Por mais que intelectuais e estudiosos torçam a cara considerando o termo ultrapassado, os Estados Unidos, pelo que já fez desde o século XIX até os tempos atuais para estender seu domínio político e econômico sobre outros povos, continuam sendo um país imperialista e arrogante, tudo com o fim de impor sua doutrina de democracia exemplar única que deve ser seguida como padrão por todos.

Seus governantes e seguidores do conservadorismo não têm moral para cobrar democracia, liberdade e humanismo. O livro “Formação do Império Americano – da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque”, do baiano Luiz Alberto Moniz Bandeira, que já foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, no ano passado, com a obra “O Feudo”, deve ser lido e compreendido como os Estados Unidos saíram pelo planeta subjugando nações, cometendo atrocidades, massacres e crimes de guerra.

Mesmo assim, os responsáveis nunca sentaram como réus num Tribunal Internacional para serem julgados pelos seus atos de tortura, matanças e terrorismo de Estado, inclusive contra milhares de civis inocentes. O trabalho aprofundado de Moniz Bandeira que está adoentado e mora na Alemanha, foi traduzido para o chinês e começa citando o filósofo Friedrich Engels.

Ao descrever suas origens, em comparação com a Rússia, de caráter comunista primitivo, Engels assinalou que os Estados Unidos foram, desde sua formação, “um país moderno, burguês, fundado por pequenos burgueses e camponeses, que haviam fugido do feudalismo europeu, para criar uma sociedade puramente burguesa”.

A guerra pela independência das treze colônias desdobrou na América a Revolução Inglesa de 1648, conforme relata o autor do livro. Para os Estados Unidos foram os elementos mais radicais do exército de Oliver Cromwell, os puritanos, quacres da Inglaterra, menonitas da Alemanha, calvinistas holandeses e protestantes refugiados de quase todos os países da Europa onde ocorriam as lutas religiosas que acabaram com o feudalismo.

A Revolução Americana (guerra da independência, de 1776-1783) foi concluída com a Guerra da Secessão (1861-1865). O país se desenvolveu com a construção das estradas de ferro, no que o Brasil poderia ter tomado como exemplo. Em 1860, a rede ferroviária alcançava 50 mil quilômetros, passando a 85 mil dez anos depois e a 150 mil em 1880.

Já naquela época, Karl Marx considerava que não era a Inglaterra, mas a América do Norte que mostrava o futuro da Alemanha, que anos depois era seu maior rival, especialmente em termos de mercado. Como destaca Bandeira em seu livro, a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em virtude do enfraquecimento da França e da Grã-Bretanha, os Estados Unidos começam a emergir como potência hegemônica “e consolidaram sua posição com a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)”.

A partir deste período, os Estados Unidos modelaram o sistema econômico internacional, de acordo com seus interesses e princípios, sob a égide do Banco Mundial e do FMI. Passaram, então, a impor suas ideias de liberalismo econômico, como livre circulação de bens e capitais, câmbio livre e comércio multilateral.

De volta ao passado para situar como os Estados Unidos começaram a se tornar potência hegemônica imperialista, Moniz Bandeira fala da Guerra da Secessão em que Abraham Lincoln exerceu seus poderes de guerra e paz como nunca antes ocorrera. Proclamou a lei marcial por trás das linhas de frente; mandou prender pessoas sem autorização da justiça; e confiscou propriedades.

Nascia ali o militarismo, transformando a guerra numa necessidade da grande indústria, cujo mercado se encontrava na demanda de material bélico pelo Estado. Em 1898, com o presidente William McKinley (1897-1901), os Estados Unidos assumiram a posição de país imperialista ao entrar na guerra contra a Espanha, sob o pretexto de defender Cuba, mas com objetivo de conquistar o Caribe e o Pacífico.

A própria Constituição norte-americana, no seu artigo 2º, coloca o presidente com os mesmos poderes de um rei. O próprio George Washington gostava de usar a palavra “império” e se sentia orgulhoso do Império Britânico. Evitava apertar as mãos das pessoas que o cumprimentavam com ligeira inclinação da cabeça. Conforme definiram vários analistas políticos, o que se implantou nos EUA foi uma “republique impériale”.

Mais adiante, Luiz Bandeira destaca as ligações perigosas dos presidentes, a exemplo de Kennedy com a máfia, “daí sempre atribuir-se a falhas dos serviços de inteligência a responsabilidade por acontecimentos como o bombardeio de Pearl Harbor e os atentados de 11 de setembro de 2001”. O Congresso sempre foi induzido e provocado para aprovar declarações de guerra, como foi o caso contra o México (1846-1848) que culminou com a conquista da Califórnia. O presidente James Polk, em 1846, ordenou que o general Zachary Taylor atravessasse o Nueces River, no Texas, e invadisse seu território na direção do Rio Grande.

A investida sobre a Amazônia brasileira e outros acontecimentos de intervenção dos Estados Unidos que abalaram o mundo serão tratados  na nossa próxima conversa que teremos com o escritor baiano Luiz Alberto Muniz Bandeira em “A Formação do Império Americano”.