:: 1/nov/2016 . 22:16
A LAVA JATO VAI ENTRAR EM CAMPO
Carlos Albán González – jornalista
Política e esporte no Brasil vestem a mesma camisa e jogam no imbatível time dos escândalos financeiros, batizado com o nome de Corrupção, dirigido por cidadãos sem escrúpulos e patrocinado por empresários excessivamente ambiciosos e por órgãos estatais. O Ministério Público Federal (MPF), ainda com uma certa timidez, através da Operação Lava Jato, tem feito bloqueio de bens, apreensão de documentos, oferecido denúncias e efetuado prisões. As ações, longe de atender ao desejo dos brasileiros, tem se restringido a empreiteiros, ex-diretores da Petrobras, doleiro, publicitários e políticos sem mandato.
“Olheiros” têm observando que existe uma movimentação na Lava Jato, uma espécie de “aquecimento”, para entrar em campo. O futebol, mais particularmente a Arena Itaquera, de propriedade do Corinthians, seria inicialmente o alvo da operação, que, no futuro, poderia se estender aos órgãos diretivos do esporte (CBF, Comitê Olímpico Brasileiro (COB), confederações ditas amadoristas, federações estaduais e ligas do interior dos estados).
Todos devem estar lembrados que a justiça norte-americana deu um passo importante, promovendo uma devassa na FIFA, com ramificações que se estenderam até a Uefa e Conmebol, entidades diretivas do futebol na Europa e América do Sul. O ex-presidente da CBF, José Maria Marin está sob custódia num apartamento em Nova Iorque, e o seu substituto, Marco Polo del Nero tem receio de ser preso ao cruzar uma das nossas fronteiras.
O MPF , a Polícia Federal (PF) e o Tribunal de Contas da União (TCU) procuram desde março respostas sobre a construção do Itaquerão, mas não conseguem avançar pela falta de documentos sobre os gastos excessivos com a obra. A Odebrecht foi contratada pelo Corinthians em 2011 para erguer o estádio, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014, obtendo junto ao BNDES um empréstimo de R$ 400 milhões. O restante (R$ 420 milhões) seria coberto pela prefeitura de São Paulo, através de emissão de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs), questionada pela assessoria jurídica do município.
A Odebrecht, mesmo sem os R$ 420 milhões, deu continuidade à construção do estádio, motivo de reclamação dos dirigentes corintianos, sob alegação de que alguns anexos não foram concluídos, inclusive parte das arquibancadas. Foi ai que a Caixa Econômica entrou no negócio, repassando para a empreiteira o restante dos recursos. Marcelo Odebrecht, então presidente da companhia, que se encontra preso em Curitiba, atuou pessoalmente junto à CEF. O Corinthians ficou obrigado a quitar o empréstimo, com parcelas mensais de R$ 5,7 milhões. O pagamento foi interrompido em março. O clube alegou que as rendas das bilheterias caíram. A dívida a ser paga até 2028 deve passar de R$ 1,64 bilhão, dinheiro suficiente para se erguer três estádios de médio porte.
:: LEIA MAIS »
O PONTO DA QUESTÃO
PESQUISAS ERRARAM
macariojeremias@yahoo.com.br
Em Vitória da Conquista as duas pesquisas que avaliaram a campanha eleitoral (Painel Brasil e o Eleva) erraram os índices. A Painel deu 64,75% para Hérzem (PMDB) e 35,75% para José Raimundo (PT). O Eleva apontou 48,91% para Hérzem e 38,82% para o candidato do PT. Na apuração final deu 57,78% para o PMDB e 42,22% para o PT. Não dá mesmo para confiar em pesquisa. O certo mesmo é a coerência política.
Além do desgaste nacional (dos 57 municípios brasileiros que foram para o segundo turno, incluindo 18 capitais, o PT disputou em sete e perdeu em todos), o marketing da campanha de José Raimundo, em Conquista, errou feio no período do programa eleitoral ao apontar seu alvo para o campo nacional contra o Temer e os membros do PMDB envolvidos na Operação Lava Jato (o PT também está). Melhor seria ter se concentrado nas questões municipais.
Como em todo país, Conquista também teve números altos de abstenções (mais de 20%), nulos e brancos. Dos 230 mil eleitores, compareceram 178.513 e 52.457 se abstiveram. Votos nulos somaram 8.516 e brancos 3.402. É a onda crescente dos insatisfeitos contra os políticos e a atual situação. A mídia regional nada falou como vai ficar o quadro na Câmara de Vereadores com a eleição de Hérzem Gusmão. Como sempre, tudo se ajeita, e a minoria passa a ser maioria.
ALÇAPÃO DOS CONSERVADORES
Ao eleger políticos ideologicamente de direita, o povo decidiu mesmo entrar de vez no alçapão ou no covil dos conservadores com inclinação ao retrocesso. Não se sabe o que pode acontecer a partir de agora. Os primeiros pronunciamentos, misturados a seitas religiosas e rezas, dão sinais claros de que o Estado está cada vez mais deixando de ser laico. Vamos adotar um sistema iraniano onde quem manda é a religião? Uma grande temeridade!
ENCOLHIMENTO
E os petistas, hem, encolheram e muito! De 644 prefeituras em 2012 ficaram com apenas 256. As receitas desses municípios passaram de 110 bilhões de reais para 15,8 bilhões e a população de 38 milhões para 6 milhões, abaixo dos demistas (DEM) com 9 milhões. De quatro prefeituras de capitais, ficou com apenas Rio Branco, no Acre.
DERROTAS SIGNIFICATIVAS
Nos municípios do ABCD paulista, berço do sindicalismo que fundou o PT, a derrota mais significativa foi em Santo André, do ex-prefeito Luiz Marinho. Com 20 anos no poder, Vitória da Conquista, na Bahia, também foi uma grande perda, mas a mídia nacional não deu bola e quase nada comentou. No período eleitoral e na apuração, bem que Conquista merecia uma grande cobertura jornalística a nível nacional. Triste mídia!
As siglas que mais elegeram prefeitos, incluindo primeiro turno, foram PMDB com 1038 (venceu metade das seis capitais na disputa do segundo turno), PSDB 807 (partido que mais cresceu e levou cinco das oito capitais), PSD ficou com 541 prefeituras, o PP elegeu 495 e o PSB 418.
INSATISFEITOS NA POLÍTICA
Em comparação com 2012, as abstenções cresceram em 2016, atingindo o total de 21,55% do eleitoral que não compareceu às urnas, contra 19,11% da eleição passada. O total de abstenções, nulos e brancos foi de 32%, contra 26% em 2012. Das 57 cidades, somente uma mulher conseguiu se eleger na disputa do segundo turno. Foi Raquel Lyra (PSDB) em Caruaru, Pernambuco.
A maior insatisfação política ocorreu no Rio de Janeiro onde 47% dos eleitores não votaram em nenhum dos dois candidatos (Marcelo Crivella e Marcelo Freixo). Lá a eleição se encerrou com o mais alto índice de votos em branco (4.18%), nulos (15,9%) e abstenções (26,85%).
Os números de abstenções, nulos e brancos foram maiores que as votações dadas aos candidatos vencedores em várias capitais, como Rio de Janeiro (2 milhões contra 1,7 milhão de Crivella), Porto Alegre e Belo Horizonte.
EM NOME DO CAPETA
É bom lembrar que lá também é palco do fundamentalismo religioso representado pela Igreja Universal do Reino de Deus, de Crivella, pastor e sobrinho de Edir Macedo, e da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, do bispo ultraconservador Silas Malafaia que, após a vitória, berrou ao seu estilo extremista: Chora, capeta, chora, Freixo e chora PSOL. É, ou não é extremismo? Deus foi o nome mais usado na boca dos vitoriosos, e Ele já pediu pra ficar de fora dessa politicagem rasa.
- 1










