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:: 7/ago/2016 . 20:40

O PONTO DA QUESTÃO

ESPAÇOS VAZIOS

Em termos da grandiosidade da nossa história, a abertura das Olimpíadas do Rio 2016 foi muito econômica e deixou espaços vazios importantes que marcaram nossa trajetória nestes 516 anos na economia, na política e na cultura do nosso povo. Muito bonito o início, mas o avanço nas apresentações deixou uma enorme lacuna na história que, infelizmente, deixou de ser registrada.

Dos indígenas até a chegada dos portugueses e depois dos escravos africanos fomos diretos para a vinda dos comerciantes árabes e a imigração japonesa. Do campo às selvas de pedras (construção de edifícios), a aviação com Santo Dumont e algumas expressões da musicalidade com o samba, o maracatu o bumba meu boi e o funk. Esquecemos de Villa Lobos e Carlos Gomes (O Guarany).

Nada foi apresentado sobre os ciclos econômicos do Pau Brasil, dos Engenhos da Cana de Açúcar, da Mineração, do Café, da Borracha e da industrialização siderúrgica. Nem mesmo a implantação da Petrobrás. Na política nada sobre os períodos colonial, do Império e da República, registrando aí os principais governos dos diversos regimes, inclusive da ditadura militar, para nunca mais ser repetida. Mais uma vez, ficamos sem figurar a memória.

Na cultura, ato falho nas manifestações populares regionais como o forró com Luiz Gonzaga (Nordeste praticamente esquecido), os gaúchos do sul, o centro oeste e o norte. Foi uma abertura pobre e econômica. Fatos fundamentais deixaram de ser narrados. Nem precisava entrar em minucias.

PRAÇAS FANTASMAS

Praça do GilPRAÇAS E ESTRADAS 026

Com mais de 350 mil habitantes, Vitória da Conquista só tem uma praça urbanizada e conservada que é a Praça Tancredo Neves, antiga das Borboletas e da República (não sei o porquê de tirar o nome original). As outras não têm vida e mais parecem fantasmas de tão pouca frequência dos seus moradores. Para fazer um lazer e relaxar, as crianças, os jovens e os idosos são obrigados a se deslocarem de pontos diferentes e distantes.

Praça Gerson SallesPRAÇAS E ESTRADAS 030

A Praça do Gil, que já foi ponto de encontro movimentado de Conquista está conservada, mas precisa de uma requalificação e melhor aproveitamento. A Gerson Sales, no Alto Maron, é a mesma coisa e ainda é mais necessitada de obras de requalificação, tanto quanto a Sá Nunes, em frente do Clube Social. As da zona oeste, no Bairro Brasil (Carvão, Cajado) e outras estão abandonadas. Precisamos ter mais áreas de lazer e de convivência.

Praça Sá Nunes

PRAÇAS E ESTRADAS 038

 

Praça Tancredo NevesPRAÇAS E ESTRADAS 044

OLÍVIA FLORES

Conquista , além de ser uma cidade ingrata com as pessoas que prestaram e ainda prestam relevantes serviços, é uma cidade excludente onde existe um individualismo arraigado. Por que todos os eventos da cidade, principalmente nas áreas de lazer e entretenimento, têm que ser realizados na Olívia Flores, em Candeias, um bairro de elite? Por que também não formar locais de lazer na zona oeste com fechamento de ruas para a prática de esportes e outras atividades? É por que o rio só corre para o mar? O que quero dizer é que outros bairros da cidade precisam ser urbanizados e requalificados para que seus moradores sejam beneficiados. Não é fácil uma pessoa sair da Vila Serrana para participar de um evento na Olívia Flores.

PRAÇAS E ESTRADAS 003

UMA POLÍTICA CULTURAL PRÓPRIA

O novo prefeito de Vitória da Conquista, em comunhão com a Câmara de Vereadores (pouca coisa vai mudar), precisa tratar a cultura com mais carinho e zelo que merece (não só Natal e São João) e apressar a criação de uma política própria para este setor, para não ficar dependendo o tempo todo dos escassos recursos do estado e do governo federal. Por que não ter seu próprio fundo cultural com abertura de concursos, feiras de livros, salões de artes plásticas, abertura de editais e lançamentos de prêmios para obras e expressões artísticas? A prefeitura, em parceria com a iniciativa privada local (renúncia fiscal), poderia abrir prêmios para literatura, fotografia, teatro, dança e outras linguagens culturais. Não podemos mais ficar dependentes dos outros poderes. Temos que fazer nossa própria política.

“CAMINHOS DO SUDOESTE”

PRAÇAS E ESTRADAS 019

Vou falar aqui de uma reivindicação que já dura mais de 20 anos e lembro muito bem quando ainda era gerente da Sucursal do jornal A Tarde. O pedido dos moradores é o recapeamento de 52 quilômetros da BA 262 (Poções, Nova Canaã- Iguaí- Ibicuí) e construção de uma estrada de 42 quilômetros ligando Iguaí a Dário Meira. Somente em Iguaí existem duas mil nascentes e 180 cachoeiras e cascatas, um rico patrimônio natural turístico. Estas estradas chamadas de “Caminhos do Sudoeste” dão acesso a Vitória da Conquista e como estão abandonadas têm provocado incalculáveis prejuízos para a economia de toda região.

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“PALAVRAS CRUZADAS”

Uma história real “de algum lugar das selvas da Amazônia” com boas pitadas de ficção e uma linguagem seca e concisa de frases curtas. Assim acontece o desaparecimento de um guerrilheiro do Araguaia na obra “Palavras Cruzadas”, da escritora Guiomar de Grammont.

A realidade romanceada se passa durante o regime militar brasileiro através de documentos e livros como “Operação Araguaia – os arquivos secretos da guerrilha”, dos autores Tais Morais e Eumano Silva.

Como bem comentou o jornalista e escritor Laurentino Gomes, “o enredo trata da luta da jornalista Sofia em busca do paradeiro do irmão Leonardo desaparecido nas selvas do Araguaia”… Em sua observação sobre os desvios de memória do Brasil, Laurentino diz que, ao contrário de outros países vizinhos, o nosso tem demonstrado enorme dificuldade em esclarecer os casos de tortura, prisões e assassinatos da época da ditadura.

PRAÇAS E ESTRADAS 022

Sobre a questão, ele cita reflexões do filósofo francês Paul Ricoeur de que o esquecimento imposto pela anistia induz a uma espécie de amnésia coletiva que impede a revisão do passado. Destaca que o Brasil é um país que por medo das verdades escondidas no passado tenta cicatrizar à força feridas ainda recentes.

O tema sobre a Guerrilha do Araguaia é impactante e até irracional entre as ambas as partes, mas a autora do livro faz uma narrativa poética e telúrica do local, ao ponto de prender o leitor que termina se adentrando pela selva ao lado dos combatentes.

Ela coloca você para conhecer aquela gente humilde; participar dos treinamentos; e ensina como conviver com a floresta e dela tirar o sustento para sobreviver, principalmente, nas lutas e nas fugas.

O diário do guerrilheiro em fuga se cruza com o da sua amada que ficou grávida na selva no desenrolar da leitura dos relatos da jornalista Sofia que luta desesperadamente para encontrar seu irmão desaparecido. O personagem em fuga ensina como encontrar jabutis depois de uma chuva. Eles aparecem debaixo de um cajueiro. A vida requer perícias, como caçar macacos para fazer uma refeição, sem o cozimento.

Sobre os vaga-lumes, era como se as estrelas descessem para brincar conosco – narra o guerrilheiro, lembrando da sua amada. “Dormi repisando na memória a canção do Guerrilheiro do Araguaia”.

Pela floresta Amazônica você vai entrando em contato com seus moradores, como o jacu, o pé de cupuaçu, os ovos de azulão, o palmito, o açaí, os pés de cacau, o carumbé, o sucuri, a anta, o veado, a nhambu e ainda aprende a fazer picadas nas matas com o facão.

Quando o diário do guerrilheiro se encontra com o da guerrilheira amada, o leitor vai percebendo tratar-se do irmão e cunhada da jornalista Sofia. A procura é desesperada para desvendar a verdadeira linha da história.

A obra é envolvente até o seu final quando Sofia se depara com a verdade e sua família entra em conflito existencial de ter que conviver com a realidade mórbida de não puder fazer o enterro do seu ente querido. O ritual da morte não é consumado.

“Imagino te encontrar vagando no escuro dos metrôs, esfomeado e sem emprego. Sem documentos, em algum país onde será sempre estrangeiro. Errante, com medo de voltar e não encontrar o que deixou. Abro a porta do quarto, uma lufada de vento varre o aposento eternamente arrumado para sua chegada”.

São visões constantes de uma família de um morto desaparecido, como em Antígona, de Sófocles: “Seu irmão jazia insepulto; ela não quis que ele fosse espedaçado pelos cães famintos ou pelas aves carniceiras”, citação da abertura do livro “Palavras Cruzadas”.

 





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