O CAMPEÃO FALIDO
Carlos González – jornalista
Faltando apenas quatro rodadas para o término do Campeonato Brasileiro da série A, não restam dúvidas de que o título irá para o Corinthians. É apenas uma questão de uma ou duas semanas, tempo suficiente para que seus torcedores fiquem curados da frustração provocada pelo Atlético Mineiro, na vitória de 1 a 0, no último minuto da partida contra o Figueirense, no instante que alguns membros da Gaviões da Fiel já ocupavam a Avenida Paulista, em São. Paulo, com a finalidade de comemorar e, possivelmente, vandalizar.
O Corinthians foi, sem dúvida, a melhor equipe, num campeonato tecnicamente sofrível. Num período de crise econômica, com o brasileiro riscando o lazer do seu orçamento doméstico, o torcedor do alvinegro paulista prestigiou os jogos do seu time, vencendo grandes distâncias até o Itaquerão, ou viajando para outras cidades. Vale ressaltar que o clube mais endividado do país foi beneficiado pelas arbitragens, cujos erros deixaram de ser apontados por uma parcela considerável da imprensa paulistana, que não esconde seus sentimentos.
Com uma dívida que beira R$ 1 bilhão, o Corinthians, se pudesse, trocaria o troféu de campeão brasileiro por alguns milhões de reais para poder saldar seus inúmeros compromissos financeiros. Incentivado pelo seu torcedor nº 1, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com empréstimos tomados ao BNDES e aos bancos do Brasil e Santander, o clube, por vaidade, viu tornar-se realidade o sonho de um estádio só seu, que serviu de sede para o jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014. O Morumbi, o mais acessível estádio de São Paulo, foi vetado pelo governo federal e pela FIFA, que receberam a opinião parcial do corintiano Lula.
Se a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, sancionada em julho deste ano pela presidente Dilma Rousseff, for efetivamente cumprida, o Corinthians estará passível de ser rebaixado de categoria (o Elche, na Espanha, teve que desembolsar R$ 15 milhões, arrecadado junto a empresários, para não cair da segunda para a terceira divisão). O Timão espera receber uma ajuda de R$ 350 milhões da prefeitura de São Paulo, que tem compromissos mais importantes com uma numerosa comunidade, onde não existem só corintianos; deve somas altíssimas a bancos, à Construtora Odebrecht (quase R$ 300 milhões); R$ 17 milhões a jogadores, incluindo R$ 6 milhões a Pato, e ao técnico Mano Menezes.
Valorizar os jogadores que daqui a alguns dias vão colocar faixa de campeões brasileiros, para repassá-los ao mercado europeu, faz parte dos planos da diretoria do Corinthians, a fim de amenizar a crise. Esse projeto tem o apoio da CBF, principalmente do técnico Dunga. Segundo o senador Romário de Souza Freitas (PR-RJ), Dunga só divulga a lista dos convocados para a Seleção Brasileira, depois de ouvir seu assessor, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi, que foi agenciador de jogadores e outros empresários do mercado. Anotem: na lista dos listados para as partidas contra Argentina e Peru, pelas Eliminatórias para o Mundial de 2018, tem quatro corintianos (Renato Augusto, Elias, Cássio e Gil). O amarelo da camisa da Seleção não é ouro, mas pode atrair dólares e euros.
Dunga esperneou, os cabelos ficaram mais eriçados, ameaçou processar o senador e declarou que nunca foi amigo nem precisou do “Baixinho”. Jogador estilo “bucutu”,que visava mais as canelas dos adversários do que a bola, Dunga esqueceu que deve o tetra mundial de 1994 aos gols marcados pela dupla Romário-Bebeto, e à manobra articulada nos bastidores para afastar a Argentina do páreo, acusando Maradona de usuário de drogas proibidas.
Os clubes da elite do futebol brasileiro iniciaram esta semana um movimento de protesto contra a política discriminatória imposta pela Rede Globo, responsável até 2020 pelos direitos de transmissão dos jogos do Brasileirão. Querem receber o mesmo valor, a título de direito de arena, que a emissora paga a Corinthians e Flamengo. Como necessita muito de grana o clube paulista já procurou a Globo para receber adiantado o que tem direito até 2020. Sua diretoria foi surpreendida com a demissão de Marcelo Campos Pinto, o “Senhor Globo Esporte”, homem forte da empresa, que trabalhava em silêncio, despachando inclusive numa sala na CBF.