Coletânea organizada por Afonso Félix de Sousa, com apresentação do escritor baiano Jorge Amado (4ª edição – Editora Record), “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, é uma leitura que descontrai, principalmente nesses tempos tão sisudos em que atravessamos, recheados de notícias pesadas de corrupção e golpes. É bom entrar no túnel do tempo.

Em uma dessas espiadas no meu Acervo Cultural, lá encontrei esta pérola sobre o Barão de Itararé, ou Apparício Torelly, “o gaúcho que desaguou na cidade do Rio de Janeiro na maré cheia da Revolução de 30” – como bem relata seu amigo de toda vida, Jorge Amado. O moço boêmio abandonou o curso de medicina para exercer o jornalismo, com pseudônimo de Apporelly, fazendo, com seu estilo humorístico, o país rir.

Como diretor, redigiu sozinho o semanário “A Manha”. Na década de 40, como disse Jorge Amado, não houve no Brasil escritor mais lido e admirado do que o humorista cujo riso, ao mesmo tempo bonachão e ferino, fazia crítica aguda e mordaz da sociedade brasileira e lutava pelas causas populares. Era uma espécie de Dom Quixote nacional, malandro e gozador contra as mazelas e os malfeitos.

A batalha de Itararé, tão falada nos jornais, como escreveu o poeta Murilo Mendes, nunca houve, mas dela emergiu a figura do Barão de Itararé. Dele, conforme ressalta o escritor baiano, nasceram os atuais humoristas brasileiros, os que desenham, os que escrevem e desenham. “Dele nasceram Stanislaw Ponte Preta e o Analista de Bagé” Após sua morte, em 1971, os generais da ditadura se encarregaram de silenciar a figura do Barão de Itararé.

Do livro extrai este paralelo sobre seu pensamento: Espírito positivo, como pensador, o Barão de Itararé revela-se superior a Augusto Comte, o chefe do positivismo.

Senão vejamos algumas tiradas do filósofo de Montpelier e os conceitos de Itararé sobre o mesmo tema: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos” – dizia Comte. Itararé não se conforma e responde: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mais vivos”.

“Viver para Outrem”, aconselha o fundador da Religião da Humanidade. “Viver para o trem” – é o que recomenda Itararé, numa mensagem dirigida aos ferroviários. O Marquês de Maricá afirmava que “mais vale um pássaro na mão que dois voando”. Itararé já pensa que “mais valem dois galos no terreiro que um na testa”.

O Barão, entre outras peripécias, descobriu que o limão não é limão, mas uma laranja que sofre do estômago. São seus prolongados sofrimentos que o deixam amarelo. O limão é, portanto, uma laranja com azia.

Outras tiradas dele: Cada Jânio com sua mania. De onde menos se espera, daí é que não sai nada. Quanto mais conheço os homens, mais gosto das mulheres. Deus dá peneira a quem não tem farinha. Deus dá pente a quem não tem cabelo. Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes. Quem empresta, adeus. Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

São muitas sobre pobres, conselho médico, os raios X, a profecia da feiticeira e tantas para relaxar. Essa é do “Milagre Não Vale”! Levi morre. Levi chega ao céu e se apresenta diante de São Pedro.

-Eu quero entrar! – exclama.

-Impossível, Levi. Tua folha corrida acusa um vício feio: “jogador”.

-É certo, Pedro. Mas tu és misericordioso. Vamos jogar o meu lugar na Glória, na carta maior. Se eu ganhar, entro. Se perder, vou para o inferno.

– Está bem, disse Pedro, rindo.

Um anjo leva-lhes um baralho de matéria plástica. Um baralha, o outro corta. Pedro vai agarrar as cartas, mas Levi o detém, advertindo-o:

– Pode dar… mas milagre não vale, hein, velhinho!