Uma lição de como contar histórias em coberturas jornalísticas para estudantes, professores, jornalistas e interessados no assunto é o livro “Profissão Repórter – 10 Anos”, narrado por Caco Barcellos e sua equipe sobre grandes reportagens realizadas no Brasil e em outros países neste período de exibição pela Rede Globo.

Pelo formato diferenciado dos outros, no trabalho de abordagem dos fatos e de seus personagens, pode-se dizer que é um dos melhores programas jornalísticos da televisão brasileira com um profissional de primeira linha, com seu estilo simples, competente e perspicácia investigativa. O “Profissão Repórter” é aquela coisa que pode ser levado para as salas de aula e serve como estudo acadêmico.

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Segundo o prefaciador do livro, Marcel Souto Maior, um dos segredos do sucesso do programa é o profundo respeito de toda equipe por seus “personagens”, os protagonistas de cada reportagem. Outro segredo é aquele de sempre: Trabalho duro para construir narrativas à altura da vida real.

Em dez anos, Caco Barcellos, 38 anos de experiência, sempre com aquele jeito de empunhar o microfone debaixo do braço, e sua equipe participaram de coberturas que vão da Primavera Árabe ao terremoto do Haiti, de enchentes históricas à violência urbana no Brasil.

Como bem descreve o repórter Caio Cavechini no livro, o formato do programa jornalístico impõe um desafio semanal aos jovens repórteres: O de realizar um jornalismo ativo, focado na ação, que busca a verdade muito além da simples coleta de entrevistas.

Apesar das emoções e das indignações comuns, ele ensina que os repórteres não são personagens e sim contadores de histórias que nunca podem perder o foco principal: As pessoas comuns que fazem a notícia. Em suas conversas de bastidores, Caco sempre chama a atenção para o excesso de protagonismo e não concorda com o uso da identidade falsa.

Para estudantes, professores e jornalistas, principalmente, recomendo uma leitura do livro que oferece uma visão mais ampla sobre o papel do repórter na notícia e como ele deve se portar na abordagem de suas entrevistas. No meu comentário, vou aqui dar algumas pinceladas sobre pontos de vista.

“Os acasos estão em toda parte, desviando o rumo da vida das pessoas todos os dias”. Quanto a este aspecto, a equipe do “Profissão Repórter” destaca que o jornalista não pode ignorar os contextos e não deve abandonar os acasos.

No depoimento de Gabriela Lian, achei importante quando ela define em seu depoimento que ser repórter é ter um compromisso que precisa ser levado a sério e que não se podem medir esforços em busca de uma boa reportagem. “Acredito que ser jornalista é uma missão, tão sagrada quanto uma religião”.

“Deixe de lado o que você acha do mundo e viva uma relação visceral com o que está para acontecer” – é outra lição que o repórter deve ter em mente no seu trabalho de cobertura jornalística, a de se interagir com o fato.

Sobre a cobertura na Índia do Kumbh Mela, o Caio Cavechini diz que “uma reportagem dentro de uma grande multidão é talvez o palco ideal para o exercício da reportagem, principalmente nas bases que sustentam o “Profissão Repórter”.

Considerei importante a observação de Aleksei Abib sobre Caco Barcellos quando diz que nas entrevistas ele chega um pouco de lado, e não de frente, posicionando o microfone discretamente, às vezes embaixo do braço, sem escondê-lo, mas sem ressaltá-lo.

Na minha modesta visão, o Caco sempre chega como um desconhecido que não quer nada e termina se enturmando na conversa que vira um bate-papo. Depois ele faz perguntas que teriam o potencial de constranger o entrevistado. É um mestre nesta arte de entrevistar e arrancar a notícia em lugares mais difíceis.

Abib ressalta o Protocolo Profissão Repórter que é o de chegar a uma determinada situação já com a câmara ligada, registrando todas as ações. O escritor norte-americano afirma que, para que uma história seja verdadeira, basta que alguém acredite nela.

Nos últimos capítulos do livro sobre os 10 anos do programa, Mônica Pinheiro cita o conto Candide do filósofo francês Voltaire como peça importante de leitura para os jovens repórteres. Quando se via diante de um fato novo o personagem Candide disparava um conjunto de três ou quatro perguntas a quem estivesse por perto.