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:: 21/ago/2015 . 23:42

MÁXIMAS E MÍNIMAS DO BARÃO DE ITARARÉ

Coletânea organizada por Afonso Félix de Sousa, com apresentação do escritor baiano Jorge Amado (4ª edição – Editora Record), “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, é uma leitura que descontrai, principalmente nesses tempos tão sisudos em que atravessamos, recheados de notícias pesadas de corrupção e golpes. É bom entrar no túnel do tempo.

Em uma dessas espiadas no meu Acervo Cultural, lá encontrei esta pérola sobre o Barão de Itararé, ou Apparício Torelly, “o gaúcho que desaguou na cidade do Rio de Janeiro na maré cheia da Revolução de 30” – como bem relata seu amigo de toda vida, Jorge Amado. O moço boêmio abandonou o curso de medicina para exercer o jornalismo, com pseudônimo de Apporelly, fazendo, com seu estilo humorístico, o país rir.

Como diretor, redigiu sozinho o semanário “A Manha”. Na década de 40, como disse Jorge Amado, não houve no Brasil escritor mais lido e admirado do que o humorista cujo riso, ao mesmo tempo bonachão e ferino, fazia crítica aguda e mordaz da sociedade brasileira e lutava pelas causas populares. Era uma espécie de Dom Quixote nacional, malandro e gozador contra as mazelas e os malfeitos.

A batalha de Itararé, tão falada nos jornais, como escreveu o poeta Murilo Mendes, nunca houve, mas dela emergiu a figura do Barão de Itararé. Dele, conforme ressalta o escritor baiano, nasceram os atuais humoristas brasileiros, os que desenham, os que escrevem e desenham. “Dele nasceram Stanislaw Ponte Preta e o Analista de Bagé” Após sua morte, em 1971, os generais da ditadura se encarregaram de silenciar a figura do Barão de Itararé.

Do livro extrai este paralelo sobre seu pensamento: Espírito positivo, como pensador, o Barão de Itararé revela-se superior a Augusto Comte, o chefe do positivismo.

Senão vejamos algumas tiradas do filósofo de Montpelier e os conceitos de Itararé sobre o mesmo tema: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos” – dizia Comte. Itararé não se conforma e responde: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mais vivos”.

“Viver para Outrem”, aconselha o fundador da Religião da Humanidade. “Viver para o trem” – é o que recomenda Itararé, numa mensagem dirigida aos ferroviários. O Marquês de Maricá afirmava que “mais vale um pássaro na mão que dois voando”. Itararé já pensa que “mais valem dois galos no terreiro que um na testa”.

O Barão, entre outras peripécias, descobriu que o limão não é limão, mas uma laranja que sofre do estômago. São seus prolongados sofrimentos que o deixam amarelo. O limão é, portanto, uma laranja com azia.

Outras tiradas dele: Cada Jânio com sua mania. De onde menos se espera, daí é que não sai nada. Quanto mais conheço os homens, mais gosto das mulheres. Deus dá peneira a quem não tem farinha. Deus dá pente a quem não tem cabelo. Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes. Quem empresta, adeus. Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

São muitas sobre pobres, conselho médico, os raios X, a profecia da feiticeira e tantas para relaxar. Essa é do “Milagre Não Vale”! Levi morre. Levi chega ao céu e se apresenta diante de São Pedro.

-Eu quero entrar! – exclama.

-Impossível, Levi. Tua folha corrida acusa um vício feio: “jogador”.

-É certo, Pedro. Mas tu és misericordioso. Vamos jogar o meu lugar na Glória, na carta maior. Se eu ganhar, entro. Se perder, vou para o inferno.

– Está bem, disse Pedro, rindo.

Um anjo leva-lhes um baralho de matéria plástica. Um baralha, o outro corta. Pedro vai agarrar as cartas, mas Levi o detém, advertindo-o:

– Pode dar… mas milagre não vale, hein, velhinho!

O ESTICA-ESTICA

Uma pede a saída de Dilma, Lula e o presidente do Senado Renan Calheiros, mas apoia o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A outra grita fora Cunha e fica Dilma e Lula. O Renan e o Fernando Collor são poupados. É o estica-estica das manifestações com pouco pensar e reflexão.

Uma não pensa no vácuo de poder com o afastamento da presidente e até pede intervenção militar, seguindo os passos de Bolsonaro e outros oportunistas. A outra coloca o boneco de Cunha como presidiário, mas esquece os denunciados e condenados do PT que estão envolvidos nas corrupções do Mensalão e da Operação Lava Jato.

Os dois lados combatem a roubalheira, eximindo ou perdoando, no entanto, aquele que faz parte do seu grupo. Em cada movimento, um porta-voz do governo solta uma nota de que os protestos fazem parte do processo democrático. Disso todos estão carecas de saber. Acontece que não basta só isso. Algo sério e concreto tem que ser feito pelos três poderes.

Como cego em tiroteio, Dilma se agarra aos conselhos do feiticeiro, que já perdeu seu poder de cura, e sai por aí inaugurando casas e falando coisas sem fazer um mea culpa de seus erros. A turma do deixa disso, como “reservas morais”, parte para um acordão e o povo inculto fica a latir como cão vira lata. Ocorre que os dois lados têm telhado de vidro.

O país não pode ser tratado como se fosse um cabo de guerra, ou um puxa-puxa de brincadeira de menino, com torcidas alopradas entre azuis e vermelhos que acobertam seus ladrões e corruptos dependendo das conveniências particulares de cada um, sem se preocupar com a coletividade. Desmoralizado, o Congresso segue defendendo seu quinhão.

Ainda nesta semana, os maiorais patronais do ramo empresarial nacional se reuniram numa cúpula e apresentaram medidas para tirar o Brasil desse atoleiro, só que não se viu uma linha em defesa da democracia e repulsa a qualquer tipo de retrocesso político. Não entendi o que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) estava fazendo ali entre os patrões.

O cenário é perturbador e lembra muitos fatos passados que terminaram em desagradáveis episódios para a nação. Os personagens parecem ser os mesmos como se estivessem saindo do túnel do tempo, e não se pode dizer que a situação é bem diferente. O país sangra e o governo fica atordoado sendo jogado de um lado para o outro.

 





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