:: 15/mar/2018 . 23:33
EXECUÇÃO, MÍDIA E FUTEBOL
A polícia militar, principalmente, tem sua marca de violência e truculência. Sempre está ferindo de morte a cidadania, a liberdade e os direitos humanos. Toda sua linha de trabalho precisa ser reestudada e reformulada, com uma nova estrutura que se adeque aos novos anseios de respeito e igualdade social. Ela precisa rever seus conceitos para que renasça uma nova corporação, mas eles não querem nem ouvir falar nisso.
A vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL) defendia os direitos humanos e denunciava a agressão velada das polícias nas favelas da capital carioca, não somente da Maré, contra as minorias, os negros e os mais pobres. Recentemente acusou que estava havendo prisões arbitrárias de moradores, e isso já era previsível depois da onda de violência dos bandidos e a partir da intervenção federal.
Covardemente e de forma cruel, ela foi executada na quarta-feira, possivelmente por gente das milícias que dominam os morros do Rio e massacram os pobres, explorando e espalhando o terror a qualquer um que não obedeça ao seu comando. Foi mais um atentado do opressor contra a liberdade e os direitos humanos.
Sobre a mídia, comentário de ontem em nosso espaço, reafirmo e não concordo com quem diz que a notícia é um espetáculo, e nem jornalismo é isso. Espetáculo é peça teatral. A tragédia do desabamento de um prédio em Salvador virou um espetáculo sensacionalista na filiada da “Grande Rede.”
Tragédias, mortes, desastres, crimes de execução, violências e outros fatos do cotidiano não podem virar espetáculos porque terminam desembocando para o sensacionalismo desvairado na boca dos jornalistas que se acham de atores. A carne é fraca! Notícia é fato real que deve ser tratada com racionalidade, embora mexa com sentimentos e emoções.
Quanto ao futebol (alô amigo e companheiro Carlos Gonzalez), gostaria de saber qual a diferença entre um jogo da “Libertadores” e outro da Liga de Campeões da Europa? Gonzalez tem a resposta na ponta da língua, mas diria que é a feiura de um e a beleza de se ver o outro.
Um é cheio de faltas estúpidas, de rasteiras para quebrar pernas, porradas, caneladas, chutões para o alto, passes errados e muita catimba. Praticamente não existe futebol. No outro existe plasticidade, espetáculo, poesia e a bola rola mais livre, e não é tão maltratada. Ah, o torcedor aprecia o bom futebol, sem agressões e truculências, mas, contrariando tudo isso, a mídia esportiva insiste que “Libertadores” é raça e tem que ter pegadas fortes, daí tantas faltas com o mínimo de tempo de bola rolando no gramado do campo.
O PORQUÊ E O JORNALISMO
Depois que a notícia virou espetáculo, recheado de apelos piegas e sensacionalismos, o jornalismo passou a esquecer de colocar em suas matérias o porquê dos fatos, deixando um vazio para seu público leitor, ouvinte ou o telespectador. Confundiram a arte de bem informar com o teatro e a novela.
Isso tem acontecido muito nas tragédias, nas catástrofes e nos desastres e, com raras exceções, as coberturas não têm questionado o porquê dos acontecimentos, fazendo um histórico complementar à pauta em questão. Geralmente, faz-se o factual, explorando o sentimentalismo, sem investigar o outro lado da história.
Um exemplo mais recente disso foi o desabamento de um prédio de quatro andares, em Salvador. Ficou sublinhado no noticiário que a construção foi erguida sem o acompanhamento de um engenheiro responsável, tampouco teve a licença do poder público como reza a lei. O que aconteceu, na verdade, foi uma tragédia anunciada.
Sobre esta questão das irregularidades na edificação de prédios, não somente em Salvador, sem a interdição por parte dos órgãos competentes, a mídia não deu destaque e quase nada falou sobre o assunto. Ateve-se apenas aos pesares sentimentais das famílias vítimas da tragédia.
Ao lado do factual, cabiam outras reportagens, através de entrevistas com especialistas, mostrando os riscos de se construir prédios sem o aval da engenharia e em locais inapropriados. Não se indagou do por que a obra não foi interditada pela prefeitura.
Limitou-se a dizer que o prédio foi feito com muito sacrifício por gente pobre, como se este fato social estivesse acima da vida. Depois do desastre, como sempre, todos passam a usar o nome de Deus em vão e criam-se os milagres, inclusive a própria mídia, a qual deveria ser mais racional.
Na maioria das vezes, uma ocorrência rende o desdobramento de outras pautas de cunho político, econômico e social levando o público a pensar e a refletir. Nos bons tempos da imprensa, quando ainda não havia internet, essa visão partia dos chefes de reportagens, dos editores e dos secretários de redação.
Nos dias de hoje parece que o jornalismo nosso de cada dia ficou preguiçoso e lerdo, se contentando com o óbvio. A preocupação maior, especialmente na mídia televisada (no rádio ainda é pior), é com o apelo sensacionalista.
A sensação que se tem é que o editor-chefe não filtra a apuração do repórter, e a matéria é publicada cheia de buracos e furos. Está mais para calhau. O resultado é que a informação sai capenga e incompleta, aspecto pouco analisado pelo leigo que recebe o produto deformado.
Claro que existe o jornalismo omisso, tendencioso, antiético e parcial com o propósito firme de distorcer ou ocultar os fatos, mas, muita coisa tem sido mesmo falta de profissionalismo da mídia atual. O que se percebe é que não se faz mais coberturas jornalísticas como antigamente, com competência e responsabilidade.
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