Vitória da Conquista é hoje uma cidade de economia pujante postada numa encruzilha entre o Sul e o Nordeste, carente de grandes projetos de infraestrutura, que tem muitas histórias, estórias e causos pra contar desde a vila dos coronéis até os tempos atuais do “Senadinho” que funciona em tempo integral de dois turnos ali na praça Barão do Rio Branco, diferente do nosso Congresso Nacional que só abre três dias por semana para infernizar a vida dos mortais.

No outro quarteirão temos a Câmara Municipal de Vereadores, na rua Coronel Gugé, que faz duas sessões por semana e dá muitas moções de aplausos; realiza inúmeras indicações e sessões especiais; delimita o lote eleitoral de cada um; e vez por outra tasca pauladas na nossa língua portuguesa entre suas 21 excelências. Logo mais vão dizer que precisamos de mais alcaides para melhor representar nossa querida terrinha.

Luxo mesmo é o “Senadinho” que tem duas bancadas, uma ao lado da Loja Insinuante pela manhã e outra ao lado do Banco do Nordeste pela tarde e já teve personalidades importantes que lá iam para avaliar seu peso político e trocar algumas ideias de mudanças para a cidade. Sempre na sombra, não gasta energia elétrica, água, equipamentos e materiais, nem tem funcionários marajás.  O “Senadinho” é nosso e poderia ser tombado como patrimônio imaterial.

No embalo das fofocas da vida alheia de quem tem dinheiro e os que vivem só de aparência, quem se separou e corneou quem, numa conversa e outra sobre política local, baiana e brasileira, rola uma agiotagezinha dentro daquelas bolsas que ninguém é besta e de ferro pra ficar parado. Ora, os bancos também ao lado são agiotas! Só acho que o “Senadinho” está precisando de uma renovação de sangue novo como se diz por aí. Temos um Senadinho também no “Beco da Tesoura”, mas a bancada é bem menor.

Depois desse “blábláblá”, queria dizer que a terra não é só rica no café, no comércio e na educação. Somos imbatíveis também na boataria, no arquivo de processos de crimes insolúveis e temos um patrimônio folclórico sem igual, com personalidades pra lá de inusitadas. Semana passada mataram meu amigo e companheiro fotógrafo José Silva. Quem me deu a primeira notícia, com ar de riso, foi meu xará técnico das máquinas das lentes.

Imediatamente liguei pra Zé para me certificar se ele estava falando como vivo ou morto, daqui mesmo ou do além. Aproveitei para sugerir que mudasse seu nome de José Silva para Aristófones Nicodemus Bacomeu e nos avisasse antes de partir.

Ainda esta semana correu a “notícia” por aí, ou boato mesmo, de que também meu amigo José Carlos D´Almeida viajou para a Síria onde está fazendo as últimas tomadas e fleches do Estado Islâmico. Liguei para seu celular e sempre interrompido pelo pipoco das bombas.

A coisa anda feia, meu amigo, e não é só com a economia e a política do nosso Brasil de Dilma e Eduardo Cunha com sua cara de pau, ou de hiena. Um conhecido meu me contou nesta semana que anda tão atordoado com tudo que está acontecendo que vestiu uma bermuda, uma camisa listrada, calçou um sapato e foi parar num motel.

Saiu de lá calçado com as sandálias havaianas do banho. Quando chegou em casa a mulher aos berros indagou o que houve e exigiu que se explicasse, só que ele nem tinha notado. Quando caiu a ficha, o bicho pegou feio, meu camarada! Mas ele, que sempre foi de bom papo, disse que havia sido assaltado. Mas não lhe levaram a carteira com o dinheiro? O resto que se sucedeu fica por sua conta.

A geração mais antiga já ouviu falar do Beco do Gemedor, das travessuras de Maneco e Galego com Pau de Pilhéria e o Jegue Gay, dos causos do puteiro Maga-Sapo, do Cabaré do Capitão, Maria Peito de Aço, Rosa Bigode, da Rainha Sabina de Ouro, de Manoel Inhô Sim, Catueira, Candeão e lendas desta cidade que já foi abrigo de tropeiros e cresceu como capital do frio e das flores.

Os jovens de hoje vieram das fuzarcas barulhentas dos sons altos e bebedeiras da praça do ‘Gil”. Atormentaram o sono dos moradores locais. Essa turma embarcou nos bares da vida que se mudaram para avenida Olívia Flores e agora estão com outros meninos e meninas mais novos nos botecos infernais das imediações do Boca de Forno, mais uma vez desassossegando a vizinhança que quer dormir.

Sem moralismo, confesso que fiquei horrorizado com a mistura banalizante e aberta de drogas e bebedeiras, sem contar a zoeira infernal de sons alienígenas e alienantes. A polícia passa, mas nada faz porque sabe que ali tem filhos de poderosos e é melhor fazer vistas grossas para não receber a “carteirada”, conforme comentou o dono de um restaurante local.

Moradores dos prédios vizinhos já apelaram para o Ministério Público e outros órgãos do poder municipal, mas tudo continua no mesmo. Esses rodízios barulhentos na cidade, que se movem de um local para outro, parecem uma combinação entre os donos de bares que estabelecem o modismo para atrair e fisgar a juventude oca dos tempos atuais. Também, não temos outras opções culturais!