:: 18/out/2016 . 22:03
NO CALDEIRÃO DOS FESTIVAIS DA MPB
macariojeremias@yahoo.com.br
Não consigo entender até hoje como shows musicais de cultura de massa passaram a ser enquadrados como festivais que na década de 60, mesmo sob o encalço feroz da ditadura civil-militar, revelaram grandes artistas de renome nacional e internacional, cujas canções se tornaram eternas. Foi uma época de ouro da música popular brasileira em plena efervescência cultural, com direito a torcidas aguerridas, vais e aplausos como se estivessem em jogo seus clubes num estádio de futebol.
Os festivais da MPB nasceram em 1960 com as TVs Record, Excelsior e o Globo em parceria com o Estado da Guanabara (os FICs) com formato de concursos entre intérpretes, cantores, letristas e compositores sob o olhar competente de um júri que indicava as melhores obras das centenas e milhares que se inscreviam no certame. Foram 12 anos, de 1960 a 1972, que geraram inesquecíveis canções de críticas, protestos e sobre a realidade da vida e da sociedade.
O mundo dos festivais foi documentado em filmes, prosas e livros. Muitos dos seus personagens criadores foram presos, torturados e exilados pela fúria opressora do regime ditatorial. É um capítulo da nossa história que deve ser conhecido pelas gerações de jovens que hoje são triturados pela cultura de massa nominada de forma deturpada de festivais.
Mesmo sabendo que serei contestado em minha posição, atrevo-me a falar um pouco sobre os festivais da MPB e os clássicos musicais que marcaram e ainda marcam nossas vidas. Estas relíquias preciosas foram registradas em velhos vinis chamados de “bolachões” que os guardo e conservo até hoje em meu espaço cultural com muito carinho.
As músicas vencedoras dos festivais marcaram o sucesso nas carreiras de grandes poetas e artistas brasileiros como Geraldo Vandré (o Bob Dylan nordestino), Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Jobim, Venicius de Morais, Baden Powell, Edu Lobo, Marcos Valle e tantos outros, cujas canções até hoje arrastam públicos, inclusive de jovens.
O primeiro evento teve a iniciativa da TV Record, em 1960, coordenado por Theófilo de Barros, sendo vencedora a música Pescador, de Newton Mendonça. Os festivais se tornaram também espaço de promoção para Jair Rodrigues, Nara Leão, Paulinho da Viola, Francis Hime, Adilson Godoy, Elis Regina, Gutemberg Guarabyra, Cynara, Cybele, Gal Costa e um monte de sucessos nos anos seguintes.
Com criação de Solano Ribeiro, inspirado no Festival de San Remo (Itália), a TV Excelsior fez o seu 1º Festival Nacional da MPB, em março de 1965, no Cine Astória (Rio de Janeiro) e contou com a música Sonho de Carnaval (Chico Buarque – 20 anos) interpretada por Geraldo Vandré que também concorreu com Hora de Lutar. Estes dois titãs da música popular foram os reis dos festivais da época.
- 1












