:: 19/ago/2016 . 22:58
NOTAS SOBRE AS OLIMPÍADAS – II
Jornalista Carlos Gonzalez
- Dois atletas baianos ganharam as primeiras medalhas de ouro para o Brasil nos Jogos Rio2016, o pugilista Robson Conceição e o canoísta Izaquias Queiroz, que também faturou um bronze. Ambos têm suas raízes em comunidades pobres. Natural de Ubaitaba, no sul do estado, Izaquias perdeu um rim em consequência de uma queda. Robson é o autêntico boxeador brasileiro, com uma baixa instrução. Empolgado com a conquista, hoje o ídolo de Boa Vista de São Caetano não se separa da medalha um só instante. Exigiu festa, mocotó no jantar e desfile em carro do Corpo de Bombeiros na chegada a Salvador. “Baiano já faz festa, mesmo sem motivo”, comentou o jornalista Ricardo Boechat, no jornal que apresenta na Bandnews.
- O clima provocado pelos torcedores no Engenhão durante a disputa final do salto com vara para homens foi comparado pelo atleta francês e recordista mundial, Renaud Lavillenie, ao do estádio olímpico de Berlim, por ocasião dos Jogos de 1936. Há 80 anos, o negro norte-americano Jesse Owens conquistou, debaixo de vaias, quatro medalhas de ouro, derrubando com a concepção nazista da superioridade ariana, pregada por Adolf Hitler, que se recusou a apertar a mão do vencedor. Os apupos nas competições da Rio2016 têm sido uma tônica, condenada pelo COI e pela imprensa internacional. Lavillenie atribuiu as manifestações da torcida à perda da medalha de ouro para o brasileiro Thiago Braz da Silva. O técnico francês Philippe d’ Encausse foi mais adiante, sugerindo que o paulista de Marília tinha feito um pacto com forças sobrenaturais, místicas, provavelmente do candomblé; que o Brasil é um país bizarro, que estava passando uma péssima imagem dos Jogos; e que a torcida se comportava como se estivesse num campo de futebol.
OS MAIORES PECADOS DAS OLIMPÍADAS
De Jeremias Macário e Carlos Gonzalez
As competições das olimpíadas estão chegando à reta final e, mais uma vez, me atrevo aqui a apontar os maiores pecados do evento, mesmo sabendo que a grande maioria vai opinar que tudo foi muito lindo e maravilhoso. Para começar, daria nota zero para o comportamento da torcida brasileira que em muitas ocasiões demonstrou total falta de educação, vaiando em momentos em que o atleta precisaria (caso do francês no pulo com vara) de concentração para exibir sua modalidade.
O francês ficou chocado com o que viu e, no calor do momento deu uma declaração até infeliz comparando aquilo que viu com os jogos de 1936 na Alemanha nazista, mas numa coisa ele tem razão: Esse tipo de coisa passa uma imagem negativa do país. Até a delegação argentina foi vaiada na abertura solene das Olimpíadas. Os atletas da ginástica, do tênis, da natação e do atletismo ficaram sem entender a atitude dos torcedores. As arenas mais pareciam estádios de futebol em final de campeonato.
A mídia esportiva, caso das emissoras abertas de televisão, especialmente a Globo, foi descompensada e esqueceu do jornalismo para fazer dramaturgia, como bem analisou o jornalista Ricardo Feltrin. Galvão e sua equipe foram exagerados na espetacularização se limitando ao oba-oba nas entrevistas na base da “emoção” e da “superação”. Alguns fatos negativos foram registrados de forma superficial. Nada sobre o legado dos elefantes brancos. Os outros canais apenas copiam. A cobertura esportiva continua longe do jornalismo e bem próxima do sensacionalismo. Os apresentadores parecem vampiros quando um atleta se destaca.
Nas modalidades em que o Brasil esteve representado, o apresentador fez mais o papel de torcedor barulhento do que comentarista esportivo ou narrador. Confesso que fiquei horrorizado com a narração de uma partida de handebol onde o cara (Escobar) gritava, berrava e mandava o jogador tomar a posição mais adequada no campo, como lançar a bola e marcar. Nem o técnico ousou fazer aquele estardalhaço. Assim não dá para assistir a uma competição.
Para este artigo sobre as maiores falhas das Olimpíadas Rio 2016, contamos com a prestimosa colaboração do companheiro jornalista Carlos Gonzalez que ficou durante todo o tempo de olho no que se passava nas disputas. Li um comentário do Ricardo Feltrin onde afirma que a cobertura esportiva é um novo carnaval de textos piegas.
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