:: 22/mar/2016 . 23:24
CARTA DO BRASIL AOS PODERES
Tem gente na minha terra fazendo cartas de amor, sentimentais, de lamúrias, de cobranças de cargos, do toma lá e dá cá e do tipo mais recente do morde e assopra. A minha é de desabafo aos poderes que há 516 anos, desde que aqui aportou a nau Cabral nas minhas costas, só têm me maltratado, me traído e me deixado cada vez mais acabrunhado. Vivo acossado por tantos impropérios contra meu solo, usado para plantar espinhos.
Dizem que sou um gigante pela própria natureza, deitado eternamente em berço esplêndido. Não tão mais esplêndido porque minha terra foi devassada por ervas daninhas que destroem as plantações. Mata-me cada vez mais a sequidão de ideias. Procuro uma cabeça pensante e sensata que pense em mim, mas cada um só pensa em si e prefere viver na contramão para cevar o seu poder.
É, moço aí que aprecia minha paisagem, já me chamaram de Vera Cruz, Pau Brasil, Eldorado das minas gerais, de terra da cana-de-açúcar, do café, da borracha e do ouro negro extraído do meu chão! Vieram malfeitores assassinos e tudo roubaram de mim em nome dos meus filhos que tanto necessitavam para viver dignamente.
Hoje me chamam de outros nomes pejorativos e lá fora me conhecem como a terra dos índios e das feras perigosas. De bela e rica, minha imagem passou a ser a pior possível. Por lá me apelidaram de terra de caloteiros. Não sei se choro ou rezo quando dizem que Deus é brasileiro!
No meu torrão os genocidas se tornaram heróis. Os réus fazem parte de uma condenação. O farsante retorna aos braços de seus inimigos de ontem. Acham normais grosserias de um senhor chulo que se comporta como monarca. Aqui se usa o dinheiro público e o poder de coação para engrossar manifestações em favor de si. Trancam e soltam pautas de julgamento de acordo com a conveniência de cada um. Todos se juntam para esfaquear a verdade pelas costas.
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