:: ago/2016
OS MAIORES PECADOS DAS OLIMPÍADAS
De Jeremias Macário e Carlos Gonzalez
As competições das olimpíadas estão chegando à reta final e, mais uma vez, me atrevo aqui a apontar os maiores pecados do evento, mesmo sabendo que a grande maioria vai opinar que tudo foi muito lindo e maravilhoso. Para começar, daria nota zero para o comportamento da torcida brasileira que em muitas ocasiões demonstrou total falta de educação, vaiando em momentos em que o atleta precisaria (caso do francês no pulo com vara) de concentração para exibir sua modalidade.
O francês ficou chocado com o que viu e, no calor do momento deu uma declaração até infeliz comparando aquilo que viu com os jogos de 1936 na Alemanha nazista, mas numa coisa ele tem razão: Esse tipo de coisa passa uma imagem negativa do país. Até a delegação argentina foi vaiada na abertura solene das Olimpíadas. Os atletas da ginástica, do tênis, da natação e do atletismo ficaram sem entender a atitude dos torcedores. As arenas mais pareciam estádios de futebol em final de campeonato.
A mídia esportiva, caso das emissoras abertas de televisão, especialmente a Globo, foi descompensada e esqueceu do jornalismo para fazer dramaturgia, como bem analisou o jornalista Ricardo Feltrin. Galvão e sua equipe foram exagerados na espetacularização se limitando ao oba-oba nas entrevistas na base da “emoção” e da “superação”. Alguns fatos negativos foram registrados de forma superficial. Nada sobre o legado dos elefantes brancos. Os outros canais apenas copiam. A cobertura esportiva continua longe do jornalismo e bem próxima do sensacionalismo. Os apresentadores parecem vampiros quando um atleta se destaca.
Nas modalidades em que o Brasil esteve representado, o apresentador fez mais o papel de torcedor barulhento do que comentarista esportivo ou narrador. Confesso que fiquei horrorizado com a narração de uma partida de handebol onde o cara (Escobar) gritava, berrava e mandava o jogador tomar a posição mais adequada no campo, como lançar a bola e marcar. Nem o técnico ousou fazer aquele estardalhaço. Assim não dá para assistir a uma competição.
Para este artigo sobre as maiores falhas das Olimpíadas Rio 2016, contamos com a prestimosa colaboração do companheiro jornalista Carlos Gonzalez que ficou durante todo o tempo de olho no que se passava nas disputas. Li um comentário do Ricardo Feltrin onde afirma que a cobertura esportiva é um novo carnaval de textos piegas.
BEM APOIADOS FINANCEIRAMENTE
COMENTÁRIO do jornalista Carlos Gonzalez
Muito bom seu comentário sobre a frustrante Olimpíada do Rio. Gostaria de fazer uma retificação: José Marin, ex-presidente da CBF, foi preso na Suíça e vive sob vigilância da justiça norte-americana num apartamento em Nova Iorque. O atual presidente da entidade é o Marco Polo del Nero, que não coloca o pé fora do Rio com receio de ser preso.
Na minha opinião os atletas brasileiros hoje estão bem apoiados financeiramente. Contam com a ajuda das estatais (BB, CEF, Petrobras, BNDES, Embratel, Correios etc); com programas do Ministério dos Esportes, como Bolsa Atleta e Bolsa Pódio (o canoísta de Ubaitaba, Isaquias Queiroz, recebe 15 mil reais por mês; com engajamento de oito anos nas Forças Armadas – soldados, cabos e sargentos recebendo mensalmente até 3,5 mil reais líquidos; o COB promete uma gratificação de 35 mil reais ao atleta que subir no pódio, independente da cor da medalha; a CBF vai dar um “bicho” de cerca de 400 mil reais; empresas privadas também têm colaborado, como o Bradesco.
O COB prevê que o Brasil ficará entre os dez melhores classificados. Acho difícil. Hoje é o vigésimo.
Há um outro lado dos jogos que a televisão não mostra: Torcedores brasileiros e argentinos estão na iminência de deflagrar uma guerra. Atos provocativos estão acontecendo nas arenas esportivas através de cânticos, vaias e brigas, apartadas pela Força Nacional. Assisti à partida de rugbi entre os dois países onde só não teve mortes. O torcedor brasileiro, em sua maioria desprovido de cultura, espectador da Globo, responsável no passado por essa rivalidade entre brasileiros e argentinos, chamando os hermanos de violentos e catimbeiros. Interessante é que o brasileiro quando pensa em viajar para o exterior a primeira cidade que lhe vem a mente é Buenos Aires.
Há outro fato que nossas autoridades responsáveis pela segurança dos Jogos não estão dando a devida atenção: três balas perdidas, atiradas das favelas cariocas, foram se alojar em complexos esportivos. Felizmente, ninguém foi atingido.
Nota do autor: São tantos corruptos no Brasil que, às vezes, troco os nomes deles. Desculpem os leitores. O acertado é que ambos são sujos, não cabendo nem direito de resposta, conforme reza a lei de imprensa, ou o código penal.
Quanto a esta rivalidade com os hermanos argentinos, trata-se de coisa bairrista de subdesenvolvidos, mesmo por que os dois países não são exemplos a serem seguidos na política, na economia e quanto mais nos esportes. Os dois andam caiando das pernas. É um roto falando do esfarrapado. Pode ser aqui também aplicado aquele ditado popular de que, “quem tem telhado de vidro não joga pedra no do vizinho”.
É muito lamentável o comportamento dos torcedores brasileiros. Como é só decepção com a maioria dos atletas brasileiros, exemplos da natação e da ginástica, os torcedores resolveram fazer barulho e aplaudir com gritos os representantes mais fortes de outros países, como Estados Unidos, caso do Phelps. Desculpa sem cabimento esta da mídia dizer que as equipes brasileiras são ainda de jovens. Esta não dá para engolir mesmo!
O OUTRO LADO FRUSTRANTE DAS OLIMPÍADAS
A princípio imaginei escrever sobre a necessidade de criação de uma política municipal própria para a nossa cultura (temos apenas ações pontuais em Vitória da Conquista), mas como os jogos olímpicos são coqueluche do momento, arrisco-me dar meus “pitacos”, sabendo que serei apedrejado porque a maioria prefere não ver o outro lado do espetáculo.
Continuamos com o fardo do complexo de “vira lata”, ou de inferioridade, como falava Nelson Rodrigues, não por culpa dos nossos atletas. Os comportamentos, os fracassos e atitudes estranhas anti-olímpicas são reflexos dos despreparos, da incompetência e dos desvios de caráter dos dirigentes que conduzem o processo.
Para não ser extenso vou citar apenas dois “expoentes” dos esportes brasileiros. O presidente da Confederação Brasileira de Futebol-CBF, o José Maria Marim, está tão comprometido com as investigações sobre irregularidades no âmbito da entidade e da FIFA que não pode nem viajar para o exterior porque pode ser preso. O outro é o Carlos Arthur Nuzman, o imperador ditador-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro-COB, há mais de 20 anos no poder.
O ditador do COB foi acusado desde 2007, ano do Pan-Americano do Rio, de desvio de recursos públicos e de falta de transparência de suas gestões. O orçamento para o Pan sofreu um acréscimo de 1.000%. O legado deixado pelo evento: autódromo demolido e estádio Nílton Santos sem condições hoje de ser utilizado.
Agora vamos direto ao que sempre acontece e está acontecendo nos gramados e nas Olimpíadas Rio 2016. Primeiro, o evento é só para turista empolgado ver. Aliás, o estrangeiro não conhece o Brasil real, principalmente depois que as forças armadas saírem do Rio e os bandidos voltarem aos seus postos de violência, tráfico e assassinatos.
Os nossos atletas, com raras exceções, não contam com o devido apoio do Estado em termos de formação física, técnica e psicológica, dai os vexames comportamentais dentro das linhas de combate. Fiquei horrorizado com a atitude de um judoca que ao perder se negou a cumprimentar seu adversário, respondendo com gestos agressivos.
No polo aquático vi também a imagem de uma menina socando a cabeça de uma italiana durante uma partida. No futebol, o capitão Neymar mais parece um menino birrento que se irrita com o outro porque o cara tomou o seu brinquedo e melou sua jogada individual. É bom que se diga que nesta fase os jogadores brasileiros só são cordiais quando vencem.
O PONTO DA QUESTÃO
ESPAÇOS VAZIOS
Em termos da grandiosidade da nossa história, a abertura das Olimpíadas do Rio 2016 foi muito econômica e deixou espaços vazios importantes que marcaram nossa trajetória nestes 516 anos na economia, na política e na cultura do nosso povo. Muito bonito o início, mas o avanço nas apresentações deixou uma enorme lacuna na história que, infelizmente, deixou de ser registrada.
Dos indígenas até a chegada dos portugueses e depois dos escravos africanos fomos diretos para a vinda dos comerciantes árabes e a imigração japonesa. Do campo às selvas de pedras (construção de edifícios), a aviação com Santo Dumont e algumas expressões da musicalidade com o samba, o maracatu o bumba meu boi e o funk. Esquecemos de Villa Lobos e Carlos Gomes (O Guarany).
Nada foi apresentado sobre os ciclos econômicos do Pau Brasil, dos Engenhos da Cana de Açúcar, da Mineração, do Café, da Borracha e da industrialização siderúrgica. Nem mesmo a implantação da Petrobrás. Na política nada sobre os períodos colonial, do Império e da República, registrando aí os principais governos dos diversos regimes, inclusive da ditadura militar, para nunca mais ser repetida. Mais uma vez, ficamos sem figurar a memória.
Na cultura, ato falho nas manifestações populares regionais como o forró com Luiz Gonzaga (Nordeste praticamente esquecido), os gaúchos do sul, o centro oeste e o norte. Foi uma abertura pobre e econômica. Fatos fundamentais deixaram de ser narrados. Nem precisava entrar em minucias.
PRAÇAS FANTASMAS
Com mais de 350 mil habitantes, Vitória da Conquista só tem uma praça urbanizada e conservada que é a Praça Tancredo Neves, antiga das Borboletas e da República (não sei o porquê de tirar o nome original). As outras não têm vida e mais parecem fantasmas de tão pouca frequência dos seus moradores. Para fazer um lazer e relaxar, as crianças, os jovens e os idosos são obrigados a se deslocarem de pontos diferentes e distantes.
A Praça do Gil, que já foi ponto de encontro movimentado de Conquista está conservada, mas precisa de uma requalificação e melhor aproveitamento. A Gerson Sales, no Alto Maron, é a mesma coisa e ainda é mais necessitada de obras de requalificação, tanto quanto a Sá Nunes, em frente do Clube Social. As da zona oeste, no Bairro Brasil (Carvão, Cajado) e outras estão abandonadas. Precisamos ter mais áreas de lazer e de convivência.
Praça Sá Nunes
OLÍVIA FLORES
Conquista , além de ser uma cidade ingrata com as pessoas que prestaram e ainda prestam relevantes serviços, é uma cidade excludente onde existe um individualismo arraigado. Por que todos os eventos da cidade, principalmente nas áreas de lazer e entretenimento, têm que ser realizados na Olívia Flores, em Candeias, um bairro de elite? Por que também não formar locais de lazer na zona oeste com fechamento de ruas para a prática de esportes e outras atividades? É por que o rio só corre para o mar? O que quero dizer é que outros bairros da cidade precisam ser urbanizados e requalificados para que seus moradores sejam beneficiados. Não é fácil uma pessoa sair da Vila Serrana para participar de um evento na Olívia Flores.
UMA POLÍTICA CULTURAL PRÓPRIA
O novo prefeito de Vitória da Conquista, em comunhão com a Câmara de Vereadores (pouca coisa vai mudar), precisa tratar a cultura com mais carinho e zelo que merece (não só Natal e São João) e apressar a criação de uma política própria para este setor, para não ficar dependendo o tempo todo dos escassos recursos do estado e do governo federal. Por que não ter seu próprio fundo cultural com abertura de concursos, feiras de livros, salões de artes plásticas, abertura de editais e lançamentos de prêmios para obras e expressões artísticas? A prefeitura, em parceria com a iniciativa privada local (renúncia fiscal), poderia abrir prêmios para literatura, fotografia, teatro, dança e outras linguagens culturais. Não podemos mais ficar dependentes dos outros poderes. Temos que fazer nossa própria política.
“CAMINHOS DO SUDOESTE”
Vou falar aqui de uma reivindicação que já dura mais de 20 anos e lembro muito bem quando ainda era gerente da Sucursal do jornal A Tarde. O pedido dos moradores é o recapeamento de 52 quilômetros da BA 262 (Poções, Nova Canaã- Iguaí- Ibicuí) e construção de uma estrada de 42 quilômetros ligando Iguaí a Dário Meira. Somente em Iguaí existem duas mil nascentes e 180 cachoeiras e cascatas, um rico patrimônio natural turístico. Estas estradas chamadas de “Caminhos do Sudoeste” dão acesso a Vitória da Conquista e como estão abandonadas têm provocado incalculáveis prejuízos para a economia de toda região.
“PALAVRAS CRUZADAS”
Uma história real “de algum lugar das selvas da Amazônia” com boas pitadas de ficção e uma linguagem seca e concisa de frases curtas. Assim acontece o desaparecimento de um guerrilheiro do Araguaia na obra “Palavras Cruzadas”, da escritora Guiomar de Grammont.
A realidade romanceada se passa durante o regime militar brasileiro através de documentos e livros como “Operação Araguaia – os arquivos secretos da guerrilha”, dos autores Tais Morais e Eumano Silva.
Como bem comentou o jornalista e escritor Laurentino Gomes, “o enredo trata da luta da jornalista Sofia em busca do paradeiro do irmão Leonardo desaparecido nas selvas do Araguaia”… Em sua observação sobre os desvios de memória do Brasil, Laurentino diz que, ao contrário de outros países vizinhos, o nosso tem demonstrado enorme dificuldade em esclarecer os casos de tortura, prisões e assassinatos da época da ditadura.
Sobre a questão, ele cita reflexões do filósofo francês Paul Ricoeur de que o esquecimento imposto pela anistia induz a uma espécie de amnésia coletiva que impede a revisão do passado. Destaca que o Brasil é um país que por medo das verdades escondidas no passado tenta cicatrizar à força feridas ainda recentes.
O tema sobre a Guerrilha do Araguaia é impactante e até irracional entre as ambas as partes, mas a autora do livro faz uma narrativa poética e telúrica do local, ao ponto de prender o leitor que termina se adentrando pela selva ao lado dos combatentes.
Ela coloca você para conhecer aquela gente humilde; participar dos treinamentos; e ensina como conviver com a floresta e dela tirar o sustento para sobreviver, principalmente, nas lutas e nas fugas.
O diário do guerrilheiro em fuga se cruza com o da sua amada que ficou grávida na selva no desenrolar da leitura dos relatos da jornalista Sofia que luta desesperadamente para encontrar seu irmão desaparecido. O personagem em fuga ensina como encontrar jabutis depois de uma chuva. Eles aparecem debaixo de um cajueiro. A vida requer perícias, como caçar macacos para fazer uma refeição, sem o cozimento.
Sobre os vaga-lumes, era como se as estrelas descessem para brincar conosco – narra o guerrilheiro, lembrando da sua amada. “Dormi repisando na memória a canção do Guerrilheiro do Araguaia”.
Pela floresta Amazônica você vai entrando em contato com seus moradores, como o jacu, o pé de cupuaçu, os ovos de azulão, o palmito, o açaí, os pés de cacau, o carumbé, o sucuri, a anta, o veado, a nhambu e ainda aprende a fazer picadas nas matas com o facão.
Quando o diário do guerrilheiro se encontra com o da guerrilheira amada, o leitor vai percebendo tratar-se do irmão e cunhada da jornalista Sofia. A procura é desesperada para desvendar a verdadeira linha da história.
A obra é envolvente até o seu final quando Sofia se depara com a verdade e sua família entra em conflito existencial de ter que conviver com a realidade mórbida de não puder fazer o enterro do seu ente querido. O ritual da morte não é consumado.
“Imagino te encontrar vagando no escuro dos metrôs, esfomeado e sem emprego. Sem documentos, em algum país onde será sempre estrangeiro. Errante, com medo de voltar e não encontrar o que deixou. Abro a porta do quarto, uma lufada de vento varre o aposento eternamente arrumado para sua chegada”.
São visões constantes de uma família de um morto desaparecido, como em Antígona, de Sófocles: “Seu irmão jazia insepulto; ela não quis que ele fosse espedaçado pelos cães famintos ou pelas aves carniceiras”, citação da abertura do livro “Palavras Cruzadas”.
A CARTA OLÍMPICA FOI RASGADA
Carlos González – jornalista
A Carta Olímpica, datada de setembro de 2013, é uma espécie de código dos princípios fundamentais em que deveriam ser fundamentados os Jogos Olímpicos, idealizados pelo francês Pierre de Coubertin (1863-1937). Uma das regras de conduta básica do documento deixa claro que o maior evento esportivo mundial não deve ser manchado pelo profissionalismo e pela política. Ao longo do último século esses preceitos desapareceram: o amadorismo sucumbiu após 1980; Adolf Hitler utilizou os Jogos de 1936, em Berlim, como propaganda do nazismo.
No Brasil, os governos petistas copiaram as políticas para o esporte adotadas pela Rússia (anteriormente, pela extinta União Soviética), por Cuba e pela ex-Alemanha Oriental, investindo maciçamente em atletas de ponta, através dos Ministérios do Esporte e da Defesa, abandonando quase que completamente o programa de construção de equipamentos esportivos nas escolas públicas e em espaços de uso comum nas periferias das grandes cidades.
Censurada pelos opositores aos regimes socialistas, a divulgação internacional dos seus valores por meio da prática esportiva colocou Cuba no 22º lugar no ranking do Comitê Olímpico Internacional (COI), com 209 medalhas, muito a frente dos demais países da América Latina. O Brasil ocupa uma modesta 37ª colocação, com 108 medalhas, com apenas 23 de ouro, graças à vela, judô e vôlei.
Melhorar essa posição é um sonho dos dirigentes petistas, hoje afastados do poder, e das autoridades esportivas, incluindo o eterno presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e dos presidentes de confederações. Com esse objetivo, na década passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “dobrou” os delegados da FIFA e do COI, trazendo para o Brasil a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
A primeira iniciativa esbarrou nos 7 a 1 aplicados pela Alemanha.
UMA OLIMPÍADA DE INCERTEZAS
Carlos González – jornalista
“O Brasil vive um momento mágico, com uma economia pujante. Damos todas as garantias possíveis para os Jogos. Aprendemos a cumprir nossos compromissos, porque precisamos mostrar ao mundo que o Brasil se tornou uma nação desenvolvida”. Essas palavras foram ditas, com um entusiasmo incontido, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Copenhague, na Dinamarca, no dia 2 de outubro de 2009, após o Comitê Olímpico Internacional (COI) ter anunciado a escolha do Rio de Janeiro como sede dos XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Quase nove anos depois o mundo olímpico encara os Jogos que serão disputados este mês com um misto de incertezas e preocupações. O Brasil vive uma crise econômica, política e social sem precedentes, obrigando o COI e suas federações filiadas a mudar os seus planos, inclusive em relação ao futuro, a fim de não cometer o erro de 2009, quando indicaram o Rio, em detrimento de Madrid, Tóquio e Chicago.
Um país com dois presidentes, com o processo de impeachment de um deles em tramitação no Senado; políticos, empresários e governantes citados diariamente pela imprensa, acusados de corrupção em operações do Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário; casos de doenças como a zika e a dengue, que levaram muitos atletas a não vir ao Brasil; denúncias de desvio de recursos destinados à construção dos equipamentos esportivos e às obras de mobilização urbana; ingressos para as competições encalhados devido aos altos preços; as populações mais pobres protestando contra os bilhões gastos no Rio, exigindo escolas, saúde e segurança, em várias cidades por onde passou a tocha olímpica.
“A ESCOLA PÚBLICA É UM ESCÂNDALO”
Um corpo é docente, mas está “doente”. O outro é discente, mas indisciplinado e indiferente. Ao ler uma entrevista do português educador Antônio da Névoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa, não poderia deixar de selecionar alguns trechos de muita reflexão sobre o sistema educacional brasileiro.
Para começar, Névoa é enfático e direto quando diz que “a nossa escola pública é um escândalo.” Digo mais, se me permite o professor, que a escola que temos, lamentavelmente, é uma calamidade pública e uma máquina de fazer políticos, incompetentes, despreparados e corruptos.
Em sua entrevista aponta como exemplos bem sucedidos de ensino no mundo a Suécia e a Finlândia. Como principais problemas da nossa educação ele cita a falta de compromisso social e político com a educação de qualidade e a formação de professores.
A aprendizagem, em sua opinião, deve ser o foco, mas no Brasil os professores trabalham em várias escolas. Indagado sobre está situação em outros países, afirmou que nunca encontrou exemplos semelhantes no mundo. As mudanças, na sua avaliação, não vão aparecer por conta de teorias pedagógicas, programas educativos e leis.
Destaca, em sua entrevista, que o ensino tem que transmitir para o aluno um sentido para sua vida. A aprendizagem tem que passar um significado para que o aluno tenha prazer em estudar. Nesse ponto, concordo que as aulas, no geral, são enfadonhas, metódicas e longe da realidade da vida.
A LUZ DE D. PAULO EVARISTO ARNS
(Colaboração de Lídia Rodrigues)
Tudo era cinzento naquele ambiente politicamente viciado do início dos anos 70. Desde a implantação do Ato Institucional nº 5, vivíamos sob uma guerra surda e suja, em que nosso lado era vítima de “tiroteios” onde só o inimigo atirava e só a nossa turma morria.
Por Haroldo Lima*, especial para o Vermelho
As casas onde residíamos, os “aparelhos” onde escondíamos gráficas e outros pertences “estouravam” como eles diziam, e na seqüência companheiros “desapareciam”. Sabíamos que foram mortos ou estavam nos suplícios das torturas.
As torturas passaram a ser o tratamento rotineiro que era dado aos que faziam oposição ao regime ditatorial e que eram presos. O povo vivia atemorizado, amordaçado, encurralado, arrochado. Como diria o Chico Buarque, “falando de lado e olhando pro chão”.
E tinha a turma que resistia, apesar disso e por isso mesmo. A natureza humana é assim. Se tem os covardes que tremem quando os blindados ocupam as esplanadas, tem os que se decidem mais ainda a tirá-los de lá, de qualquer jeito, custando o que custar. Estes lutam com diversas armas, mas a principal é sua vontade e determinação.

















