparadas na cara;
no ânus enfiam uma vassoura,
e pela garganta uma tesoura.
São os passageiros da agonia
por quem minha alma berra,
que ousaram sonhar um dia
com uma socialista-ideologia,
na terra dividida em igual fatia.
Minha alma vaga dilacera
no nevoeiro do mar negreiro,
nas entranhas da selva fera,
que testemunhou o horror
da besta de dente carniceiro.
Meu berro das torturas letais,
da suástica sádica seca a saliva,
na sede suada dos golpes fatais,
que no sabre sequestra até criança
e ainda manda ter fé e esperança.
Tem o berro ferido e calado,
que marca gente como boiada,
e ainda nos contam uma piada,
com enredo de dor existencial,
onde a vítima se torna animal.
Na base aliada do troca-troca,
cada rato cuida bem da sua loca,
fazendo da desgraça um negócio
e deixando o resto como esmola,
do tamanho de um pedaço de sola.
Sou aquele cabrito que berra,
da América do Sul até a África,
desde toda a matança trágica,
da peste do vírus que virou aço,
até os foguetes voando ao espaço.
Não quero ser mera quimera,
que só berra sem ser uma fera;
quero ser como ferro da terra,
que sai bruto e se torna metal,
para fazer sua história imortal.











