“O mito e a lenda são inseparáveis da história; mesmo em nossa época, eles crescem em torno dos grandes acontecimentos históricos e, mais ainda, ao redor de grandes personagens históricas”- do escritor e professor M. Rostovtzeff, autor do livro “História da Grécia”.

Ele mesmo diz na introdução da obra que esta civilização antiga, chamada pelo próprio de greco-romana ou Mediterrânea, desenvolveu-se primeiramente no Oriente Próximo, sobretudo no Egito, Mesopotâmia e Ásia Central, nas ilhas do Mar Egeu e na península do Balcãs.

O zênite da criação cultural, de acordo com o filósofo, foi alcançado no Egito e na Babilônia no terceiro milênio a.C.; novamente pelo Egito no segundo milênio e, ao mesmo tempo, pela Ásia Menor e parte da Grécia; pela Assíria, Babilônia e Pérsia nos oitavo, sétimo e sexto séculos a.C.; em seguida pela Grécia dos séculos sexto ao segundo a.C; e pela Itália no primeiro século a.C. e no I d.C.

A civilização antiga ainda vive como base de todas as manifestações da cultura moderna. A grega só se tornou mundial como resultado de um contato novo e prolongado com as culturas orientais, após a conquista do Oriente por Alexandre Magno. Em complemento, diz o autor que ela se tornou propriedade do Ocidente, isto é, da moderna Europa, simplesmente porque foi adotada na íntegra pela Itália.

CURIOSIDADES, FILOSOFIAS E TRAPAÇAS

Mas, minha proposta mesmo é falar sobre as curiosidades específicas do mundo grego, suas filosofias e sabedorias, extraídas do livro “História dos Gregos”, do autor Indro Montanelli. Creio que muitos professores e estudiosos do assunto desconhecem peculiaridades interessantes sobre os grandes personagens e acontecimentos desta civilização, descritas pelo autor.

Como são muitas, vamos só pontuar as mais importantes. Historiadores dizem que a primeira civilização grega nascera na ilha de Creta e tivera seu apogeu no tempo do rei Minos por volta do século XIII a.C. O deus dessa gente se chamava Vulcano e correspondia ao Zeus dos gregos e ao Júpiter dos romanos. Quando se irritava, seus fiéis se recomendavam à deusa mãe, uma espécie de Nossa Senhora, para que o acalmasse.

Este reino desaparecera entre os séculos VIII e VII. Muitos falam num terremoto e outros em decorrência da invasão dos aqueus (tribo céltica da Europa Central) que destruiu tudo em Creta. A partir dali, o povo chamado de pelágios (povo do mar) tornou-se grego e os aqueus implantaram vários reinados, dos quais Homero se tornara um grande trovador.

De acordo com escavações arqueológicas feitas pelo alemão Henrique Schliemann, Tróia existiu e nela os aqueus, que vieram da Tessália para o Peloponeso, tiveram seu tempo de apogeu e decadência depois da guerra.

HOMERO – Existem dúvidas sobre sua existência, mas, conforme a lenda, foi um trovador cego do século VIII a.C. pago pelos senhores para ouvir dele histórias maravilhosas. Na obra da “Ilíada e a Odisseia”, o autor Indro considera Ulisses um dos mais descarados, mentirosos e trapaceiros da história. Sua grandeza só é medida pelo sucesso, única religião daquele povo.

OS HÉRACLES – O que a lenda chama de “volta dos Héracles, nada mais foi que a invasão dórica que aconteceu pelo ano de 1.100 a.C., cujos povos vieram da Europa Central. Como presente, os dórios trouxeram o ferro.

A “POLIS” –  O traço fundamental dos gregos foi o particularismo que teve sua expressão na polis, isto é, nas “cidades-estados, que nunca conseguiram fundir-se em nação. Na definição, Platão dizia que uma polis não deveria superar 50 mil habitantes. Aristóteles sustentava que todos deviam conhecer-se entre si, pelo menos de vista.

ZEUS E FAMÍLIA – Toda autoridade devia ser ungida pelo Senhor, em nome de um deus. Povo algum jamais inventou, blasfemou e adorou deuses em tanta quantidade. Dizia Hesíodo que não há pessoa no mundo que possa recordá-los todos. Um poeta da época lamentava: Já não se sabe onde esconder um alqueire de trigo, pois todo buraco está ocupado por um deus. O Olimpo, a ideia de que os deuses morassem no céu e não na terra, foi trazida pelos aqueus.

Criaram duas religiões: A dos conquistadores, os aristocratas que em seus castelos e palácios rezavam voltados para cima, e a do povo subjugado que em suas cabanas de barro rezava olhando para a terra. Homero só nos fala dos deuses olímpicos porque era pago pelos ricos. O patriotismo dos gregos esteve sempre ligado à religião. Quando os deuses foram destruídos pela filosofia, os gregos deixaram de combater e foram dominados pelos romanos, que ainda acreditavam neles.

HESÍODO – Era um simples camponês que, possivelmente deve ter nascido por volta do sétimo século a.C, quando a Grécia começava a sair das trevas em que a lançara a invasão dórica. Hesíodo oferece um quadro exato daqueles tempos de miséria em “As Obras e os Dias”.

Poeta dos pobres, em seus sermões ao irmão trapaceiro que nada queria, ele achava que a mulher foi a maior culpada pela desordem humana. No caso, Pandora, símbolo da mulher, trouxe todos os males aos homens até então em gozo de paz e prosperidade.

Em sua “Teogonia”, contou como ele e seus contemporâneos viam a origem do mundo. Primeiro era o caos. Depois disso nasceram Urano, deus do céu, e Geia, a deusa da terra. Os dois procriaram os Titãs, monstro de 50 cabeças e 100 mãos. Urano  mando-os para o inferno. Géia não gostou nada disso e armou uma conjuração com os filhos para assassinar o pai. Cronos se encarregou da tarefa. Quando Urano trouxe consigo a noite para se deitar com sua amada, Cronos deferiu-lhe duro golpe de faca e atirou seus restos ao mar. De cada gota de sangue nasceu uma Fúria.

Das águas veio a deusa Afrodite, sem sexo. Cronos subiu ao trono e casou-se com sua irmã Réia. Como os pais haviam predito quando nascera, que ele seria deposto pelos filhos, Cronos comeu-os todos, mas esqueceu de um que Réia o levou para Creta e se chamou Zeus, o qual depôs o pai e obrigou-o a vomitar os filhos. Mandou seus tios Titãs para o inferno e ficou na religião grega como o senhor do Olimpo, até o dia em que Cristo o dominou.

Em suas descrições, Hesíodo revive os peões da Beócia arcaica, pobres camponeses maltratados pelos latifundiários vorazes. As casas de Hesíodo são casebres de barro para bípedes e quadrupedes. Se treme de frio no inverno e se ferve no verão. Ninguém vem da cidade pedir opinião ou o voto dessa pobre gente, que tem obrigação de entregar parte da sua colheita ao patrão e parte ao governo. Ele narra a fome e a pobreza dessa Grécia campesina, tiranizada pelos conquistadores nórdicos.

PITÁGORAS – Nascido na ilha de Samos, em 580 a.C., Pitágoras estabeleceu-se em Cróton, na costa italiana, muito tempo depois de ter viajado pelo Oriente Próximo até a Índia. Era ditador demais para suportar a de Polícrates. Em Cróton fundou o mais “totalitário” dos colégios, podendo nele ingressar moços e moças, mas tinham que fazer votos de castidade e submeterem-se a uma dieta que excluía vinho, carne, ovos e favas, das quais tinha misteriosa implicação.

Seus alunos não podiam rir, e no final de cada ano escolar, todos eram obrigados a fazer em público a “autocrítica”, ou seus “desviacionismos” como ditava a cartilha comunista. Os seminaristas eram divididos em externos e internos (os esotéricos), os quais eram cuidados diretamente pelo mestre e só podiam ser vistos por ele depois de quatro anos de tirocínio. Durante este tempo, Pitágoras mandava-lhes as lições escritas com a fórmula “autos epha”, o “ipse dixit”, ele disse, sem contestação.

Em seus variados estudos, descobriu as relações de números que regem a música. Um dia passando diante da oficina de um ferreiro, ficou impressionado com a regularidade rítmica das batidas do molho sobre a bigorna. Em casa fez experiências fazendo vibrar cordas de idêntica espessura e tensão. Concluiu que as notas dependiam da quantidade das vibrações. Nos seus cálculos, chegou ao resultado de que a música não era mais do que uma relação numérica medida por intervalos. Mais ainda, concluiu que o silêncio é pura música que o ouvido humano não percebe por ser contínua, sem intervalos.

Naquele tempo ele já tinha visão espírita da encarnação. Sustentava que a alma, sendo imortal, passa de um corpo ao outro. Abandonando o corpo do defunto, purifica-se por algum tempo no Hades e se reencarna. Dizia ter sido ele primeiro uma famosa cortesã, depois o herói aqueu Euforbo, da guerra de Tróia.

Cita o autor do livro, que Pitágoras, em Cróton, instaurou uma ditadura de causar inveja a Sila, Hitler e Stalin, Praticava virtude absoluta com vida casta, dieta rigorosa e atitude reservada.

O Círculo dos Pitagóricos decidiu apoderar-se do Estado e fundar, em Cróton, a base das verdades filosóficas elaboradas pelo mestre, a república ideal, na forma de uma tirania iluminada. Chegou um tempo em que todas as magistraturas estavam cheias de pitagóricos, gente séria, austera e enjoada, algo parecido com seu colégio. Foi ai que o povo se revoltou, cercou o seminário e mataram os inquilinos. O mestre fugiu de cuecas na escuridão da noite e terminou caindo num campo de favas. Com o ódio que tinha a elas, recusou-se a esconder numa de suas moitas. Alcançaram e o mataram. Tinha 80 anos e confiou seus comentários à filha Dâmona.